Eram nove da manhã e eu já estava acordada. Provavelmente eu fui dormir, novamente, pelas sete, o que acarretou em mais ou menos umas três horas de sono, se contar o que dormi antes de ser acordada pelo falatório de Matt e Izzie.
Eu estava sentada na varanda de trás da casa, olhando e admirando o verde. Não acordei ninguém porque era muito cedo, e também porque Tracy mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, como havia feito hora a hora desde que nos deixou sozinha, respondi que estava tudo tranquilo e que estávamos com saudades, ela logo respondeu que chegaria pelas quatro da tarde em casa, sairia mais cedo de lá, para não pegar trânsito.
Deixarei eles dormindo, no máximo até ao meio dia, ou até alguém levantar, aí serei obrigada a acordar todo mundo.
Por mais que eu tenha dormido três horas na ultima noite, e pouco mais na noite anterior, por causa de Nash, eu não estava com sono. Acho que os turbilhões de pensamentos estavam me mantendo acordada. Sem contar no tanto de emoções para um final de semana só.
Ouvi a porta dos fundos se abrir, era Cam. Eu estava sentada no banco próximo a porta, e ele só apareceu e me olhou.
- Posso te fazer companhia? - perguntou, apoiado na batente da porta.
Só fiz um sinal com a cabeça e ele entendeu como um "sim".
Abracei minhas pernas, e apoiei meu rosto em meus joelhos. Foi um tópico movimento de preservação, tentei esconder meus sentimentos, mas não deu muito certo.
- Não conseguiu dormir? - Cam perguntou olhando para as árvores, não se virou para mim.
- Não, e você? - perguntei, para tirar o foco de mim.
- Também não... - Cam suspirou e coçou os olhos.
- Por que? - perguntei antes que ele me perguntasse.
- Você sabe... - deu um sorriso cansado, ainda olhando o nada - Ju! Está tudo estragado.
- Você estragou tudo, Cam! - fitei ele, e ele respondeu meu olhar.
- A culpa não foi minha... - falou de um jeito tão machista, que quis chuta-lo.
- Não? Tem certeza? - questionei.
- O que eu fiz? - me indignei com a pergunta, mas como muitas pesquisas já comprovaram, os homens não se fazem de desentendidos, é que eles realmente não entendem.
- Se você soubesse o quando ela já chorou por causa dessa foto, não estaria me perguntando o que você fez e sim me perguntando como consertar! - peguei no braço de Cam, para demonstrar afeto.
Querendo ou não, minha melhor amiga gosta dele. É meu dever, como amiga, de mostrá-lo a verdade. Ela iria me odiar por fazer isso, mas ela nunca ficará sabendo que tem mão minha por trás.
- Ju é cínica. Sua maior arma é o sarcasmo, ela não está mal pela foto, ela ama atenção, então não se importou com a humilhação que eu passei... - Cam estava sendo tão machista, só vendo o próprio nariz, que eu quis quebra-lo no soco.
- Você tem razão! - concordei, para o espanto dele - Ju é cínica, sarcasmo é uma de suas melhores habilidades. Ela ama atenção sim, mas voltada para sua sensualidade, sua beleza, sua inteligência... Não para seus peitos! Muito menos em uma foto, que ela não coincidiu em tirar, muito menos mandar para a escola toda, e sabe se lá para quem mais.
Cam fitou o chão, demonstrando uma pitada de arrependimento.
- Por que ela não me falou isso? Por que preferiu me humilhar ao me contar isso? - Cam estava tentando tirar a culpa dele, de alguma forma, mas eu percebi isso, só que não há nada que tire sua culpa.
- Cameron, não é só porque você levou a Ju para a cama, mais de uma vez, que ela confia em você... Confiança se conquista... Ju não demonstra fraqueza na frente dos outros... - eu sei que deveria ser dura com ele, mas eu não conseguia - Você humilhou ela, antes mesmo dela poder te explicar! Já pensou no que ela pode ter sentido? Além de ter sido humilhada pelo cara que ela gosta, a escola inteira está rindo dela... - levantei nesse momento, e o deixei pensando sozinho.
Entrei na cozinha e pensei em subir para meu quarto, precisava tomar um banho, me trocar, fazer coisas de menina, que eu não sabia ainda muito bem o que seria, mas eu precisava de um tempo para mim. Talvez um filme melancólico e um pote de sorvete me ajudaria a descobrir.
Fui para a sala, não sabia o que iria fazer até todos acordarem. Minha conversa com Cam foi produtiva, estava rezando para ele absorver, pelo menos o mínimo, do que falei.
- Vamos acordar! - Nash desceu as escadas gritando e batendo palmas - Vai cambada de sem vergonha, levanta agora!
Ouvi resmungos de Ju e Matt. Izzie abriu os olhos assustada e se sentou rapidamente. Acho que assim que retomou a consciência e percebeu onde estava de acalmou, foi o que pude deduzir de seus movimentos. Ela levantou rapidamente, olhou a sua volta e em seguida passou a mão no rosto, não precisa ser nenhum profissional em leitura de comportamento, para saber que ela estava assustada.
Matt bocejou que parecia que ia engolir todo mundo. Ju levantou, coçou os olhos e subiu as escadas falando que já voltava. Cam apareceu perto da mureta da cozinha. E Nash ficou parado perto das escadas.
- Ainda bem que todos acordaram por livre e espontânea vontade... - brinquei - Meninos, podem esvaziar o colchão e dar uma arrumada aqui, enquanto mostro para Izzie onde ela pode se lavar?
- Sem problemas chefe! - Matt respondeu dando outro bocejo.
Izzie levantou e veio atrás de mim. Subimos as escadas e a levei até meu quarto. Pude ver, do corredor, Ju deitada, dormindo, na cama. Não a acordei, porque fiquei com pena.
Levei Izzie até o banheiro e a entreguei uma toalha.
- Se quiser tomar banho... - entreguei a toalha em suas mãos - Pode ficar a vontade! - me virei para sair.
- Vicky... - Izzie me chamou - Não tenho roupas...
- Sem problemas! Prefere calça ou short? Regata ou camiseta? - perguntei me aproximando do guarda-roupa.
- Uma calça e um casaco, por favor! - ela sorriu, foi seu primeiro sorriso para mim.
- Deve estar uns mil graus lá fora... - fiquei assustada com o pedido.
- Por favor... - ela baixou a cabeça.
Que bola fora que eu dei. Esqueci de todas as marcas e cicatrizes, e as marcas nas pernas, da qual ela não se orgulho para sai expondo para todo mundo perguntar como as conseguiu, como um troféu pela sua rebeldia.
- Ok! Vou deixar na cama... Fique a vontade, irei ajudar os meninos a guardar as coisas. - ela coincidiu com a cabeça e fechou a porta do banheiro.
Coloquei a roupa na cama e sai do quarto.
Desci até a sala, e para me espanto, o colchão já estava vazio, porém mal dobrado, e os meninos estavam tentando colocá-lo na caixa, mas isso não iria acontecer se eles não dobrassem melhor.
- Agora só falta guardar... - chamei suas atenções, já que ela não haviam notado minha chegada.
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Depois de guardar as coisas no sótão, eu e os meninos ficamos na sala, sentados nos sofás, esperando Izzie descer.
Eu não sabia o que fazer. Ela não podia ficar aqui, como eu explicaria para Tracy? Eu pensei em lhe pagar um hotel, porém Matt gastou todo dinheiro que eu tinha aqui com nossas fianças e lanche.
- Não sei o que fazer... - desabafei com os meninos, para ver se eles me ajudavam com alguma solução - Izzie não pode ficar aqui, mas não tenho dinheiro para pagar um hotel...
- Eu acolheria ela numa boa, se a casa fosse minha e minha mãe não morasse lá... - Matt foi o primeiro a responder.
