4º CAPÍTULO

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Eram sete e quarenta da manhã, tínhamos vinte minutos para chegar no colégio. Estava sentada, esperando Ju voltar do banheiro para irmos, já tinha comido, resolvi checar a caixa de entrada de meus e-mails, para ver se minha irmã havia retornado. Nada. Estava vazia. Não falava com Izzie a tanto tempo, que se quiser falar com certeza quantos anos que não há vejo, estarei mentindo. Meus pais a mandaram para um colégio interno quando éramos crianças ainda, eu deveria ter seis anos e ela oito. Eu era pequena demais para entender o que estava acontecendo, uma hora minha irmã esta comigo e na outra ela foi embora, pra sempre. Nunca respondeu a nenhum e-mail meu, nem atendia meus telefonemas, como era um internato, ela podia receber uma ligação por semana, quando ganhei mais idade e comecei a tomar conta do que estava acontecendo, no auge dos meus treze anos, ligava toda semana para Izzie, para conversar, mas ela nunca atendia, sempre mandava inventarem uma desculpa, porque não queria falar comigo. Ela colocou a culpa do que aconteceu com ela, em mim. E eu tinha culpa. Eu e Izzie brigávamos muito pela atenção de meus pais, e eu aprontava, fazia coisas que meus pais não toleravam e colocava a culpa em Izzie, e meus pais acreditavam em mim. Cortei meus cabelos com a tesoura da escola, e coloquei a culpa nela, meus pais não aceitaram, brigaram muito com ela, só lembro dela chorando e falando que eu tinha feito aquilo, eu ficava na porta do quarto de Izzie rindo, enquanto ela levava bronca. E no amanhecer desse dia, não vi mais Izzie, ela tinha desaparecido, sumido. E eu me culpei amargamente, como ela me culpa também.

Pelas minhas contas, Izzie já esta formada, ela é dois anos mais velha que eu, e estou no terceiro ano, então ela se formou ano passado. Mas não procurou a família, Izzie se formou e sumiu. Mando diversos e-mails todos os dias, porque quero minha irmã de volta, mas ela nunca retorna.

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- Esta preparada? – Ju perguntou, segurando minha mão, enquanto estávamos paradas em frente a porta da frente da escola – Nosso primeiro dia, quero que seja perfeito!

Bom, aquilo era uma escola, não importa em que lugar do mundo ela vai estar, eu sempre – sempre mesmo – vou odiá-la.

Eu estava com sono e cansada da noite passada, e toda aquela alegria de Ju estava me irritando. Eu só queria entrar, pegar meu horário, entrar na sala e dormir na mesa.

- Vocês são as Brasileiras? – um garoto de cabelos castanhos e olhos tão claros quanto os meus, perguntou, logo quando dobramos o primeiro corredor. – Sou o Hayes, eu sou muitas coisas nessa escola, então para o que precisar e só me procurar, vou ajuda-las com muito prazer.

- Somos as brasileiras sim, e no momento procuro a sala do diretor, pode nos levar até lá? – Ju pediu, já que eu não consigo falar com ninguém antes das dez da manhã – Seremos eternamente gratas se fizer isso, e evitar que ficamos andando igual idiotas pelos corredores procurando.

- Eu serei eternamente grata se me arrumar uma cama! – disse, sem pensar. Não consigo evitar grosseirias antes das dez, esta no meu sangue, é bem maior do que eu. Eu não queria, juro, ele estava sendo legal conosco, mas não pude evitar.

- Claro que posso, só me seguir. – Hayes respondeu, aparentou ficar muito feliz por poder ajudar. Só não sei se a felicidade toda foi porque ajudou alguém, ou foi porque foi visto por todos do colégio com as brasileiras. Eu estava com sono, mas nunca deixo de observa, ainda mais quando estou com óculos escuro, que posso encarar todo mundo sem eles saberem que estou encarando. Por onde passávamos, todos olhavam e cochichavam entre si. Parecia cena de filme, foi engraçado ver toda aquela galera olhando para nós duas como se fossemos deuses. Acho que vou gostar dessa escola.

TräumenOnde histórias criam vida. Descubra agora