EPILOGO FINAL

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Sinto o carro desacelerando e meus pelos se arrepiando. Sei que está chegando a hora, e terei que encarar isso, finalmente.
Hoje completa dois anos do começo de um pesadelo e um ano de seu final, e mesmo assim ainda não consigo encarar a realidade.
Meus pés tremem, minha boca fica seca. Não sei se serei capaz de fazer isso.
David me olha de canto, segurando firme o volante, enquanto está sentado no banco do motorista, sei o que ele está pensando, que eu devo ser forte.
Sei o que ele quer dizer, mas eu já estou cheia de todos me dizendo isso. Ninguém poderia entender o que eu estou sentido, o quanto eu estou sofrendo.
Falar para ser forte é simples, complicado é conseguir levantar daquele banco e encarar o que tento evitar a um ano.
Palavras já não existem, para descrever os meus sentimentos. Ou o que sobrou deles.
Eu poderia ficar horas dentro do carro, somente lembrando de todas as coisas que aconteceram nesses últimos dois anos. Mas isso só acabaria mais e mais com o que restou de minha alma.
Sem pensar duas vezes abri a porta do carro e sai. Caminhando em direção a porta de entrada, senti atrás de mim a porta de David de abrir também, me virei rapidamente para lhe olhar nos olhos.
- Preciso fazer isso sozinha. - pedi.
David não falou nada, coincidiu com a cabeça e balbuciou, "seja forte", quase que sem som.
Essa frase martela em minha mente todos os dias. Eu quero gritar, quero pedir para pararem de me pedir para ser algo que eu nunca vou conseguir ser.
O arco, que ficava em cima do portão de entrada, trazia consigo, em letras grandes, a palavra "CEMITÉRIO", aquilo chacoalhou meu coração.
Travei por alguns segundos, mas em seguida ordenei minhas pernas a andarem.
Caminhando por entre túmulos, me senti vazia. Mas vendo as centenas de pessoas, em volta, provavelmente visitando um ente querido, não me senti só.
Aquele, certamente, era o momento mais difícil da minha vida. Visitar duas filhas em um cemitério, destrói qualquer mãe.
Qualquer mãe, que ame seus filhos, saberá o que eu estou sentindo. Qualquer pessoa, que perdeu quem ama, saberá o que estou passando.
Perdi mais do que duas filhas, nesses dois anos. Perdi minha vida. Perdi minha alma. Perdi tudo.
Eu não sabia como fazer aquilo. Ver a lápide das duas, postas uma ao lado da outra, com seus nomes e fotos sorridentes, me fez querer correr, para longe. Mas não consegui.
Meu corpo desabou em frente a lápide das duas. Havia alguns buquês deixados para elas. Aquilo me fez chorar.
- Izzie, minha pequena grande mulher... - as lágrimas começaram a tomar conta de mim, tive que limpar a garganta com uma leve tosse para conseguir falar - Você tinha tanto para vencer na vida, seria uma grande médica, salvando as vidas de muitas pessoas... Mas Deus tirou a sua, pois sua missão na terra havia acabado... Eu te amo, minha filha! - não consegui pronunciar a palavra "filha" sem soluçar.
Olhar para a lápide dos meus bebês estava me matando.
- Minha pequena Vicky... - eu não iria conseguir suportar mais dois segundos ali - Onde quer que esteja, eu te amo! Sua irmã está contigo, o que me conforta, você odeia ficar sozinha... - dei uma pequena risada, lembrando do quanto Vicky ficava braba quando ficava sozinha.
Olhei para as lápides por mais alguns momentos e senti meu mundo acabando.
Levantei as pressas de lá, precisava correr o mais rápido possível, não suportaria mais nem um segundo ali.
Caminhando rápido, para voltar ao carro, me viro, para dizer um ultimo adeus a minhas filhas.
Consegui ler, em uma lápide grande, a seguinte frase:

"Se o seu irmão pecar, repreenda-o. E se ele se arrepender, perdoe-o." Lucas17:3-4

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