29. Quebrando regras

140 21 22
                                    

"A vida é curta, quebre as regras. Esqueça rápido. Beije lentamente. Ame verdadeiramente. Ria descontroladamente e nunca se arrependa de nada que o faça sorrir."

Mark Twain

**

O telefone tocou uma, duas, três vezes, e nesse meio tempo acreditei que meu coração poderia sair pela boca de tão ansioso e nervoso que era o estado no qual eu me encontrava. Afinal, eu não sabia qual seria a reação de minha família após todos esses anos, porém decidi usar os segundos de coragem para fazer a ligação e não desistir.

Alô?Era a voz de minha mãe, não era? Eu tinha quase certeza de que era a voz de minha mãe, mesmo sem ouvi-la durante todo esse tempo. — Alô? — ela repetiu, sem parecer saber quem era, principalmente pelo fato de que eu havia mudado de número e por não ter ocorrido nenhuma identificação até aquele momento.

— Hm... Oi. — Tentei mostrar indiferença.

Olá. Quem é? — indagou educadamente sem ainda reconhecer quem era.

A vontade de desligar a ligação bateu à porta e senti vontade de deixá-la adentrar e se instalar de uma só vez.

Eu deveria desligar, não deveria? Eu sei que deveria. Sei disso!

Quem é? — repetiu e esperou por uma resposta de modo paciente.

Engoli em seco.

Aquilo era mais difícil do que eu costumava pensar em minhas horas vagas. Muito mais difícil.

O medo de que ela encerrasse a ligação assim que eu dissesse meu nome era maior do que a indiferença que eu sempre demonstrava toda vez que perguntavam sobre a minha família. No entanto, naquele momento as coisas eram completamente diferentes, principalmente depois de ter vivido em outra realidade — realidade alternativa esta que não passou de uma noite sequer nesta realidade na qual eu me encontrava e deveria pertencer.

— Sou eu, mãe... — Aquela palavra deixou um gosto amargo na boca. — Luc.

Pronto. Esse seria o momento em que ela desligaria em minha cara e mandaria eu não mais ligar para aquele número.

Eu poderia lidar com isso, eu poderia lidar com isso, eu poderia lidar com isso.

Eu poderia?

Luc? — ela perguntou e pareceu um pouco espantada. — Filho?

Certa raiva perfurou meus poros e tive de respirar fundo para controlá-la, pois meu objetivo não era deixar que a mágoa me inundasse. Eu desejava, queria realmente, uma aproximação e no momento a minha ira somente estragaria tudo.

— Sim, eu, hm, quis ligar e, bem, ver como estão--

Minhas mãos suavam. Minhas pernas tremiam. Eu tinha a sensação de que o ambiente estava quente demais para um dia como aquele. Minha mãe ficaria muito tempo sem dar uma resposta? Ou ela simplesmente iria desligar antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Nós estamos bem... Sim, nós estamos bem — disse de uma forma calma e delicada, até mesmo com um pouco de cuidado e gentileza. — E você? Como está? — Era nítida a cautela em cada sílaba que minha mãe pronunciava.

— Bem também. Eu, hm, arrumei um emprego — falei rapidamente e com certo constrangimento, não pelo fato de estar tendo de trabalhar, mas sim por estar conversando com alguém que há muito tempo eu não trocava uma palavra sequer.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora