22º CAPÍTULO

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- Preciso de uma cama! - foi o que consegui entender da voz abafada de Ju, que estava com a cabeça deitada sobre os braços na mesa a nossa frente.
Estávamos no pátio da escola. Sentamos em uma mesa que ficava perto de uma árvore, que fazia sombra, lugar perfeito para dormir. Já tínhamos combinado que não iríamos entrar na primeira aula. Eu havia pensado em entrar na aula, mas Ju falou que se entrássemos íamos dormir na sala, então aceitei ficar de fora, porque era verdade, eu estava caindo de sono. Quando parava pra pensar a quantia de horas que eu estava acordada me assustava. A cada piscada era um cochilo.
Depois que saímos da delegacia, chegamos em casa faltando meia hora para começar a aula, tomamos banho, tirei meu vestido que estava puro sangue e joguei nas roupas para lavar, coloquei a primeira roupa que vi, uma calça jeans azul clara e uma blusa de manga longa preta, não sei porque coloquei aquela blusa, não estava frio, coloquei a mochila nas costas e fui. Agora estou aqui, mas desejando uma cama.
- Bom dia! - ouvi a voz de Hayes, mas não quis levantar para conferir se era ele mesmo.
- Bom dia... - respondi com a cabeça ainda apoiada nos braços.
- E essa voz? - Hayes zombou da minha voz falha - Você não dormiu? - levantei o rosto e ele pode ver minhas olheiras estilo panda e minha cara de destruída - Esquece a pergunta!
- Hayes, fica quietinho, vamos dormir? - Ju levantou o rosto e brincou.
- Por que vocês não dormiram? - Hayes parecia curioso.
- Muitos problemas! - Ju estava com o pensamento mais rápido do que o meu, então estava respondendo antes mesmo de eu conseguir digerir a pergunta.
- Muitos como? - perguntou - Essas problemas envolvem meu irmão?
- Como você sabe? - perguntei antes de Ju.
- Eu não sei... - Hayes jogou a mochila em cima da mesa e se sentou ao lado de Ju, na minha frente - Deduzi!
- Seja mais especifico... - Ju virou o rosto para Hayes em câmera lenta, ou foi meu cérebro que demorou para processar a imagem.
- Quando estava me arrumando para vir para o colégio vi Nash chegar em casa com meu pai - Hayes olhou para mim, eu estava olhando para ele mas estava viajando - Disse algo com "vá dormi, assim que você acordar iremos ter uma conversa!".
- O filho da mãe está dormindo e nós morrendo de sono aqui! - Ju se mostrou indignada.
- Meu pai não estava brabo, estava preocupado... - Hayes coçou os olhos - eu estava contando as horas para chegar em casa e descobrir o que aconteceu, mas vocês podem me contar... Então comecem!
- Aconteceu muita coisa, mas vou resumir para você... - Ju começou a contar - Basicamente, estávamos em uma festa muito doida, aí perdemos o Matt, quando o encontramos, ele estava todo machucado, bateram nele muito, corremos para o carro e o levamos para o hospital. Depois disso um detetive esquisitão nos obrigou a ir para a delegacia, demos nosso depoimento, aí estávamos esperando lindamente para sermos liberados e a mãe doida do Matt chegou lá, bateu no Cam e xingou ele muito. Em resumo, passamos a noite na delegacia, fomos pra casa, tomamos banho e estamos aqui te contando como foi nossa noite! - Ju falou sem nenhuma emoção na voz.
- O que? - Hayes deu um pulo e ficou em pé no mesmo momento - Matt está em que hospital? Preciso vê-lo!
- Nem adianta! - Ju disse, para cortar o desespero de Hayes - A ultima vez que falei com Cam, antes da Tracy pegar nossos celulares, ele disse que a mãe de Matt estava de plantão lá, e proibiu a entrada de qualquer amigo, ou de qualquer um que não seja ela!
- Ela não pode fazer isso! - Hayes ficou furioso com o que ju disse - Eu vou lá, preciso vê-lo, vocês não estão entendendo!
- Hayes... - levantei e fui até o seu lado, sabia que ele não ia desistir daquela idéia de ir ver Matt - Não adianta nada, ela não vai deixar você entrar... Deixa ela se acalmar, e Matt voltar para casa, ele será liberado entre hoje e amanhã!
Hayes demorou muito para aceitar não ir até o hospital, mas acabou cedendo.
Depois que Hayes entrou na sala, eu e Ju decidimos falar com a coordenação, e pedir para que nos liberasse, não íamos aguentar até o sinal final. Contamos a história e a coordenadora se comoveu, ligou para Tracy que disse que podia nos liberar. Depois que saímos da escola, só imaginei minha cama. Pegamos um ônibus e fomos embora.
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Acordei, porque ouvi um dos meninos chorar, mal abri os olhos, a cortina estava aberta pude ver que estava escuro. Peguei o despertador que estava no balcão do lado da cama, eram oito horas. Eu dormi todas essas horas e continuava com sono.
Levantei para ver se Tracy precisava de ajuda.
- Tracy... - entrei no quarto dos meninos, onde os dois estavam chorando e Tracy estava com o Tobias no colo, tentando acalma-lo - precisa de ajuda? - perguntei, já sabendo a resposta.
- Por favor! - Tracy respondeu, ela levou um susto quando eu apareci no quarto, acho que ela não esperava me ver - Não sei o que aconteceu, eles estão nervosos o dia todo!
- Olá meu amor... - me aproximei de Tomas, que estava chorando no berço - Por que você está tão nervoso?
Peguei Tomas no colo, comecei a embala-lo e cantar. Cantei a música que minha mãe costumava cantar para mim e Izzie dormirmos, "You'll Be In My Heart", música tema do filme do Tarzan, Izzie amava o filme.
"Não tenha medo
Pare de chorar
Me dê a mão
Venha cá 
Vou proteger-te de todo o mal
Não há razão pra chorar 
No seu olhar eu posso ver
A força pra lutar e pra vencer
O amor nos une para sempre
Não há razão pra chorar 
Pois no meu coração
Você vai sempre estar
O meu amor contigo vai ser livre 
No meu coração
Aonde quer que eu vá
Você vai sempre estar
Aqui..."
Antes mesmo de eu terminar a música Tomas já havia parado de chorar, e Tobias também.
Tomas estava em meus braços, me olhando com os olhos inchados de choro, continuei embalando e cantarolando a música, até ele pegar no sono.
Não demorou muito, terminei de cantarolar e os dois estavam dormido já. Coloquei Tomas no berço e Tracy colocou Tobias.
Descemos até a cozinha, Tracy parecia alivia, pelo dois terem parado de chorar.
- Não sei que mágica você fez... Mas obrigada! - Tracy pegou duas xícaras do armário e colocou em cima do balcão onde eu estava apoiada - Chá?
- Minha mãe costumava cantar para mim e minha irmã, lembro como me acalmava! - sorri para ela - Adoraria, chá de maçã, por favor...
- Meu favorito! - ela sorriu e colocou água para esquentar.
Ficamos conversando sobre lembranças de infância por um longo tempo.
- Tracy, posso te pedir uma coisa? - falei com receio.
- Claro minha amada! - ela sorriu com os olhos e deu um gole no sei chá.
- Você acharia ruim, eu e Ju irmos visitar Matt em sua casa? - dei um gole no meu chá, para esperar a resposta "acharia, vocês estão de castigo".
- Claro que não! - quase me cuspi toda quando Tracy aceitou - Ele precisa do apoio dos amigos!
- Você jura? - não consegui esconder a emoção.
- Sim! - ela riu - Mas tenho uma condição... - ela me olhou, minha alegria foi embora na mesma hora - A Ash vai ir com vocês, vocês irão da casa dele direto para casa, sem falar com aqueles outros dois mocinhos que estavam na delegacia! Desculpe, mas eu sei que o único jeito de punir vocês duas é esse... E mais uma coisa, você terá que cantar para Tobias e Tomas quando eles estiverem nervosos, pelo visto eles amaram!
- Tudo bem Tracy, está ótimo assim! Canto para eles todos os dias, sem problemas... - dei uma risadinha da brincadeira de Tracy, é claro que eu queria ver Cam e Nash, mas no momento eu estava preocupada com Matt, precisava saber como ele estava - Estou preocupada com Matt, preciso vê-lo.
- Então combinado! - ela sorriu - Vocês aproveitam e levam Tobias e Tomas para passear, assim eles não ficam muito agitados na hora de dormi.
Saber que eu poderia ver Matt, saber como ele estava, pode vê-lo se recuperar. Era isso que eu precisava para ficar melhor, ver Matt melhor, e sorrindo como antes.
Quando vi o horário já eram dez da noite. Tracy pediu licença e disse que iria dormir, porque amanhã o trabalho seria longo. Subi junto com ela e voltei para a cama. Ju estava dormindo ainda, não sei como ela não estava com dor no corpo.

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