Capítulo 52.

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19 de agosto de 2004
Santa Clarita, Califórnia

Catalina Hernandez
17:00

Michael se afastou rapidamente, como o diabo fugindo da cruz. Eu sei que deveria ter comentado sobre minha história com Pablo, mas eu não sei, acho que eu teria me sentido mais confortável em contar se Pablo realmente quisesse ser apenas meu amigo. Apesar de fingir que seus sentimentos por mim são apenas de amizade, eu sei que ele não superou totalmente. Longe de mim querer parecer prepotente ou algo do tipo, eu apenas não sou burra, percebo a forma que ele me olha.

Eu o adoro, ele é um ótimo amigo e foi um parceiro incrível enquanto estivemos juntos mas acabou. O que tivemos acabou há muito tempo. Agora eu estou noiva e com uma família incrível. Eu gostaria de poder me manter próxima dele mas não vejo outra alternativa que não seja me afastar, como tenho feito desde aquele beijo inconsequente naquela boate.

— Catalina, nós vamos pegar algo para beber. — meu pai chama a minha atenção. — Será que tem tequila? — ele diz a última frase quase que em um sussurro e eu rio.

— Você realmente acha que Cléo deixaria faltar tequila no próprio casamento, pai? Ela é sua filha! — digo óbvia, entre risadas. Abuela, minha mãe e Pablo riem junto. Meu pai adora tequila, eu até gosto de brincar dizendo que o que uniu ele e a mamãe foi a paixão pela tequila, já que minha mãe gosta bebidas calientes tanto quanto o meu pai.

— Você vem? — mamãe me chama quando percebe que eu não acompanho os passos dos três.

— Não, eu vou procurar por Michael, encontro vocês depois. — explico e eles assentem, se distanciando de mim em seguida. Caminho entre os convidado, a música é a alta e o sol já se foi quase que completamente. Ergo o pescoço e procuro pelos cabelos negros de Michael mas não vejo nada. Caminho mais um pouco e estreito os olhos ao observar uma figura magra de cabelos longos de longe, é ele. Em passos rápidos caminho em sua direção e ao me aproximar, percebo que ele está conversando com Jeremie e Valerie.

— Oi! — cumprimento ao chegar. Toco o braço direito de Michael que me olha com cara de poucos amigos e não retribui o cumprimento, apenas continua o assunto como se eu não estivesse ali. Ele está chateado e eu não tiro sua razão, eu fiquei completamente sem chão quando Louise apareceu em nossas vidas há algum tempo atrás. Se bem que comparada a situação de Pablo, a de Louise foi bem pior.

— Olá, Cat, estávamos falando de você agora mesmo. — Valerie diz sorridente, se aproximando e tocando o meu ombro esquerdo. — Quero muito conhecer a sua família, nossas filhas se casaram e ainda não tivemos a oportunidade de conversar com eles.

— Eles provavelmente estão ali no bar, também estão loucos para conhecer vocês! — apontei em direção ao bar. De longe é possível vê-los. Valerie e Jeremie agradeceram e caminharam em direção a minha família, esse encontro será maravilhoso, eu gostaria de estar lá mas agora preciso resolver algo mais importante. Me virei para Michael, ele está silencioso mas a carranca em sua testa denuncia o seu humor e quando eu abri a boca para dizer algo, ele me interrompeu, sendo muito direto.

— Por que não me contou? — suspirei e me aproximei mais dele, tocando o seu ombro.

— Me desculpe por não ter contado, eu não queria que você soubesse dessa forma. Se a língua da minha avó não fosse tão grande...— reclamando, eu bufei. — Mas veja, isso não é mais importante. Pablo e eu terminamos há muitos anos, agora somos apenas amigos e nada além disso. — eu expliquei sincera e Michael desviou o olhar encarando o horizonte, dando uma respirada funda em seguida.

— Está mais do que claro que ele ainda é apaixonado por você, Catalina, ele por pouco não a come com os olhos. — protesta duramente, ele está bem irritado. — Você sabe disso, por que continua nutrindo uma amizade com ele? Está interessada nele de alguma forma? — questiona quase que em um sussurro, me encarando dessa vez. Arqueio as sobrancelhas em surpresa, Michael é geralmente muito doce, mas diz absurdos quando está com raiva.

— O que? — rio incrédula. — Como você pode me perguntar algo assim  quando continua mantendo contato com a sua ex mais maluca? Pelo menos até pouco tempo atrás ela estava na sala de estar de Neverland, dando em cima de você na minha frente! — rebato no mesmo tom e ele me encara com as sobrancelhas arqueadas.

— No caso de Louise foi diferente, eu expliquei que ela é uma mulher solitária e triste, eu não poderia deixar de dar atenção a ela. Ela não tem família, Catalina, não seja cruel. — ele foi dramático como sempre e eu revirei os olhos.

— Dar atenção a uma amiga solitária e triste inclui permitir que ela se atire para cima de você? Ou, quem sabe, esconder o seu relacionamento dela, mentindo que você e sua namorada são apenas amigos? — relembrei rapidamente e ele abaixou as sobrancelhas encarando o chão. Ele não pode me culpar por isso, Louise me desrespeitou e ele também! Foi muito pior! — Eu acho que se tem alguém que ainda está interessado em alguma ex aqui, é você! — digo ríspida e o vejo abrir a boca para dizer algo, mas uma mão tocando meu ombro nos interrompe.

— Ei, vocês estão aí! — Cléo diz se aproximando de nós e eu sorrio ao olhar para ela. Ela está linda como uma rainha, seu vestido branco é simples, mas é muito bonito. Possui alças grossas e um decote reto, combinando perfeitamente com o colar de diamantes que ela ganhou dos sogros. Cleo é uma mulher sortuda, escolheu a família certa para fazer parte. Não pelos presentes que ela com certeza receberá sempre, mas porque a família Dowson é uma família acolhedora e muito amorosa. — Stef e eu vamos cortar o bolo, venham! — Cleo me puxa pela mão. Olho em direção a mesa do bolo e Stef acena para nós, os convidados já se aproximam da mesa também. Michael se posiciona ao meu lado, mas não trocamos uma palavra sequer, mantendo nossos olhares nas duas noivas, que vale ressaltar, são as mais lindas que esse mundo já viu.

Cleo se posiciona ao lado de Stef, as duas pegam na faca ao mesmo tempo e cortam o primeiro pedaço. Muitos flashes de fotos iluminam seus rostos, elas se beijam e fazem pose para os fotógrafos, eu sorrio com a cena. Stef está uma princesa. Seu vestido tem um caimento muito bonito e também é simples. Possui alças bem finas e delicadas, combinando perfeitamente com ela, que é um doce, delicada como uma flor. O forro é bem estruturado mas não muito armado, deixando o vestido com um ar de leveza. Provavelmente o meu vestido de noiva será parecido, quero algo simples mas elegante.

Gritos e aplausos são ouvidos quando as duas se beijam, meus pais possuem lágrimas nos olhos e minha avó se encontra no mesmo estado. Meu olhar consequentemente encontra o de Pablo, que está junto da minha família desde que chegou. Ele já estava me encarando e a carranca em sua testa denunciou o seu descontentamento de me ver com outra pessoa. Eu sei que deve ser difícil para ele, mas não há nada que eu possa fazer.

— Diga ao seu amigo para comprar um dos meus discos e colar no teto do próprio quarto, já que ele está tão interessado em olhar para mim. — Michael sussurrou inesperadamente de forma irônica ao meu ouvido e só então percebi que os dois se encaravam. Essa situação não poderia ficar pior.

— Pare de o encarar de volta, esqueça isso! — seguro seu rosto trazendo seu olhar para mim. — Minha irmã e sua afilhada estão celebrando o dia mais feliz das vidas delas, podemos focar nisso agora? — ele não respondeu nada, apenas levantou o olhar para encarar Pablo mais uma vez e selou nossos lábios em seguida. Se eu não o conhecesse, diria que ele está tentando marcar território.

As músicas voltaram a tocar, dando abertura a pista de dança, que logo já estava lotada. Michael e eu ficamos em um cantinho mais reservado, juntos, dançando bem próximos. Ele não disse uma palavra, apenas agarrou a minha cintura com as mãos e colou seu corpo no meu. Eu ainda estou chateada com o que ele disse, mas não quero acabar com o clima da festa, é um dia muito importante. Por isso, preferi resolver essa questão mais tarde, longe dos olhares alheios. Encostei minha cabeça em seu ombro direito e posicionei minha mão no esquerdo, enquanto ele guia meu corpo no ritmo da música.

— Parece que ele está rondando você o tempo inteiro. — ele disse após um momento em silêncio e eu suspirei por ter que tocar no assunto pela 30° vez no dia.

— Esqueça ele. — levantei meu olhar para o encarar. — Por favor, não vamos mais falar disso. — supliquei e sua carranca desconfiada se desfez. Ele sorriu sem humor e com sua mão, encostou minha cabeça em seu peito novamente e eu pude ouvir quando ele suspirou profundamente.

Eu já esclareci o que havia para esclarecer com Pablo. Ele não deveria causar toda essa situação. Não sobre Michael ficar sabendo por outra pessoa sobre nosso noivado fracassado, falo sobre os olhares, as caras feias. Ele não está fazendo questão de esconder o seu descontentamento em nos ver juntos e isso deixou Mike de orelhas em pé.

Continua...

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