35. Chá da tarde

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"É perigoso se apaixonar, mas eu quero queimar com você esta noite."

Sia, Fire Meet Gasoline

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Como em todas as vezes, minha cabeça latejou intensamente assim que acordei depois do despertador tocar e passei a ter de enfrentar a ressaca. Coloquei a palma de minha mão contra minha testa e tentei fazer a dor irritante parar, porém sem sucesso. Sirene se remexeu ao meu lado e, por incrível que possa parecer, soltou um ronco engraçado.

Arqueei meu corpo para levantar da cama e a sensação de dor foi pior que a anterior. Xinguei baixinho e, com os dedos apertando as têmporas, levantei de uma vez para não adiar o sofrimento. Enfim coloquei os pés no chão e tentei organizar meus pensamentos.

Eles definitivamente estavam um caos. Um completo caos.

Eu não lembrava de absolutamente nada do que tinha acontecido na noite anterior.

Pelo menos não naquele momento.

Meus pensamentos estavam tão em desordem que eu precisava de um tempo para assimilar o que tinha acontecido, pois eu não me recordava como tinha vindo parar em minha cama e como tinha achado a minha camiseta de time. Também não me lembrava como havia conseguido que aquela peça se tornasse tão impregnada com o cheiro de Harvey.

Bocejei uma vez e me espreguicei de forma preguiçosa, ouvindo em seguida o som de panelas na cozinha. Lembrei que era quarta-feira e que eu tinha de trabalhar, porém, se minha memória também não estivesse falhando, me recordei que nas quartas Harvey não trabalhava.

Meu coração pareceu parar de bater por alguns segundos e olhei para a porta em desespero ao lembrar que Harvey tinha saído com um cara que agora eu não lembrava o nome. Mesmo tonto e enjoado, querendo vomitar minha bile para fora, calcei meu chinelo de pano e dei passadas rápidas para fora do meu quarto. Assim que eu já estava no corredor, abri de uma só vez a porta do banheiro e conferi se não tinha ninguém ali. Em seguida, lancei um olhar para dentro do quarto de Harvey. A única coisa que se encontrava dentro do local era uma cama com lençóis extremamente bagunçados e os móveis de sempre.

Meu coração ainda estava em disparada quando entrei na cozinha.

Apenas Harvey estava ali.

Pelo que pude ver, ele resolveu não trazer seu encontro para dentro de nosso apartamento. Respirei alto e aliviado, colocando a mão sobre a boca em seguida pelo barulho alegre que deixei escapar.

Harvey virou o corpo assim que escutou o som. Estava vestindo apenas uma calça de moletom cinza. Seu peitoral, mesmo naquele frio congelante, estava descoberto por ele ter ligado o ar condicionado e deixado o ambiente quentinho. Em seu corpo, se encontravam gravadas as inúmeras tatuagens que eu tanto amava e o modo como seu peitoral era esculpido fez cada pelo de meu corpo se arrepiar. Como se não bastasse, Harvey ainda sorriu doce para mim e mostrou a frigideira onde estava preparando algo para que eu comesse.

— Você está me deixando mal acostumado — reclamei zonzo e coloquei a mão na cabeça. Resmunguei pela dor enquanto me sentia levemente irritado por minhas memórias não terem se organizado ainda.

Harvey sorriu ainda mais.

Aquela felicidade estava me deixando um pouco preocupado, pois um dia antes ele tinha saído com um colega idiota do trabalho e agora parecia ter dormido sobre nuvens. Eu estava meio desconfiado, meio contrariado, ranzinza demais devido à dor de cabeça e com o coração na mão sem saber como tinha sido a merda de seu encontro.

Eu esperava que tivesse sido uma merda.

— É só um café da manhã. — Harvey ainda estava sorrindo. Por que estava tão feliz afinal? — Acordei cedo e não fui para o trabalho. Posso até levar Sirene para passear pela manhã, se preferir.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora