Capítulo 50

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O clima era terrível, palpável até. Ninguém dizia nada, todo mundo estava ali tentando adivinhar o que Pedro faria agora que sabia a verdade, mas ele estava em silêncio, aparentemente absorvendo as imagens que tinha visto. 

Gabriela passou as mãos em suas costas, um afago na tentativa de deixá-lo confortável. Pedro se encolheu e então ficou de pé, saindo do lado de sua namorada. 

— Falem pra mim que aquilo foi uma montagem! — Pediu quando finalmente abriu a boca, estava claramente transtornado. — Falem! 

— Não é. — Sophia assumiu após engolir em seco. 

— Então você é o velho safado que levou a minha irmã bêbada pra cama? — Pedro se virou para Micael, que nem tinha palavras para se defender. 

O rapaz franzino sorriu por um instante, seus olhos ardiam de raiva e em um instante que ninguém esperava, ele se jogou pra frente e deu um soco em Micael. Foi tudo tão rápido que todos reagiram só quando ele já o tinha atingido. 

— EU VOU MATAR VOCÊ. — Gritou com ódio. Gabriela e Sophia entraram no meio. — Eu vou matar você! — Repetiu histérico. — ELA TEM DEZESSETE ANOS! — Voltou a gritar. — Você não tinha esse direito, levar uma garota bêbada para cama é estupro. 

— Chega, Pedro! — Sophia disse com um tom firme. — Não foi assim que aconteceu, você não precisa surtar desse jeito. 

— Eu te disse que quando soubesse quem era o velhote eu ia matar. 

— Seja razoável! — Gabi pediu com a voz doce, tentando acalma-lo. — É o meu irmão. 

— UM HIPÓCRITA DE MERDA! A GENTE FICAR JUNTO É UM ABSURDO, MAS ELE PODE FICAR COM A MINHA IRMÃ QUE TEM METADE DA IDADE DELE.

—  Vamos abaixar o tom de voz. — Micael finalmente se pronunciou. — Você está dentro da minha casa, garoto.

— Ora, vai querer pagar de respeitoso agora?

— Eu sei que o que eu fiz naquele dia foi errado. — Disse após respirar fundo. — Eu não fico vigiando meninas bêbadas no bar. Acabei conhecendo sua irmã por acaso, Pedro. — Falou com a maior paciência que conseguiu. — Eu só queria ajudar, mas a sua irmã estava bêbada e sozinha, quando eu perguntei onde ela morava, não conseguiu me dizer. Eu devia deixar ela sozinha na rua?

— Não, claro que não, devia trazer pra sua casa e estuprar ela. — Respondeu com ironia e as meninas arregalaram os olhos. — E você Gabriela... — Destinou um olhar de decepção a namorada. — Você sempre soube?

— Desde o primeiro dia. — Confessou pouco orgulhosa. — Eu não podia te falar isso, amor.

— Vocês riam de mim. — Passou as mãos no rosto tentando se acalmar. — Esse tempo todo, vocês mentiram, vocês riram as minhas custas.

— Pedro você está exagerando.

— Pois eu vou contar essa merda para o meu pai agora mesmo! — Ameaçou por fim. — Com a influência dele, você nunca mais trabalha em escola nenhuma na sua vida.

— Por favor, não!  — Se colocou na frente do adolescente enfurecido. — Você vai acabar com a minha carreira.

— Você devia estar preso. — Disse com nojo e saiu daquela casa, precisava de ar se sentia sufocado.

— Alguma das duas pode por favor ir atrás desse garoto e impedir que ele destrua a minha vida?

— Eu vou. — Sophia saiu correndo, não tinha mais o que fazer ali.

Gabriela se sentou, já prevendo que no meio daquela confusão toda, também fosse perder seu namorado.

**

— Será que pode parar de correr e me esperar? — Sophia gritou pela rua, o irmão tinha ido embora andando para arejar a cabeça. — Pedro!

— Não me pede pra guardar o segredo, Sophia. — Parou e se virou pra irmã. — Esse cara é podre, você não enxerga como foi errado porque se apaixonou!

— Eu sei que foi errado! Mas já foi.

— Já foi? O papai vai ficar uma fera!

— Não conta, por favor.

— Não me pede isso, Sophia. — Rosnou pra irmã. — Eu tenho que te proteger mesmo você não querendo.

— Tudo que você me pede eu faço, Pê. Absolutamente tudo. Te ajudei a namorar a Mel, intercedei em vários momentos de brigas entre vocês e quando você se apaixonou pela Gabi, lá fui eu te ajudar de novo! Eu fui a esse almoço porque você me implorou!

— Eu sei que você é uma boa irmã, mas isso não pode ficar assim.

— Eu o amo, Pedro. — Disse com algumas lágrimas rolando. — Eu o amo de verdade.

— Eu sei.

— Então não faz besteira, nós já terminamos, a maluca da Sueli está chantageando ele. Você viu.

— Bem feito. — Disse com um bico e Sophia soltou uma risadinha. — Ele merece.

— Deixa isso para lá, você consegue. — Implorou mais uma vez, os dois parados debaixo do sol quente, suas testas brilhavam de suor. — Não se envolve nisso.

— Estou me sentindo um idiota! Vocês tinham que ter me contado sobre essa pataquada.

— Para você reagir dessa forma? — Ele reagiu com uma careta e então os dois voltaram a andar. — Eu tive medo da sua reação e o Micael nunca quis que ninguém soubesse.

— Claro que ele não quis, isso pode levar ele direto pra cadeia. — Disse com a voz brava e logo arriou os ombros. — Gabriela não devia ter me escondido isso.

— Não vai brigar atoa com a garota. Ela se tornou uma das minhas melhores amigas, eu pedi que guardasse o segredo.

— Não interessa, é algo muito sério ela tinha que ter confiado em mim.

— Pedro...

— O quê? Estou tão errado assim ao esperar sinceridade da minha namorada?

— Não faz isso, a Gabi não tem culpa de estar metida no meio desse enrosco. Quero dizer, a única opção dela foi guardar o segredo.

— Eu não vou falar nada desde que você se mantenha afastada desse sedutor de quinta.

— Não faz assim, ele é um homem bom. O que aconteceu no dia em que nos conhecemos foi excepcional.

— Não muda o fato de que foi errado, o cara tem quase trinta anos, Sophia. Ele é um homem adulto, com emprego, casa e se bobear um ou dois filhos perdidos por aí que não assumiu. Você é uma menina boba de dezessete anos que acha que conheceu o príncipe encantado. Está iludida porque acha que o ama, mas o amor aos dezessete as vezes engana.

— E você sabe o que sobre amor? Está me dando lição de moral, mas tem só dezenove.

— Mas sou homem e te garanto que entendo como funciona a cabeça da maioria de nós. Por favor, não se deixa enganar.

— Você é tão teimoso!

— A teimosa é você! Se eu te ver perto desse marmanjo outra vez, vou contar ao papai e aí você sabe o que vai dar, não é?

— Que maravilha, é a bruaca da Sueli chantageando ele e você me chantageando.

— Eu te amo, irmã. Só estou cuidando de você.

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