Capítulo 62.

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27 de julho de 2005
Manama, Bahrein
Catalina Hernandez
04:15

"Your love is magical, that's how I feel
But I have not the words here to explain..."

Posso ouvir a voz distante de Michael, perfeitamente afinada, como sempre. Abro os olhos lentamente e posso ver a luz azulada do inicio da manhã entrar pela enorme janela de vidro. Me sento na cama e estico os braços, me espreguiçando e dando um bocejo grande e preguiçoso. Michael continua cantando e a minha curiosidade é acionada. Ele deveria estar dormindo a esse horário.

Me levanto e deixo o quarto, saindo no corredor escuro. A porta do quarto de Michael está entreaberta e eu caminho devagar até lá. Ao me aproximar, posso vê-lo de costas para a porta com Bigi em seu colo dormindo como um anjo lindo. 

Michael continua cantarolando Speechless calmamente, mas sensível como é, não demora para que ele perceba a minha presença e pause a sua cantoria, se virando para me encarar. É uma pena pois eu ficaria horas os assistindo daqui.

— Acordei você? — ele pergunta baixinho. — Me desculpe.

— Não se preocupe com isso. — respondo. — Está tudo bem?

— Sim, está. Estou tentando adaptar Bigi ao próprio quarto novamente, mas hoje não tive sucesso.  — ele me responde enquanto caminha em direção a cama. Posiciona um joelho no colchão e se curva, posicionando Bigi cautelosamente na cama. O pequeno se remexe um pouco e resmunga, mas logo volta a dormir quando o pai faz um carinho terno em sua barriga. 

— Ele voltou a dormir no mesmo quarto que você? — pergunto enquanto saímos do quarto tentando não fazer barulho.

— Depois do último episódio de febres constantes que ele teve, eu achei mais seguro que ele ficasse perto. — explica — Mas você o conhece, não é? Ele já está bem, mas agora acorda no meio da noite e chora até que eu o pegue no colo. — rimos juntos. Bigi é um bebê muito manhoso e aproveita qualquer oportunidade para estar no colo de quem ama.

Em silêncio nós caminhamos até a cozinha. Me sento no balcão enquanto Michael começa a preparar um chá. Ele pega duas xícaras grandes e as posiciona ao meu lado no balcão, eu observo milimetricamente cada movimento dele. A forma que ele caminha até a pia para apanhar a água com a chaleira, o movimento dos braços na sua clássica camiseta branca de gola V e a forma que as suas pernas longas ficam dentro da sua calça vermelha de pijama. É maravilhoso estar assim tão íntima dele. Me lembra de quando estávamos juntos e ele religiosamente preparava um café da manhã delicioso todos os sábados.

A chaleira faz um barulho alto indicando que água está na temperatura certa e ele se apressa para desligar o fogo. Com cuidado, ele adiciona a água nas duas xícaras e com um pano de prato ele abafa as duas. É um truque que ele inventou e diz que faz toda a diferença, mesmo que o gosto seja o mesmo usando o pano de prato ou não.

— Está bem quente. — ele avisa ao me entregar a xícara nas mãos, após alguns minutos.

— Obrigada. — agradeço e levo a xícara até a boca. O sabor naturalmente doce das framboesas junto ao sabor cítrico do morango é definitivamente a junção perfeita. Talvez o adocicado da bebida tenha mais a ver com o fato de ter sido preparado pelo homem que eu amo.

Em silêncio nós nos aquecemos com a bebida quente deliciosa. Nós não falamos sobre o momento que tivemos juntos ontem e eu não tocarei no assunto, embora queira muito que ele fale sobre, para que eu possa falar também.

— A conversa que tivemos ontem foi incrível para mim. — ele diz repentinamente, como se pudesse ouvir o que penso.

— Foi ótima para mim também. Acho que nós dois precisávamos disso. — eu disse e ele assentiu devagar com a cabeça.

Catalina Onde histórias criam vida. Descubra agora