— Sendo assim, vou pedir que se afaste de mim. — Tirou a mão dele de seu rosto, fungou e ficou de pé.
Micael não demorou a ficar de pé também, mas não sabia bem o que dizer. Continuou a olhando nos olhos observou atentamente quando lágrimas começaram a cair dos olhos dela.
— Estou tão cansada dessa situação.
— Como assim?
— Gostar de você é um tanto cansativo, acho que já levei foras demais. Não dá mais.
— Não tem a ver com dar foras.
— Tudo bem, eu entendo você e seus motivos, mas pra mim já deu.
Sophia secou o rosto e se afastou, procurando suas coisas no chão, pronta pra fugir dali correndo. Micael segurou seu braço e a vez virar pra ele. Os dois ouviram o barulho da porta se abrindo, mas nenhum se importou com o fato de Gabriela ter chegado.
— Oi gente, trouxe comida! — Anunciou empolgada, pelo menos até se aproximar e sentir o clima pesado que pairava pela sala. — O que aconteceu?
— O que quer dizer com "já deu"? — Micael perguntou, ignorando completamente a irmã. — Eu sei que é dificil, mas Soph...
— Mas Soph o quê? Vamos viver desse jeito absurdo? Você fica comigo quando quer e logo depois me dá um fora e me joga pra escanteio.
— Eu não te joguei pra escanteio! — Se defendeu e irritou Sophia que começou a falar alto.
— Então você fez o quê? — Jogou os braços, revoltada. — Você fica dizendo que gosta de mim e eu vejo na forma como me olha que gosta, mas te falta coragem e eu não nasci pra ficar levando fora de homem nenhum, Micael.
— Mas eu não te dei fora.
— ENTÃO VOCÊ FEZ O QUÊ? — Dessa vez ela gritou, fazendo com que Gabriela arregalasse os olhos, ainda em silêncio. — Tudo o que você faz é me dar fora. Tudo o que você faz é fugir!
— Não estou fugindo, você ser minha aluna torna esse romance impossível e você sabe disso!
— Eu sou sua aluna apenas dos portões pra dentro, aqui fora ninguém tem nada a ver com a nossa vida. — Controlou seu tom de voz. — Chega, chega e chega.
— Para com isso.
— Não estarei disponível pra sempre. — Disse olhando em seus olhos e Micael não respondeu, apenas a olhou enquanto colocava sua bolsa no ombro e saia da casa pisando duro, irritada.
— O que foi isso? — Gabi perguntou ao irmão, que parecia estar a ponto de chorar, mas felizmente conseguia controlar suas lágrimas. — Você está bem?
— Estou. — Engoliu em seco e arriou os ombros. — Vai atrás dela, Gabi. — Pediu ao se virar pra olhar a irmã. — Ela está muito nervosa, pode acabar fazendo alguma besteira. Fica com ela e me dê notícias, por favor.
— Tudo bem. — Assentiu e deixou as sacolas de comida em cima da mesa, antes de correr pra fora afim de alcançar sua amiga.
**
— Ei, será que pode esperar? — Gabriela estava correndo atrás da amiga pela rua, gritando seu nome pra mesma que fez questão de ignorar e andar ainda mais rápido. — Sophia! Sophia!
— Me deixa em paz, Gabi.
— Não vou te deixar em paz. — Finalmente a alcançou e caminhou ao seu lado. — Estou preocupada com você, o que aconteceu?
— Aconteceu o que sempre acontece, seu irmão ficou comigo e logo em seguida me deu o mesmo fora de sempre. Você sabe, conhece a ladainha.
— Sabemos que ele é complicado, mas não precisa ficar tão nervosa.
— Estou cansada dele, Gabi. — Parou e encarou a amiga. — Eu fiz um discurso hoje falando pra você que não queria nada, eu me sentia decidida e ai você saiu... — Fungou e passou as mãos no rosto. — Foi só ficar sozinha com ele dois segundos pra eu esquecer tudo o que havia dito e me jogar pra ele.
— Você gosta dele, é normal.
— Mas já está me machucando. — Recebeu um abraço da amiga. — Está doendo e eu preciso dar um basta de uma vez. — Suspirou ainda abraçada a ela. — Preciso sair e me divertir, preciso ver pessoas, conhecer outros homens, preciso urgentemente esquecer seu irmão.
— Tudo bem, hoje é sabado, vamos sair. — Sophia se afastou para encarar sua amiga um pouco descrente. — Estou falando sério, vamos procurar um lugar legal e sair.
— Ele nunca vai deixar você sair comigo, sabe como nos conhecemos.
— Não vou pedir a ele, vou ligar e pedir a minha mãe. — Piscou o olho com um sorriso. — Vamos pra sua casa, de lá eu ligo.
E então elas caminharam com os braços dados. O rosto ainda mostrava que ela tinha chorado, mas já era capaz de falar normalmente, combinando com a Gabi como seria sua saída.
Quando finalmente chegaram a casa da loira, vozes alteradas foram ouvidas e as duas correram pra dentro, afim de entender o que estava acontecendo.
Mel e Pedro estavam em guerra, os dois falavam alto e pouco se compreendia sobre o motivo. Gabi e Sophia pararam entre eles e só então foram notados.
— Será que podem manter a calma? O que está acontecendo aqui?
— Seu irmão é um escroto quando quer! — Mel deu um grito e Pedro bufou e revirou os olhos. — E você não revira os olhos pra mim não!
— Você está fazendo tempestade num copo d'agua. Eu só disse a essa maluca que talvez já fosse o momento de dar um passo adiante nessa porcaria de relacionamento.
— Você não só disse isso! — Mel gritou do outro lado. — Você me encurralou na parede e começou a me alisar mesmo eu dizendo que não queria. — O rapaz virou os olhos de novo.
— Eu não ia fazer nada à força, estava apenas tentando te deixar com tesão pra você mudar de ideia. Parece que não me conhece, se fosse pra fazer essa merda eu já teria feito há meses atrás, pra que eu ia esperar um ano pra ser um tarado e forçar você?
— Gente, chega, não precisa disso tudo. — Gabi falou baixo, tentando apaziguar aquilo. — Vocês se amam, namoram há um ano, isso foi só um mal entendido.
— Ah não se mete, você nem nos conhece. — Mel disse brava.
— Não precisa tratar os outros mal. — Pedro defendeu a mais nova integrante do grupo. — Você hoje está parecendo um bicho, Melanie. Quer saber, essa merda aqui já deu.
— Ei! — Sophia e Gabriela disseram ao mesmo tempo.
— Não, gente. Ele tem razão. — Mel disse entre as lágrimas. — Já deu mesmo.
— Mel, sobe, vai lá pro meu quarto esfriar a cabeça. — Sophia pediu e a amiga deu uma boa olhada no seu namorado antes de sair e subir as escadas apressada. — Isso aqui foi sério?
— Foi. — Pedro respondeu sem titubear. — Já excedeu minha cota pra aturar a Mel.
— Não fala assim da menina que você dizia amar até hoje cedo. — Sophia o repreendeu e viu o irmão arriar os ombros. — Vocês só estão irritados por conta do mal entendido, não precisam terminar.
— Mas queremos terminar. — Falou pelos dois e Sophia se rendeu, sabia que não era um bom momento conversar com o irmão agora.
— Você me da um momento pra conversar com a Mel? — Pediu a Gabi que assentiu e observou sua amiga subir as escadas com certa pressa.
Gabriela e Pedro se encararam alguns instantes em silêncio e logo o clima ficou pesado. Rolava atração entre eles desde o primeiro dia, mas Gabriela sempre fez questão de esconder em respeito ao namoro deles, e se não tinha mais namoro...
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Último Ano do Colegial
RomanceSophia Abrahão é uma jovem problemática que vive em guerra com seu pai por ele viver trabalhando. Geniosa e atrevida, ama sair e beber com as amigas. Se vê completamente apaixonada no instante em que conhece o galante senhor Borges, de uma forma nã...