2º CAPÍTULO

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Estava deitada na cama enquanto Ju tomava banho, eu já havia tomado banho, tirado aquele vestido que já estava dificultando minha respiração de tão apertado que era – não consigo imaginar o que passou na minha cabeça quando o comprei – e colocado o pijama, comecei a observar o quarto, ele era relativamente grande, havia uma cama de casal, de madeira maciça escura, a cabeceira da cama lhe dava um ar de antiguidade que combinava com o guarda roupa gigante na parede perto da porta, que era feito do mesmo material e aparentava ter até mais idade que a cama. Havia uma mesa de escritório, bem abaixo da janela, onde deixávamos nossos notbooks. Sentar-se na cadeira que fica na frente da mesa e ficar admirando janela a fora é maravilhosa, já perdi horas fazendo isso, a janela do quarto dava para os fundos da casa, que tinha um quintal gigante e muitas árvores, era tudo muito verde, e isso me acalmava demais. As cortinas da janela iam do teto ao chão, o tecido aparentava ser muito pesado, nem quis imaginar como a colocaram ali. As cortinas eram as únicas coisas claras do quarto, era cor marfim, parecia ser delicada, como se fosse costurada a mão. A única coisa que incomodava mais do que as loucuras de Ju, era o barulho do ventilador de teto, parecia que ia cair a qualquer momento.

Ah, as loucuras de Ju...

Não sei como concordei em invadir aquela festa! Acho que por ela ser minha melhor amiga não penso muito nas consequências.

Nós sonhamos muito com esse intercâmbio, estamos em Los Angeles a menos de duas semanas e já fizemos todas loucuras possíveis que duas garotas de dezesseis anos são capazes de fazer. Mas intercâmbio tem regras, se nos pegarem fazendo qualquer coisa fora das regras, vão nos mandar de volta pra casa sem pensar duas vezes. Fugimos da casa de nossa família adotiva todas as noites – não me pergunte como conseguimos sair e entrar na casa sem sermos pegas, ainda não entendi como – para fazer alguma coisa, que provavelmente não é permitida no intercâmbio – como nos relacionarmos com alguém daqui – ou que não é permitido para nossa idade – como ir em alguma casa noturna de shows –, nós sabemos que não podemos fazer nada disso, mas se qualquer garota se colocasse no meu lugar, e estivesse em um país diferente com sua melhor amiga, aposto que faria as mesmas coisas ou ate pior.

Lembro-me do dia cheguei da escola e fui pedir para meus pais para fazer a viagem, no começo eles acharam estranho, mas não demorou muito tempo ara concordarem. Meus pais viajam o tempo todo, conhecem praticamente o mundo inteiro, se não me deixassem conhecer pelo menos Los Angeles, eu seria capaz de fazer um show de garota mimada, até que eles me permitissem vir.

Cheguei na escola no dia seguinte e fui toda emocionada contar para Ju, que não estava nem um pouco feliz. Normalmente eu sou a mau humorada de manhã e a Ju é toda alegre – quem consegue ser feliz acordando as seis da manhã? Sim, minha melhor amiga! – e eu sou a pessoa amargurada até as dez da manhã, pelo menos. Ela me contou que seu pai não tinha dinheiro para pagar para ela ir. Ju perdeu a mãe quando ainda era um bebê, desde então seu pai trabalha dia e noite para conseguir pagar, pelo menos, o aluguel. Ju conseguiu bolsa na nossa escola, por causa de suas altas notas, ela sempre foi uma ótima aluna.

Nós duas ficamos muito tristes, eu não queria ir sem ela. E ela queria muito ir. Eu só topei toda essa história de viagem, porque Ju iria comigo. Agora não queria mais ir. Então tive uma ideia, que muitos iriam levar como ofensa, mas aos meus olhos foi só uma solução. Todo mundo da escola sabe que minha família tem muito dinheiro – acho que todo mundo da cidade – e tem condições de pagar umas mil viagens dessas, então me ofereci para pagar para Ju. No começo ela ficou meio sem jeito, sempre odiou que pagasse coisas pra ela, mas era a única solução, ou ela aceitava que meu pai iria pagar, ou não ia poder viajar. Levou uns três dias para Ju aceitar, ela tinha tido a ideia de começar a trabalhar e juntar dinheiro, só que nós duas sabemos que nunca iria dar certo, então depois que ela aceitou, falei com meu pai, que aceitou na mesma hora. Ju era como uma filha para meus pais, viveu praticamente todos os dias, desde que lhe conheço, na minha casa. Não que meus pais parassem muito em casa, pois eles raramente ficavam, sempre estavam viajando a negócios, mas amavam Ju do mesmo jeito, o pouco que conviveram com ela, fez lhe amarem como me amam.

- Tá sonhando acordada garota? – disse Ju, saindo do banheiro de toalha, eu nem havia percebido que tinha me perdido em meus pensamentos. Ju se trocou rapidamente e deitou ao meu lado, eram quase quatro da manhã. Depois da festa passamos em uma padaria que é vinte e quatro horas para comermos algo e viemos para casa logo em seguida. Não demorou muito para cairmos no sono, a noite foi longa e cansativa, então a única coisa que restava para recuperarmos as energias era dormir.

TräumenOnde histórias criam vida. Descubra agora