Capítulo 47

58 6 3
                                    

O resto da semana foi desgastante para Sophia. A loira parecia enxergar Micael e Sueli em todos os lugares daquela escola. Felizmente nunca os viu se beijando, Micael fazia sempre questão de dizer que não podiam fazer aquilo ali por ser um ambiente de trabalho mesmo que Sueli soubesse que era por conta de Sophia. 

As provas foram razoáveis, ainda não tinham nota de nenhuma, mas Sophia sabia que tinha ido bem, mesmo que com a cabeça cheia de coisas. Na sexta, finalmente puderam ir pra casa e enquanto Pedro tagarelava animado sobre o almoço que a sogra o havia convidado, Sophia respondia somente com "aham" fingindo prestar atenção no que ele dizia. 

— Bem vindos de volta. — Renato disse ao recebê-los em casa com um sorriso e um abraço. — Como foi essa semana de aulas? 

— Está muito estranho o senhor bancando o pai. — Sophia disse no mesmo instante e ele trocou o sorriso por uma careta. — Duas semanas em casa, deve ser o seu novo recorde. 

— Sophia! — Pedro a repreendeu antes do pai. — Você mal chegou e já pretende ficar de castigo igual semana passada? 

— Eu te amo, pai. — Ela disse com o mesmo tom de antes. — Mas não estou falando nenhuma mentira. 

— Eu lhes disse que ficaria mais em casa. — Segurou a mão da filha. — Amo vocês, quero fazer parte das suas vidas. 

— Tudo bem. — Caminhou para um abraço, seu pai não merecia receber respostas ingratas por  causa de seus problemas. — Onde está minha querida madrasta?

— Estava tomando banho, creio que logo ela vai aparecer por aqui. 

— Tudo bem, eu vou para o meu quarto. — Avisou ainda sem doçura na voz. — Também preciso de um banho e de estudar para prova de segunda feira. 

— Achei que já estivessem em semana de prova. — Renato disse e surpreendeu os filhos. — Que foi? Eu sou o pai de vocês. 

— Sophia ficou com nota baixa em literatura. — Pedro entregou e Sophia o olhou feio. — Que foi? Acha que ele não ia saber? 

— Eu sei que ela vai se recuperar. — Renato disse com um sorriso. — Ela é inteligente pra se recuperar. 

— Eu vou sim. Agora, com licença. — E então finalmente saiu de perto pra ficar em paz em seu quarto. 

Sophia passou a tarde toda no quarto e quando a noite chegou, lá ela continuou. Não tinha ânimo pra encarar sua família e fingir que estava bem. Perto das oito, pouco antes do jantar ser servido, a jovem ouviu batidas em sua porta. 

Soltou um suspiro pesado pensando em quem estaria ali, acabando com a sua paz. Pelo menos até ouvir a voz feminina. 

— Sophia, o jantar já vai ser servido. 

— Não estou com fome, Mariana. — Gritou sem se mover, ainda deitada em sua confortável cama.

 — Quero conversar com você, abre aqui. — Sophia até pensou em ser ignorante com sua madrasta, mas seria bom conversar com alguém que não iria julga-la. 

Pensando nisso, se levantou da cama, ajeitou sua roupa e respirou fundo antes de caminhar até sua porta e destranca-la. Mariana sorriu ao perceber que dessa vez tinha sido mais fácil conseguir alguns instantes de atenção da enteada. A mulher entrou e fechou a porta atrás de si. 

— E então? — Sophia voltou pra cama e se sentou, ficou observando enquanto Mariana fazia a mesma coisa. — Quer conversar sobre o quê? 

— Quando perguntei ao seu pai e ao seu irmão porque você passou o dia inteiro trancada no quarto, me responderam que estava estudando literatura. 

— Eu deveria, mas estou sem cabeça. 

— E você quer conversar sobre o que está te afligindo? Tem haver com o seu namorado? 

— Ele não é mais meu namorado. — Revelou e arriou os ombros. — Aconteceu tanta coisa essa semana, mas o que realmente importa é que ele terminou tudo comigo. 

— Tem a ver com o fato de ser um homem mais velho? 

— E como você sabe disso? — Ergueu uma sobrancelha tentando se lembrar se ja tinha revelado aquilo á  madrasta. — Não lembro de ter te dado detalhes sobre meu namoro.

— Você me disse que ninguém podia saber sobre ele, então eu presumi que fosse esse o motivo, acertei? — Tinha um sorriso convencido e Sophia apenas deu de ombros. 

— Eu posso mesmo confiar em você? 

— Eu quero ser sua amiga, Sophia, mesmo que você não acredite nisso. 

— Eu estava namorando com um professor da escola. — Revelou e a mulher empalideceu no mesmo instante. — Eu sei que é demais, por isso ninguém sabe. 

— O problema não é só ele ser mais velho então. Isso é muito sério, Sophia. Esse homem não pode usar a posição dele como professor pra seduzir adolescentes. Pode ser um predador. 

— Não é não, nada a ver. Nos conhecemos fora da escola, por acaso em um barzinho. — Explicou com paciência. — Então foi isso, a gente se conheceu, se apaixonou e agora terminamos. 

— Eu sinto muito, de verdade. — Passou uma mão no rosto de Sophia. — Sei o quão ruim é sofrer por amor e não desejo para ninguém, mas sei que logo, logo você vai superar e ser feliz. 

— Sofreu muito? 

— Muito! — Revelou com uma risada. — Eu fui noiva antes de conhecer seu pai, era um relacionamento longo, vivíamos bem, sabe? Até eu receber uma proposta de trabalho em outro país. 

— No país que conheceu meu pai? — A menina sorriu, observando as bochechas de sua madrasta corarem. 

— Sim! Foi um término muito difícil, muito doloroso porque nós não deixamos de gostar um do outro, eu apenas tive que ir embora. Eu sofria de lá e ele daqui, mas foi necessário, crescemos mais com esse tempo. 

— E desde que você voltou não quis vê-lo?

— Não. Eu construí um amor tão bonito com seu pai,  sabe? Somos amigos, somos cúmplices... Eu não quero vê-lo e correr o risco de... 

— De trocar meu pai por ele? — Sophia agora tinha uma sobrancelha erguida. — Se acha que isso pode acontecer, então não ama meu pai. 

— Amo sim. E é por isso que eu não quero vê-lo, para que estragar o que está bom? Quero dizer, ele pode ter alguém também e aí minha filha, serão duas vidas estragadas. 

— Você falando desse jeito parece muito que ainda o ama. 

— Sinceramente? Tenho muito carinho por ele e talvez eu sempre tenha, mas não o amo, não mais. 

— Eu acho que você devia encontrá-lo. Não pode se casar com o meu pai sem saber se é o que você quer de verdade. 

— É o que eu quero de verdade.  

— Tudo bem, eu vou deixar você em paz, se é o que diz. — Sorriram uma para a outra. — Se os dois estão felizes, é o que vale, né? 

— É o que eu penso. — Segurou as mãos de Sophia. — Fico muito feliz de estarmos nos dando bem, mesmo que essa seja apenas a segunda vez que conversamos de verdade. 

— Eu também fico feliz, se você é a mulher que meu pai ama, eu farei de tudo para deixa-lo bem. 

— Ok, então passada a melação, eu quero fazer um convite. Ainda não disse nada ao seu pai e ao seu irmão. 

— Um convite exclusivo? 

— Minha nova companhia vai se apresentar em dois meses, será muito importante ter vocês lá. Seu pai, você e o seu irmão são minha família agora. 

— Adorei! Claro que irei. — Bateu palminhas empolgada. — E sua compainha é de quê?

— Ballet. — Contou com um belo sorriso. — Não te disse que sou bailarina? 

Último Ano do ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora