Capítulo 24

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Micael parecia enxergar Sophia e Ravi em todos os cantos da escola. Ou estavam fazendo de propósito, ou era o homem mais azarado do mundo.

E eles nem faziam nada demais. Estavam sempre conversando, uma distância respeitosa entre eles, no máximo mãos dadas e só isso o deixava louco. Não havia motivo plausível para interferir.

E pior de tudo, apenas dois dias haviam se passado.

Fugindo do ambiente claustrofóbico que era a escola, Micael se sentou no chão do jardim. Queria respirar ar puro, tinha um tempo vago e então se isolou. Feliz por naquele momento seus alunos estarem em aula e não ali, namorando.

Fechou os olhos, abaixou a cabeça nos joelhos e respirou fundo, pelo menos até sentir alguém se sentar ao seu lado, em silêncio.

Ergueu a cabeça e era ela.

Sophia.

A loira sorria pra ela de uma forma tão afetuosa que só poderia ser alucinação. Tinha uma flor rosa nas mãos, que ele não fazia ideia de qual era o nome, mas que era linda, como ela.

Sophia levou a flor até o nariz e cheirou com os olhos fechados, apreciando o doce aroma e só fez o coração de Micael se acelerar mais. Só podia ser alucinação.

— Está mesmo aqui?

— Claro que sim, você está me vendo. — Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e deu risada da testa franzida de Micael. — Anda tendo alucinações comigo pela escola?

— Enxergo você em cada loira que vejo andando por aí. — Confessou constrangido. — O que faz aqui? Deveria estar em aula de química.

— Sim, estou matando aula, não conte a nenhum professor. — Brincou com o sorriso ainda mais aberto. — Eu estava fugindo da aula e te vi aqui sentado sozinho, achei inusitado. Está tudo bem?

— Não, estou enlouquecendo.

— Como assim?

— Me ouviu dizer que vejo você no rosto de cada loira da escola? Você e o rapaz que vive te seguindo.

— Ravi? Ele é gente boa. — Deu de ombros, girando a flor nas dedos pelo caule. — Eu não fiz nada de errado, não precisa me ameaçar com diretoria.

— Eu sei que não fez. — Encarou sua amada com dor. — Eu que fiz! Eu não deveria sentir metade das coisas que sinto por você.

— Não começa com isso de novo, por favor. — Pediu com gentileza. — Eu acho que me apaixonei por você a primeira vista. — Confessou, embora nenhum dos dois nunca tenha dito para o outro estar apaixonado. — Foi muito difícil pra mim lidar com a rejeição.

— Mas eu também me apaixonei. — Confessou no mesmo instante. — Por que você acha que eu vivo nesse dilema?

— Só que eu cansei de fazer parte disso. — Seus olhos assumiram um tom triste. — Foram dois meses muito difíceis. Não posso sofrer o ano inteiro e também não posso estudar com você pegando no meu pé.

— Eu não pego no seu pé. — Ela o encarou incrédula e ele deu risada. — Se é por causa do lance do trabalho, vocês deviam ter trazido pra escola.

— Você não precisava dar zero pra gente, eu me empenhei muito pra fazer, ficou ótimo.

— Eu li, estava mesmo ótimo. — Sophia sorriu com o elogio. — O que me fez ter certeza de que Gabriela não escreveu uma linha.

— Isso importa mesmo?

— Eu não dei zero pra vocês. — Suspirou. — Embora eu ache que estão erradas, eu realmente estava com ciúmes quando briguei com vocês.

— Se não vai rolar nada entre a gente, será que podemos ficar de boa? Tipo, ser amigos de verdade? — Sophia pediu baixo. — Eu e a Gabi somos super amigas, eventualmente vamos nos encontrar fora daqui, não quero um clima ruim. E muito menos em sala de aula.

— Você tem razão, eu prometo me comportar.

— Maravilha!

— Ou então nós podemos... — Ele parou de falar antes de completar a frase.

— Podemos o quê? — Sophia incentivou.

— Você está namorando o Ravi?

— Não, somos amigos. — Foi sincera. — Eu apenas gosto da companhia dele, estamos nos conhecendo.

— E se a gente... Ficasse... Às vezes?

— Professor Borges que oferta é essa? — Sophia soltou uma risada maliciosa. — Você não quer fazer isso.

— Não quero ficar longe de você, eu sei que é errado, que tenho muito a perder, mas eu sou louco por você e fora daqui...

— Ninguém tem nada a ver. — Sophia sorriu e ele assentiu.

— Pensa na proposta e depois me diz.

— O problema é que você muda de ideia muito rápido.

Sophia o encarou mais um pouco, os dois em silêncio e com tristeza no olhar. Era difícil saber o que os esperava, mas precisavam daquilo.

— Eu sei que fiz isso muitas vezes, mas dessa vez é diferente.

— Por causa do seu ciúme do Ravi?

— Eu sei que vocês não são só amigos. — Sophia prendeu uma risadinha. — Eu os vi se beijando no sábado.

— Sábado? No bar? Você foi até lá? — Perguntou surpresa e ele apenas deu de ombros. — Eu estava com raiva de você. Lembro de ter dito que ficava fora de mim quando estava com raiva.

— Vamos conversar lá em casa, no final de semana. Pode ser? — Sophia parou e pensou antes de assentir uma única vez. — Será que até conversarmos, você pode não se agarrar com ninguém?

— Fala sério, eu não beijei ninguém!

— Não mesmo?

— Eu beijei no bar, aqui na escola nós estamos indo devagar, apenas nos conhecendo. O que você viu na segunda foi um beijo na bochecha.

— Eu devo estar míope.

— Concordo, é a idade. — Brincou e recebeu um sorriso irônico dele. — Bom, eu vou indo, não posso ficar no jardim a sós com você muito tempo.

— Eu estava aqui pensando antes de você chegar que esse lugar aqui é bem isolado, vocês usam pra namorar?

— Você é professor, não vou te contar nossos truques. — Piscou um olho e ficou de pé. — Talvez eu tenha vindo aqui me encontrar com Ravi.

— Ah, por favor! — Protestou com uma careta e Sophia deu risada. — Deixa esse garoto pra lá.

— Ele é um amigo, já te disse. — O defendeu mais uma vez. Antes de concluir, Gabriela vinha correndo e gritando por Sophia. — Meu Deus, pra que tudo isso Gabi?

— Vem! — Segurou em sua mão e fez força para puxa-la, mas Sophia travou o corpo e se manteve parada. — Anda logo!

— Como você sabia que eu estava aqui?

— Estava te procurando por todo o colégio e então eu encontrei o Ravi. Foi ele que me contou, inclusive estava a caminho daqui. — Gabriela olhou um instante para o irmão que virou os olhos e nada disse. — Agora vamos, eu pedi pra ir ao banheiro e já demorei séculos, vou ficar com fama de cagona.

— Mas pra que tudo isso?

— Teimosa! — Gabriela reclamou. — O professor de química vai passar um teste surpresa agora, temos que ir! — Anunciou e então Sophia saiu correndo junto com Gabi, Micael sorriu e negou com a cabeça, inacreditável estar tão apaixonado por uma menina que fazia testes surpresa e matava aula pra namorar.

Último Ano do ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora