16. Dedos entrelaçados

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"Eu quero preencher a lacuna entre seus dedos com os meus."

Jahanvi Gupta

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Eu, um pano de prato, alguns talheres molhados para enxugar e Harvey lavando a louça.

Quem me visse assim, todo entretido em fazer os deveres de casa, acreditaria que eu realmente era um grande pai de família. No entanto, com toda a certeza, não teria ideia do que se passa em meus pensamentos.

Porque o que realmente se passava em minha cabeça, como se quisesse gritar isso aos quatro ventos, era: Alguém me tira daqui? Eu imploro. Por favor... Odeio lavar a louça!

Por que Harvey não deixou Lily enxugar a louça, já que ela mesma havia se oferecido para isso?

Inferno!

Por mais que estivesse distraído, capturei a imagem de Harvey enxugando as mãos em um pano de prato jogado em cima da mesa e distraidamente indo até o pequeno rádio perto da geladeira e que por ele ecoava uma música de alguém que eu não me recordava.

— De quem é essa música? Eu conheço, mas--

— Celine Dion.

— Ah sim... Eu sabia que conhecia essa voz.

Harvey começou a cantar exageradamente alto e revirei os olhos para isso, apesar dele não cantar tão mal. Afinal, ele tem um bom timbre.

— Vamos lá, amor.

— O que? — questionei confuso. — Eu não vou cantar. Pode esquecer.

— Ah, não seja chato.

Cantou outra vez a plenos pulmões, levantando as mãos para o alto, e depois me dando uma cutucada na cintura para continuar. Neguei com um aceno e ele fez que sim com a cabeça, afirmando que eu acabaria cantando por bem ou por mal.

Tive de revirar os olhos novamente, porém dessa vez foi para mim mesmo ao me ver querendo ceder ao pedido de Harvey.

Mas é claro que eu só estava querendo fazer para que ele parasse de encher minha paciência.

Sussurrei a continuação de forma envergonhada e quis enterrar minha cabeça no chão igual a um avestruz.

Que constrangedor.

Harvey fez a voz de fundo e sorriu de forma satisfeita, com todos os seus dentes aparecendo e com suas malditas covinhas acenando para mim. Enquanto esfregava um prato, Harvey finalizou a frase e me olhou em expectativa.

Resolvi entrar na onda de vez, pois a música acabou por me contagiar. Comecei tímido, mas acabei me vendo em uma situação na qual estávamos cantando em uníssono e rindo logo depois. Perto do final da música, cantamos juntos e, no segundo seguinte, Harvey colou seus lábios nos meus para um selinho que fez meu corpo se derreter.

E se eu beijar você assim — Harvey sussurrou entre meus lábios e me beijou outra vez, fazendo-me fechar os olhos lentamente e retribuir com deleite para os lábios carnudos.

Depois de alguns segundos, afastou-se um pouco de mim e roçou seu nariz no meu, sorrindo em seguida e me fazendo desejar sorrir também.

— Papais... — Lily apareceu chorando na porta da cozinha, com seus olhos repletos de lágrimas e seu lábio inferior tremendo tristonho. — A Sirene pegou a Dora... Ela pegou a Dora. — A criança chorou ainda mais e enxugou um pouco de suas lágrimas com as costas da mão que estava fechada em punho. — Ela vai machucar minha boneca.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora