Prólogo

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"E de repente a vida te vira do avesso e você descobre que o avesso é o seu lado certo."

Caio Fernando de Abreu

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Correndo pelo jardim da mansão onde acontecia a festa para a qual fui convidado, sentia-me como um espírito livre, como alguém que poderia conquistar tudo o que quisesse e ter tudo o que almejasse. As luzes agora distantes da casa iluminavam a noite na região e os pequenos pontos que brilhavam lá em cima decoravam o céu, trazendo uma sensação de conquista e de que tudo poderia ser facilmente alcançado.

E com sorriso no rosto e de braços abertos, senti o vento bater em meu corpo e ser deixado para trás. Meus pés calçando all-star preto de cano alto encontravam com o chão bem asfaltado e vez ou outra o barulho do atrito com as pequenas pedras no caminho podia ser ouvido.

Vestindo uma jaqueta verde-musgo com manchas de café e trajando uma calça jeans preta muito apertada, eu sabia que cada célula de meu corpo estava embriagada, até porque eu me sentia quente e minha visão estava levemente embaçada. No entanto, apesar do álcool em meu sangue, a consciência de minha realidade ainda se fazia presente.

Porque eu, Luc Christopher Thornton — nascido em uma cidadezinha do interior também conhecida como Doncaster —, poderia dizer que tinha uma vida de merda.

Uma vida incontestavelmente de merda.

E, como em todas as histórias sobre uma vida miserável, a minha não poderia ser diferente. Afinal, todos os empregos nos quais trabalhei durante minha vida forneciam um pagamento ruim devido, principalmente, ao baixo nível de escolaridade - ou seja, terminei o segundo grau e desisti de qualquer universidade, pois aquilo definitivamente não era para mim. Como se não bastasse, os chefes com quem tive de lidar foram extremamente sacanas, fazendo-me trabalhar incessantemente, sem folgas para o almoço e muito menos liberando os fins de semana.

Eu consigo me recordar muito bem da época em que tinha dez ou doze anos, mais ou menos, e trabalhava entregando jornais nas casas lindamente decoradas, com jardins floridos, carros belos na garagem, famílias muito bem vestidas e com bicicletas que eu sempre desejava ter, mas que nunca foi possível obter. Com o passar do tempo, no entanto, aquela realidade que eu apenas observava e não poderia alcançar começou a fazer parte de um doce sonho meu.

E para ser sincero, sempre fui um sonhador.

Não era apenas uma bicicleta que sempre desejei. Queria viajar pelo mundo e conhecer cada canto dele: Austrália, Bélgica, EUA, Arábia Saudita e entre outros países pelos quatro cantos do mundo. Queria ter um livro de viagens onde poderia guardar minhas recordações. Desejava imensamente ter dinheiro o suficiente, o meu dinheiro, para me hospedar em um hotel de luxo e admirar o pôr do sol enquanto bebia uma taça de champanhe na sacada com vista para o mar.

Não é tão ruim ser um pouco ganancioso, certo?

Porque se for, eu não me importarei nem um pouco. O que sempre quis, desde pequeno, foi ser rico o suficiente para não precisar me preocupar com despesas. Não sonho com um amor, como muitas pessoas o fazem, e nem com a profissão dos sonhos, afinal não me identifico com nada e não tenho talento para coisa alguma que as universidades possam oferecer.

Anseio por riqueza, status, poder e estabilidade econômica.

Desejo tudo aquilo que vejo nas festas que frequento, como aquela em que acabei de sair. E também desejo tudo aquilo que encontro em homens com quem passei apenas uma noite e desfrutei de todos os minutos que posso em suas imensas mansões. Anseio por mais presentes semelhantes aos quais tenho ganhado desses mesmos rapazes, como joias, carros, viagens de luxo e festas extravagantes.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora