Capítulo 23

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— Pegou pesado, não precisava falar assim com ele. Tadinho. — Gabi disse ao se jogar na cama. — Só estava com ciúmes.

— Dois meses esperando a ficha dele cair foi o suficiente. Agora eu quero mesmo é que se dane. — Deixou a mochila na cama se cruzou os braços de frente a Gabi. — Agora vamos falar do que importa. COMO VOCÊ PÔDE BEIJAR O MEU IRMÃO E NÃO ME CONTAR?

Gabriela ficou pálida na mesma hora. A menina se sentou e encarou Sophia uns poucos segundos, não fazia ideia do que lhe dizer, sua língua pareceu pesada na boca, não a obedecia.  Pelo menos até Sophia soltar uma alta e sincera gargalhada.

— Como isso foi acontecer? Eu nunca soube que você tava afim dele. — Sophia continuou a tagarelar. — Você devia ter me contado como se sentia, somos amigas!

— Nós nos conhecemos há pouco tempo, eu não queria parecer uma vagabunda.

— Nós somos amigas.

— Mas a Mel é sua melhor amiga e eu não sou nenhuma talarica.

— Eu sei, não precisa surtar.

— Sabe mesmo? — Ficou de pé, frente a amiga. — Eu cheguei cedo aqui no primeiro dia, junto com o Mica, arrumei minhas coisas e em seguida desci pra dar uma volta, conhecer o local. Foi onde eu vi o seu irmão, ele sorriu e me ofereceu ajuda pra encontrar meu quarto. Eu aceitei, conversamos e ele me encantou, pelo menos até você o apresentar, horas depois, como seu irmão e namorado da Mel.

— Bom, isso faz muito sentido, já que seu lado do quarto estava muito arrumado quando cheguei. — Sophia se lembrou. — Podia ter me dito como se sentia.

— Eu não sou fura olho, não vou ficar com ele.

— Eles já terminaram.

— Tem dois dias!

— A Mel disse que gosta de outra pessoa, não é tão errado assim o Pê também gostar. Quero dizer, o namoro deles acabou virando mais amizade do que tudo.

— Sophia, a Mel vai me odiar!

— A Mel é um amor! Conversa com ela que você vai ver.

— Lógico que não. Eu vou vestir meu uniforme e ir pra aula do Micael, você devia fazer o mesmo, já está quase na hora.

— Tá bem, mas você não vai fugir do assunto pra sempre. — Gritou e ouviu a porta do banheiro bater forte. Deu uma risadinha e então se deitou na cama sorrindo, voltando a pensar em Ravi.

Não demorou muito a Micael invadir seus pensamentos, ela se lembrou de sua expressão de quem prendia o ciúme e sorriu mais. O maxilar travado e a veia saltada na testa eram um charme em Micael. Suspirou ao perceber que mesmo afim de outra pessoa, Micael não saia de seus pensamentos.

Quando Gabriela saiu, Sophia foi se arrumar e não demorou muito para as duas irem pra aula.

As duas se sentaram próximas à Lua e Mel, segundos depois, Micael entrou na sala com o humor péssimo pronto pra arrancar a cabeça de qualquer um que lhe dissesse uma gracinha naquela aula. 

— Bom dia, turma. — Colocou a pasta sobre a mesa e tirou de lá dois pilotos para quadro branco. — Espero que tenham descansado no final de semana e que todos tenham trazido o trabalho sobre Capitães de Areia, não haverá prorrogação para entrega. 

Começou a passar de mesa em mesa recolhendo os trabalhos, sem olhar muito bem para o rosto dos alunos. Parou na mesa de Gabriela e Sophia, nenhuma das duas tinham o trabalho em mãos. 

— Cadê? — Perguntou sério e Gabriela o olhou com uma sobrancelha erguida. 

— Te entregamos isso no sábado, antes de sair. — A turma ficou em silêncio prestando atenção na pequena discussão. — Está lá em casa. 

— Eu não sou professor aos sábados. — Continuou andando e Gabriela ficou de pé. — Não trouxe, é zero. 

— Qual é! Você sabe que fizemos esse trabalho. — Falou alto e o fez virar. — Não é justo, eu virei a noite lendo esse livro insuportável. — Sophia se manteve em silêncio, tinha os braços cruzados e se recusava a dizer algo. 

— Senta, senhorita Ribeiro. — Pediu gentilmente. — E fica em silêncio até o final da aula, por favor. — Gabriela bufou e virou os olhos antes de se sentar. 

— Não esquenta com isso. — Sophia disse baixinho. 

— Ele não pode fazer isso! — Continuou a reclamar. — Ele viu o quanto eu me esforcei pra ler o livro. — Trincou o maxilar e fuzilou o irmão com raiva, que não percebeu, pois ainda estava recolhendo os trabalhos. 

— Vai dar tudo certo, fica tranquila. — Sophia passou as mãos pelo braço de sua amiga, numa tentativa de acalma-la. 

— Queria saber porque você está tão calma assim. Esse trabalho vale quase metade da nota do bimestre. 

— Quando acabar a aula, vamos conversar com ele. — Sophia disse ainda baixinho, mas dessa vez, ouviram "shhhhh" do Micael e as duas ficaram em silêncio, o observando escrever algo sobre o período barroco da literatura. 

Aquela havia sido a pior aula que Micael tinha lecionado. Ele mesmo sabia disso, viu alguns de seus alunos cochilarem enquanto falava. Quando o sinal tocou, todos saíram dando graças a Deus que tinha acabado aquela tortura. 

— O que querem? — Micael perguntou ao puxar a cadeira, sentar-se e então abaixar a cabeça nas mãos, exausto. — Vão pra aula. 

— Você vai nos deixar com zero? — Sophia perguntou com um tom docil. — Nosso trabalho está ótimo e eu tenho certeza que tá bem melhor do que todos esses. — Apontou para a pilha de papéis que tinha na mesa e Micael ergueu a cabeça para encarar as duas. 

— Deviam ter trazido. 

— Você só pode estar de brincadeira! — Gabriela protestou mais uma vez. — Vai nos prejudicar só porque está com ciúmes da Sophia com o Ravi? 

— Está? — Sophia deu risada e ele a encarou ainda mais bravo.

— Não tem a ver com ciúmes. Todos trouxeram os trabalhos pra cá, vocês não. 

— Por Deus, você vai mesmo fazer isso? 

— Ai, Gabriela deixa pra lá, vamos ficar nos humilhando atoa. — Sophia puxou o braço da amiga. — Vamos recuperar no decorrer do ano. Seu irmão tem razão, tecnicamente não trouxemos o trabalho, nenhum outro aluno foi até sua casa entregar. 

— Muito bem, finalmente está sendo sensata. — Micael ficou de pé para encarar sua aluna. — Isso é novidade.

— Vamos, Gabi. Quero falar com Ravi antes da próxima aula. — Implicou e sorriu pra Micael antes de sair da sala de aula acompanhada de sua amiga.

Último Ano do ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora