Só existia uma coisa no universo que eu odiava mais que os planos malucos de Ju e o barulho do ventilador. O som do despertador. E por incrível que pareça, acordei exatos dois minutos antes de o despertador tocar, então o desliguei e resolvi tomar um banho, para mais tarde ir para a escola. Eram seis da manhã, não estava frio, mas também não estava calor. Nosso primeiro dia de aula e eu estava acabada, meus pés estavam me torturando de dor. Não podemos faltar por dois motivos, primeiro o intercâmbio não permite - a não ser que ficássemos doentes a beira da morte, assim sim - e segundo, nossa família adotiva não sabia que havíamos saído ontem à noite, então não teria como faltar, de forma alguma.
Hoje completa duas semanas que estamos em Los Angeles, chegamos antes que as férias de verão acabassem. Vamos ficar aqui até o final do ano, são seis meses se não me engano. Essas duas semanas que estamos aqui, era para que nos adaptássemos aos costumes, já que o Brasil é um país um tanto diferente de todos os outros existentes na face da Terra - ou de qualquer outro planeta -, mas não usamos bem para isso. Sabemos que nunca vamos nos adaptar aos costumes daqui.
Quando desembarcamos do avião, pegamos nossas malas e fomos correndo ao portão de desembarque. Haviam nos dito que haveria famílias, que iriam nos adotar durante todo o período de intercâmbio, nos esperando lá, com placas com nossos nomes. Papai pagou para um cara que trabalhava com a distribuição dos intercâmbistas nas casas, para que eu e Ju ficássemos juntas, então essa não era nossa preocupação. Só estávamos loucas para conhecer as pessoas com quem iriamos morar durante seis meses.
Ao passar pelo portão de desembarque cada uma olhou para um lado, à procura da placa com nossos nomes. Avistei uma mulher que não era magra igual a um esqueleto e nem gorda igual a um elefante, ela era meio termo. Ju a chamaria de "cheinha". Era alta, bem branca, cabelos na altura dos ombros pintados de cinza e estava segurando a mão de uma criança. Era uma menininha linda. Bem branquinha, os cabelos batiam na bunda e tinham a cor de fogo, um dos ruivos mais lindos que já vi, seus olhos eram grandes e bem verdes, verdes como a grama e também tinha várias sardinhas na pele. Era uma criança adorável, ela agradava meus olhos.
Puxei Ju para mostrar que havia achado nossa família, todos os outros que haviam desembarcado com nós já tinham encontrado suas famílias, já estavam abraçando, se apresentando, então peguei na mão de Ju e fomos até a nossa.
Apresentamo-nos à mulher, que foi muito educada, e parecia muito empolgada com nossa chegada. Infelizmente a garotinha que estava com ela não era sua filha, era filha de sua irmã, que estava trabalhando e havia deixado para que ela cuidasse da garota enquanto estava fora. Mas descobrimos que nossos irmãozinhos adotivos eram dois bebês gêmeos, de seis meses, que ficara em casa nos esperando.
A caminho de casa, a mulher, que chamava Tracy, foi nos contando um pouco de sua vida. Era viúva a dois meses, seu marido, Devon, faleceu por causa de um tumor no cérebro. Morava sozinha com os dois filhos, e se inscreveu no programa de adoção de intercâmbistas, pois a sua casa era muito grande, e pareceu mais grande ainda quando seu marido se foi, para que os estudantes trouxessem alegria a sua vida e a de seus filhos também. Tracy trabalhava o dia fora, e pelo que entendi a empregada da casa cuidava dos meninos, enquanto estava no serviço. A casa ficava perto do centro, e a escola que iríamos estudar ficava próxima ao centro também.
Quando chegamos na casa, que era distante do aeroporto, pude entender quando ela disse "a casa é muito grande". A casa parecia um castelo, tinha três andares. O primeiro andar ficavam as duas salas, uma sala para receber visitas e a outra para quando as crianças crescerem, terem aonde brincar, a famosa "sala da bagunça", a cozinha, que era segundo Ju, maior que seu apartamento todo e um banheiro enorme. No segundo andar estavam os quatro quartos, o principal, que era do casal, um para cada um dos meninos, e um de visitas. Enquanto os meninos são muito novos, um dos quartos estava sendo um escritório. Todos os quartos eram suítes. O ultimo andar era uma biblioteca. Havia estantes repletas de livros em todas as paredes, e tinha umas poltronas pelo cômodo, Tracy disse que seu marido amava ler, só não imaginei que era tanto.
Entrei no quarto dos meninos, quando os vi nos berços, dormindo, como anjos, foi amor à primeira vista. Eu só queria abraçar e beijar aquelas duas coisinhas fofas e gostosas. Eles eram tão fofos que dava vontade de agredir. Seus nomes eram Tobias e Tomas, tinham os poucos fios de cabelo, bem pretos, seus olhos eram azuis como o céu em um dia de verão.
- Você não se cansa de fazer isso né? - pergunta Ju, que esta parada apoiada na batente da porta, de braços cruzados, pés descalços e vestindo sua camisola preta de seda - Já está ai a mais de vinte minutos, acho que deveria pensar com o chuveiro desligado.
- Desculpe, eu nem notei o tempo passando. - respondi enquanto desligava o chuveiro e pegava uma toalha.
- Quando você começa a sonhar acordada você nunca nota nada a sua volta. - respondeu Ju, já tirando a camisola e entrando no box, para tomar banho, enquanto eu me secava do lado de fora. - Vamos tomar café da manhã naquela padaria no centro?
- Vamos sim, só você terminar ai e vamos. A aula começa as oito, e não quero me atrasar, então corre ai! - brinquei
- Amiga, é você que demora horas no banho porque esta no mundo da lua! - enquanto Ju falava, eu já estava no quarto pensando que roupa iria usar no primeiro dia de aula.
Resolvi colocar uma calça jeans azul clara, e uma regata preta. Não quis me arrumar muito, porque não sei como as pessoas se vestem aqui, fiquei com medo de me arrumar demais, como vejo nos filmes, que as garotas vão até de salto alto pra escola, e não for nada disso, acho que iria me sentir um lixo. Optei pelo básico, que foi a mesma escolha de Ju, que colocou uma calça jeans escura e uma regata branca, que ficou perfeito, porque ela tem muito mais peitos que eu, não que eu não tenha, mas é que qualquer peito perto dos peitos de Ju são ameixas.
Peguei minha bolsa e fui ate o quarto dos meninos dar um beijo de bom dia. Desci e fui para a cozinha, Ju veio logo atrás, Tracy estava toda enrolada, com um monte de papel do trabalho.
- Vocês vão tomar café da manhã? - perguntou Tracy, tentando colocar aquele mundo de folhas dentro de uma pasta vermelha.
- Vamos tomar café da manhã naquela padaria do centro, que fica perto da escola, pode nos deixar lá? - perguntei, tentando ser o mais educada possível - De lá, vamos direto pro colégio, prometemos!
- Claro que sim, só prometam que não vão fazer nenhuma loucura e que vão para a escola mesmo! - Tracy falou brincando, nesse momento olhei para a Ju, que estava segurando a risada, estávamos pensando, certamente, na mesmas coisa, em todas nossas loucuras dessas ultimas duas semanas.
Coloquei meu óculos de sol, pois o sol já estava forte e estava me matando, e foi uma maneira de esconder as olheiras tamanho gigante em minha cara. Ju usou o mesmo truque, já que odiávamos passar maquiagem de manhã. Somos a favor da "cara limpa" as sete da manhã.
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Träumen
Genç KurguE se você estivesse vivendo um conto de fadas, a história perfeita que toda garota sonha. Encontrar o cara certo, que te faça feliz a cada segundo que esta ao seu lado. Com pais um tanto quanto liberais. Sua melhor amiga agora mora com você. Sua irm...