54º CAPÍTULO

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A festa estava barulhenta e cheia. Todos queriam estar perto de mim e de Ju para perguntar coisas sobre o intercâmbio. Queriam saber tudo que aconteceu.
Ju estava se divertindo tanto e eu só queria estar na minha cama. Minha cabeça latejava, como se eu tivesse levado uma pancada muito forte.
No ápice da festa, quando fizeram uma roda, para eu e Ju podermos contar nossas histórias, senti uma dor tão forte que foi como se meu crânio tivesse rachado. Meus olhos tremeram. Meus ouvidos entupiram. Meu corpo cedeu. Quis desmaiar.
- O que aconteceu, Vicky? - Ju gritou.
Não consegui falar nada, só sentei no sofá que estava atrás de mim e apoiei minha cabeça em minhas mãos.
Todos se aproximaram, e ficaram repetindo a mesma pergunta "você está bem?", cada som que saia de suas bocas, entrava por meus ouvidos e chutava meu cérebro.
Tentei levantar o olhar, e pedir para todos calarem a maldita boca, mas quando olhei para eles, não vi seus rostos. Estavam com a face preta.
Me assustei, pensei em fechar os olhos e chorar. O que estava acontecendo comigo?
Meus pés pensaram por si só. Tomaram a iniciativa, como se não fizessem mais parte do meu corpo. Como se tivessem vida própria. Comecei a correr.
Estava na rua, correndo para qualquer lugar, longe dali. Não sabia para onde estava indo. A única coisa que conseguia pensar era em sair de perto de todo mundo.
- Onde você vai? - ouvi a voz de Ju, antes de abrir a porta da saída e partir para a rua.
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~Emma~

Duas horas se passaram. Só chorei. Não pensei. Muito menos "aceitei a ideia". Minha filha não podia estar morta. Ela estava ali, respirando, do meu lado.
- Emma... - David chamou minha atenção, mas não respondi.
Eu estava, a duas horas, parada ao lado da cama, somente olhado minha pequena flor, minha princesinha. Eu não podia perder mais uma filha. A única que me restava.
- Amor! - não percebi David se aproximar, mas ele já estava ao meu lado - Nós precisamos conversar...
- Não, David... - chorei mais - Não podemos fazer isso com ela! Ela está viva, você não vê?
- Você sabe que ela não está mais ali... - David sorriu em meio as lágrimas - Nossa menina era alegre, espontânea, brincalhona, e estava sempre conversando... Sinto falta dela, tanto quanto você! Mas não podemos prendê-la aqui... Ela não está mais entre nós, temos que aceitar...
- Mas é nossa menina... - as lágrimas e o bolo que formou em minha garganta me impediram de falar.
Abracei David, como se fosse uma criança, abraçando a mãe depois de ter se machucado em alguma brincadeira que deu errado. Chorei. Chorei muito. Soluçava como um bebê. Não podia imaginar minha vida sem minhas duas princesas.
Uma delas já havia sido arrancada de mim, de um modo horrível. Agora a outra? Deus não podia estar fazendo aquilo por achar certo. Aquilo ia acabar me matando.
- Emma, precisamos deixá-la ir! - foi a frase que iria por um fim a um pesadelo que achei que jamais acabaria.
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~Vicky~
Eu corria de olhos fechados. Tudo em minha volta parecia me incomodar de alguma maneira.
Corri como se o mundo atrás de mim estivesse se desfazendo.
Senti meu corpo travar, e para bruscamente. Abri os olhos e estava parada no cruzamento perto de minha casa, aquele que passei horas antes e comecei a me sentir mal.
Minha respiração ficou pesada. Minha cabeça parou de latejar. O dia ficou cinza e senti minha vida leve como uma nuvem.
Estava começando a me sentir melhor, pela dor ter sumido repentinamente. Confesso que fiquei até feliz.
Estava em meu momento êxtase, saboreando o fim da dor, quando um carro, em alta velocidade e descontrolado, passa pelo cruzamento e é atingido em cheio por um caminhão. Meu coração acelerou, dei um grito, pois me assustei com o barulho.
As pessoas, a volta, pararam o que estavam fazendo e ficaram olhando a tragédia. Peguei meu celular para tentar ligar para a emergência mas estava sem bateria. Corri até um senhor que estava próximo de mim, ele talvez pudesse ajudar.
- Senhor! - falei desesperada - Ligue para a emergência, precisamos ajudar aquelas pessoas!
O senhor me ignorou totalmente, nem sequer me olhou. Fiquei indignada com tanta falta de amor no coração daquele senhor, por não ligar para a emergência, tão pouco se importar com as pessoas que estavam machucadas ali.
Corri para outro grupo de pessoas que estava mais a frente.
- Vocês precisam ligar para a emergência, aquelas pessoas precisam de ajuda! - gritei.
Fui ignorada novamente. Puxei o colarinho de um homem, que deveria ter uns quarenta anos, mas foi em vão. Foi como se eu não estivesse lá. Foi como se eu não existisse.
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