29º CAPÍTULO

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Pelos meus longos anos de experiência com Ju, sabia que não iria acabar tão cedo a sua raiva.
Chegando na frente da casa, vi Nash apoiado no carro. Corri até ele. Enquanto Cam segurava Ju, com força, no ombro. Nash estava nervoso, provavelmente brigou com Cam.
- Me solta seu babaca! - Ju gritava e socava as costas de Cam, lutando para se soltar.
Seu pedido foi atendido. Ele colocou ela no chão, bruscamente. Eu não havia trocada palavras com Nash, somente olhares. Nós dois estávamos na mesma situação. Nossos melhores amigos estavam com problemas. E o nosso problema era não poder ficar um ao lado do outro. Cada um defenderia seu amigo, e eu estava com medo de isso acabar nos afetando.
- O que aconteceu lá dentro? - Nash foi o primeiro a questionar.
- Essa louca ia matar a outra garota! - Cam apontou para Ju, que não ficou nada satisfeita com a explicação.
- Cala a boca seu otário! - Ju gritou - Eu ia matar ela mesmo, aquela vagabunda... Está com pena dela? Vai lá e come ela, até o cu fazer bico!
- Você está escutando o que está falando? - Cam ficou indignado com o que Ju falou.
- Não Cameron, sou retardada! - Ju foi cínica, e já deu para perceber que Cam odeia quando Ju age desse modo.
- É o que está parecendo! - ele respondeu - Eu te livrei de uma fria e é assim que me agradece...
- Eu não te pedi nada! - Ju gritou com raiva - A única coisa que te pedi, foi pra sumir da minha vida. Cumpra isso, e suma!
Ouvi movimentação na lateral da casa. Era Hayes. Em primeiro momento ele veio em direção a Cam e Ju, quando foi falar algo, olhou para Nash e eu, que estávamos apoiados no carro, assistindo a briga de camarote, e travou. Nash estava me abraçando, com a mão em minha cintura, e eu estava de braços cruzados, mostrando impaciência.
- O que você está fazendo aqui? - Hayes perguntou apontando para Nash - E da para ouvir os gritos lá dos fundos, com a música ligada... Da uma maneirada! - sugeriu a Cam e Ju.
- O que aconteceu com seu rosto? - Nash perguntou rindo.
O rosto de Hayes havia ficado bem vermelho, e seu nariz, que já era relativamente grande, ficou maior ainda. Por um momento pensei em rir dele também, mas aí lembrei o quão babaca ele foi a alguns minutos atrás.
- Eu bati nele! - Ju parou de brigar com Cam por um segundo, para cantar vitória.
- Eu tentei tirá-la de cima da May, aí ela me acertou um soco em cheio... - Hayes tocou no nariz e fez cara de dor, como se lembrasse do momento do golpe e sentisse a dor.
- Você é muito otário, apanhou de uma garota... Não vou te deixar esquecer isso nunca! - Nash estava rindo da situação, aparentemente só ele estava em clima de brincadeira, todos nós estávamos de cara fechada.
- Ok ok! - Hayes mostrou nervosismo pelas brincadeiras de Nash - Mas o que está fazendo aqui?
- Ele está comigo! - tomei a liberdade de responder antes que Nash inventasse uma desculpa, pois eu já havia lhe pedido para não contar a Hayes que estávamos juntos.
- Como assim? - Hayes ficou confuso.
- Comigo, Hayes! Não sabe o que é estar com uma pessoa? - fui irônica, sabia que ele gostava de mim de verdade, mas queria que ele sofresse, como sofri no dia do trote e hoje, depois de descobrir a verdade.
- Você está brincando com a minha cara? - Hayes ficou nervoso.
- Não Hayes, pelo que eu sei, a única pessoa que mente e brinca com os sentimentos dos outros é você! - Hayes precisava ouvir aquilo, sei que eu estava sendo maldosa, mas ele mereceu, e eu não me arrependi de falar.
- Nash... - ele esperou Nash falar algo, mas Nash só baixou a cabeça e não disse nada - Cara, você é um filho da puta mesmo, depois de tudo que eu te falei da Vicky, você não me contou que estava comendo ela!
- Hey! - me irritei, quem Hayes pensa que é, para falar daquele modo de mim.
- Ô cara, diminui um pouco! - Nash se meteu na minha frente, impedindo Hayes de se aproximar de mim - Não fala assim dela.
- Qual foi? Vai falar que está mentindo que gosta dela? - Hayes riu, mas ele estava muito nervoso - Vai fala que não está comendo ela, que é por isso que está pegando ela ainda...
- Cala a boca, Hayes! - Nash gritou - Você está nervoso, não quero resolver isso aqui e agora, resolvemos isso quando você esfriar a cabeça.
- Não cara! - Hayes gritava e apontava o dedo na cara de Nash - Você fez isso com todas as garotas que eu gostei... Pra você é só uma competição comigo!
- Cara, vai pra casa! - Nash abaixou a mão de Hayes de seu rosto.
- Nash... - me meti, porque me indignei, pelo fato de Nash não se defender das acusações de Hayes - Isso é verdade?
- Vicky, não! - ele colocou as mãos no rosto para tapar a decepção de ouvir minha pergunta - Hayes sai daqui!
- Não, até você contar tudo para ela! - Hayes apontou para mim, e não baixou o tom de voz, ele gritava muito, estava muito nervoso.
Eu transpirava impaciência. Não queria mais ouvir aquilo. Para mim já chega, eu quero ir para casa.
- Já chega! - gritei - Não quero ouvir mais nada!
- Vicky... - Nash tentou tocar em mim, mas desviei de seu toque e estendi a mão para Ju.
- Vamos amiga! - ela me deu a mão e começamos a nos afastar deles.
Eu ignorei tudo que eles falaram. Bloqueei o som de suas vozes de minha cabeça. A única coisa que consegui ouvir, bem baixo, foi o barulho das portas do carro de Cam se fechando, e em seguida o motor sendo ligado.
Eu e Ju já estávamos a uma quadra de distância deles. Ou foi o que pensamos.
O carro de Cam começou a andar do nosso lado, em nossa velocidade. Tudo que nós duas precisávamos, era ir para casa e dormir. Mas era tudo que eles não iriam nos deixar fazer.
Eu não entendia o Cam, ele culpo Ju pela foto, que não foi ela que tirou. Xingou e a humilhou, mas não sai do seu pé.
Nash aparentemente me usou para seu joguinho com Hayes, mas eu não queria pensar nisso agora, só queria minha cama.
- Entrem no carro, por favor. - Nash pediu delicadamente, mas ignoramos deu pedido - Garotas, parem com isso, nós levaremos vocês para casa... - continuamos ignorando Nash, que estava apoiado na janela do carro.
Do nada o carro freio bruscamente. O motor foi desligado e Cam saiu do carro, batendo a porta com força para fechar-la.
- Entrem no carro agora! - ele falou duramente.
Nós paramos de andar e nos viramos para ele, eu deixei Ju falar, mas ela também estava calada.
- Parem com crise de criancice, entrem nesse carro. Agora! - Cam apontou para o carro - A casa de vocês fica a pelo menos quarenta minutos de carro daqui, a pé levariam horas.
- Cameron, não precisamos da sua ajuda! - Ju tentou ser dura, mas sua voz falhou.
- Julie, não precisa falar comigo, nem olhar para minha cara... Só entra nesse carro. Te deixo em casa, e você nunca mais vai me ver! - Cam baixou o tom, parecia realmente preocupado.
- Por que eu deveria fazer isso? Depois de tudo que você falou, vai querer mesmo uma vagabunda imunda no seu carro? - senti que a voz da Ju falhou e seus olhos incharam, ela queria chorar, não aguentava mais.
- Por que eu não quero acordar amanhã cedo, e descobrir que a única garota que eu gostei foi estuprada e morta e que eu poderia ter feito algo para impedir... - Cam baixou a guarda, mas Ju não.
- Deixa de ser ridículo! Como você pode gostar de uma puta? - Ju estava ofendendo a si mesma, mas estava magoando Cam, pude ver em seus olhos.
- Entrem no carro, por favor... - foi a ultima coisa que Cam falou.
Ju se aproximou do carro e abriu a porta. Me deu passagem para entrar e entrou logo em seguida. Não falamos absolutamente nada um para o outro.
O som estava desligado, e o silêncio era matador. A qualquer momento aquilo iria explodir, os quatro tinham coisas para falar um para o outro, mas ninguém tomava iniciativa.
Estávamos próximos do centro da cidade quando vi no retrovisor luzes azul e vermelha piscando.
- Merda, empurra as garrafas para baixo do banco! - foi a única coisa que Nash disse, enquanto Cam parava o carro.
Um policial se aproximou do carro.
- Você estava acima do limite permitido! - o policial pegou seu bloco e começou a anotar algo.
- Desculpe policial, não irá se repetir! - Cam respondeu, olhando para o volante.
- Vocês podem descer do carro por um instante? - o policial pediu com educação.
Nash foi o primeiro a abrir a porta para descer, depois foi em sintonia que eu, Ju e Cam abrimos.
O policial começou a mexer no carro. Puxou a garrafa que eu havia chutado para baixo do banco e olhou para nós com cara de decepção.
Ele se afastou do nosso carro, voltou para o seu. Pegou seu rádio, falou algo que não consegui entender. Voltou com algo na mão e fez um sinal para Cam de aproximar.
- Você vai precisar soprar isso... - o policial apontou o negócio que estava em sua mão, para Cam.
Cam soprou aquilo, e eu conclui do que se tratava. O policial esteva conferindo o teor alcoólico no corpo de Cam. O que só me fazia rezar para ele não ter bebido nada, pelo menos durante as últimas seis horas.
- Bom, vocês terão que vir comigo! -  o policial fez sinal para nós três nos aproximarmos dele e de Cam.
Era só isso que faltava para meu dia ficar ainda mais bosta. Ser algemada e levada para a delegacia, de novo.

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