20. Querer ficar

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"Eu costumava acreditar no para sempre, mas o para sempre é muito bom para ser de verdade."

A. A. Milne

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Com Jamie e Lily sentados ao meu lado na véspera de Natal, comecei a contar uma história de um livro de conto de fadas a eles. Jamie se encontrava com a cabeça e o corpinho apoiados em minha cintura, babando como sempre, batendo palminhas de vez em quando, com os olhos muito bem abertos, vestindo uma roupa vermelha e verde de lã e um gorro das mesmas cores com uma bolinha preta no topo.

Enquanto eu narrava, o bebê volta e meia exclamava e dava risada dele mesmo e às vezes segurava minha mão e acompanhava meu dedo na medida em que eu deslizava pela página. Já Lily vestia uma roupa vermelha, rosa e com detalhes brancos, seus cabelos estavam presos em uma trança delicada que Harvey mesmo tinha feito e ela havia se abraçado a meu braço de um modo que eu achava impossível de me livrar de seu aperto.

— A bruxa má jogou um feitiço na agulha e... CABUM! A pobre burrinha da princesa, assim como todos aqueles péssimos personagens da história, teve de permanecer dormindo para sempre. — E é claro que eu não estava seguindo o script da obra, mas para as crianças pouco importava, pois elas riam de qualquer maneira. Apenas Harvey que, mesmo de longe e entretido com a história de seu padrasto, me lançava um olhar de sobrancelhas franzidas, porém logo seus traços suavizavam e ele abria um sorriso a mim. — Agora vem cá — comecei divagando após analisar criticamente a história. — Quem é que levou a princesa para uma cama toda bela e maravilhosa, para esperar o beijo do príncipe, sendo que ela havia caído em um sono profundo no chão, assim como todos do castelo. Jamie, me explica essa...

Olhei para o bebê, que me olhou confuso e sério por um momento.

Ga-da-di-du-de-gue-ga-gui — ele balbuciou, fazendo pequenos gestos com sua mão gordinha, e eu descartei com a minha mão.

— Não existiam robôs naquela época, Jamie, por favor...

Lily deu risada.

— Papai, Jamie não falou nada com nada. Ele não sabe falar ainda. Ele só fica ga-ga-gui-du-di...

— Ah é, espertinha. Então me diga você... Como que a princesa foi parar naquela cama para esperar o príncipe? — questionei e ela parou para analisar um pouco, colocando o indicador no queixo e deixando seus olhos vagarem distraidamente pelos móveis.

— Simples! Ela sonâmbuloba, papai.

— Sonâm o que?

Sonâmbuloba — Lily repetiu seriamente e com convicção.

— Como é que você conseguiu deixar a palavra ainda mais difícil? É sonâmbula. Repete comigo... So-nâm-bu-la.

So-nâm-bu-ba.

— Não, não, amor — esse apelido já escapava tanto por meus lábios que eu nem mais tinha tempo para pensar em querer revirar os olhos. O pior é quando isso acontecia com Harvey. Quando acontecia, eu desejava estapear a minha própria cara. — Oh... So-nâm-bu-la.

— So-nâm-... Bu-la. Sonâmbula.

— Isso aí! Acertou — falei contente e ela sorriu grande. — Agora você Jamie... O-to-rri-no-la-rin-go-lo-gis-ta. Otorrinolaringologista. Vai!

Mas Jamie apenas riu da minha cara, aquele projetinho de Harvey George.

— Ótimo! Pode rir... Eu só irei ensinar gramática para Lily a partir de hoje. — Fingi sustentar uma carranca e o bebê, me ignorando completamente, deu uma leve risada. Além disso, ficou sorrindo e babando um pouco e se apoiou inteiramente em meu braço, pressionando sua bochecha em meu peito e permanecendo com o rosto redondinho. Na verdade, eu até poderia dizer que ele estava fofo.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora