35º CAPÍTULO

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Fiquei alguns segundos parada nas escadas, tentando me recompor e digerir tudo que eu havia acabado de ouvir. Minha sorte foi que Hayes não veio atrás de mim, não saiu do quarto depois que eu sai, deve ter ficado pensando na bosta que ele fez, ou se ele for ridículo o suficiente, deve estar colocando a culpa em alguém, por tudo isso.
Eu não poderia ficar parada la pra sempre, então desci para a sala. Matt e Ju estavam jogando ainda.
- Vicky... - ouvi a voz de Nash me chamar quando cheguei aos pés da escada, mas não ouvi de onde vinha - Ela está bem?
- Não falei com Izzie, ela estava dormindo, não quis acorda-la! - respondi, quando segui o som de sua voz e o vi perto da cozinha.
- Você ficou até agora admirado ela? - Matt brincou, pela minha demora no segundo andar.
Eu respondi só rindo, não quis comentar para não vir mais perguntas.
- Vamos Ju? - chamei Ju para ir embora, já havia tido emoções demais para um domingo.
- Mas já? - Ju fez cara de criança - Eu estava ganhando do Matt!
- Teu cu Ju! - Matt se defendeu - Ganhei duas vezes já!
Enquanto os dois ficaram se batendo e brincando, Nash se aproximou de mim, sem eu perceber. Percebi que ele estava perto demais quando meus pelos da nuca ficaram todos arrepiados.
- A gente pode conversar? - Nash falou baixo, para só eu ouvir.
- Nash... - peguei em seu braço e olhei fundo em seus olhos - Eu preciso ir. Amanhã eu volto para trazer coisas para Izzie, que eu esqueci, e prometo para você que conversaremos...
Eu não queria conversar, eu queria ir para casa, o problema não era ele, era eu.
- Vamos Ju? - a chamei de novo.
- Vamos senhora, vamos... - Ju zombou e levantou do sofá.
Dei tchau para Matt e fui até a porta, Nash veio junto.
- Desculpa... - falei baixinho para Nash, senti um pouco de culpa, por ele querer conversar e eu ter sido tão grossa
Ele não falou nada, só baixou o olhar, o que fez minha culpa quase me estrangular. Eu queria beija-lo, até ter vontade de tirar a roupa e ir direto para a cama, esquecer tudo que tinha acontecido. Acho que eu merecia relaxar um pouco e sentir um pouco de prazer, já que era a única coisa que eu não senti nessas últimas horas.
- Até amanhã... - lhe dei um beijo na bochecha e fui embora.
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Quando pegamos uma distância relevante da casa de Nash, e eu ainda estava em silêncio, Ju não aguentou.
- Ok, pode começar a falar... - Ju me tirou do meu mundinho - O que aconteceu lá em cima?
- Nada... - respondi, mas não fui muito convincente.
- Vicky - Ju parou na minha frente, me impedindo de passar - Você vai realmente tentar mentir para mim?
- Conversei com Hayes! - Ju me olhou com cara de cu - Eu sei o que você está pensando, mas eu precisei amiga, eu precisava ouvir da boca dele, só assim...
- Só assim você iria esquecê-lo? - Ju me interrompeu - Você gostava dele, mas não queria gostar, e precisou disso pra acabar com o único sentimento que sobrou...
- Não é isso Julie... - tentei falar, mas ela me interrompeu de novo.
- É isso sim Vicky, mas saiba que não é a mim que você está enganando, é a si mesma, admita que você não queria gostar do Hayes por causa do Nash, porque você quer gostar dele, tanto quanto gosta do Hayes... - Ju fez um pausa - Você precisa tomar uma decisão, antes que seja tarde de mais, e a pessoa a sair magoada disso tudo será você...
Antes de eu conseguir responder, Ju virou as costas e me deixou sozinha.
Querendo ou não, tudo que ela falou, uma parte de mim diz que é verdade, e a outra luta falando que não.
Eu não sei o que sinto pelo Nash, não sei o que sinto pelo Hayes. Não sei nem se é com um deles que eu deveria ficar. Não quero magoar nenhum dos dois, mas também não quero sair magoada disso tudo.
Eu não sei o que fazer.
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Depois de chegar em casa, não falei mais com Ju. Ela estava irritada comigo, eu só não estendia o motivo. Ela me falou tudo aquilo, mas eu não compreendi o porquê de toda sua irritação.
Eu estava sem comer a muito tempo, então resolvi ir para a cozinha comer. Tracy havia ido buscar os meninos da casa de sua mãe, e Ju provavelmente estava no quarto.
Comi um sanduíche, porque era rápido e prático. Deixei a louça na pia, porque fiquei com preguiça de lavá-la.
Subindo as escadas, comecei a pensar. Ou Ju iria me ignorar totalmente, ou iríamos discutir, e eu realmente não estava com animo para discussão, então estava torcendo para ela me ignorar totalmente.
Então resolvi ir até a biblioteca, ler algo, ou somente ficar sentada em alguma daquelas poltronas, até Ju dormir e eu poder entrar no quarto.
Fui até a biblioteca e comecei a mexer nos livros. Achei um que parecia ser bom, pelo menos sua sinopse me chamou a atenção, era a história de um menino que estava sendo acusado de matar a namorada, achei interessante, peguei porque esse seria meu companheiro da noite.
Comecei a ler e só percebi que adormeci, quando acordei com dor no corpo. Eu estava toda torta na poltrona, com o livro no meu colo. Olhei para o relógio pendurado na parede, era passada da uma da manhã. Ju provavelmente estaria dormindo desde as dez. Guardei o livro na mesma prateleira que peguei e desci até o andar dos quartos.
A casa estava em silêncio absoluto, todas as luzes apagadas. A única coisa que iluminava o corredor, era a luz do luar. Abri a porta do quarto bem devagar e calmamente, para não acordar Ju. Peguei o celular para iluminar o caminho até a cama e fechei a porta. O quarto estava muito escuro, então iluminei o caminho até o guarda-roupa, para pegar meu pijama, me troquei no escuro mesmo e fui para a cama.
Talvez o que eu precisasse era um boa noite de sono, ou de uma boa cachaça, para esquecer tudo isso.

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