Claro que ele a acolheria, tentou beija-la, se não a acolhesse, se tivesse condições, eu me indignaria.
- Minha Vó acaba comigo se eu levar outra garota para minha casa, que não seja Ju! - olhamos confusos para Cam quando ele falou isso - O que gente? A velha amou ela, o que posso fazer?
- Ela pode ir para a minha casa... - Nash sugeriu.
Eu queria evitar Nash ao máximo, mas ou era a casa dele ou a rua, não tinha escolha.
- Seus pais não se importariam? - perguntei.
- Obvio que não! - ele sorriu.
- Só até amanhã... O banco abre e eu peço para meu pai mandar mais dinheiro, aí ela vai para um hotel, até eu pensar o que fazer... - sorri para ele, de volta.
- Ela quem? - ouvi a voz de Izzie, e ela estava parada no pé da escada.
- Você vai ficar na casa do Nash hoje... - levantei e fui até ela - Tracy, minha mãe daqui, chega umas quatro da tarde, vou tentar ir até lá, levar algumas roupas e um pijama! Amanhã peço dinheiro ao papai e iremos comprar roupas a você...
- Não quero nada do seu pai, agradeço... - Izzie se afastou de mim.
- Ok! Discutiremos isso mais tarde, agora vocês precisam ir, já é quase meio dia! Tracy pode chegar mais cedo, aí é meu fim! - comecei a tocar todo mundo de casa.
Me despedi de todos e parei Izzie na porta, antes dela sair.
- Você ficará bem? - perguntei.
- Eu sobrevivi até hoje, não vai ser um dia com o carinha estranho que vai me matar... - ela brincou, até sorriu, era dois sorrisos em menos de duas horas.
Ela foi embora com os meninos, e querendo ou não eu estava preocupada.
Tranquei a porta, subi até o quarto e deitei ao lado de Ju. Ela estava em um sono pesado. A preocupação não me impediu de dormir, eu apaguei em poucos minutos.
Acordei, algumas horas depois, com a voz de Tracy nos chamando.
- Acorda Ju - chacoalhei Ju - Você precisa acordar e fingir que foi o fim de semana mais normal da sua vida...
Ju só gemeu, então levantei rápido, me olhei no espelho, dei uma arrumando no cabelo e desci as escadas correndo.
Eram quase três da tarde, Tracy estava sozinha na sala, sem os meninos.
- Cade os meninos? - perguntei assustada.
- Estão na minha mãe, ela queria vê-los, então passei lá e os deixei com ela, assim posso desfazer as malas e mais tarde os busco só para dormir... - Tracy respondeu animada - Agora vem aqui, me da um abraço.
Fui até ela e a abracei. Depois fomos até a cozinha tomar uma água.
- Está com fome? - ela perguntou mexendo no congelador.
- Não! - minha barriga roncou, eu estava sem comer a muito tempo - Mas eu gosto de comer, te faço companhia...
- Perfeito! - Tracy me alcançou uma lasanha congelada e eu só coloquei no microondas - Como foi o final de semana?
- Tranquilo, vários filmes melancólicos, muito chocolate, choro... - Tracy me olhou confusa, quando falei "choro" - Menstruação da nisso...
- Antes de sair só castigo, me fala mais uma coisa... - fiquei assustada com o que Tracy iria perguntar - Vocês ganharam o jogo?
- Sim! - meu coração aliviou - Ainda invictos...
- Ae, parabéns! - ela bateu palmas - Vocês estão livres... O dia está lindo, podem sair, fazer o que quiser. Podem até ver aqueles dois rapazes bonitões!
- Jura? - não ia precisar nem pedir autorização, parece que Tracy leu minha mente, a fome até sumiu.
- Juro! - ela riu - Corre contar para Ju... Vai, divirtam-se!
Corri e a abracei antes de sair correndo da cozinha para contar a novidade.
Conseguir autorização para ir para a casa de Nash foi a parte fácil, a parte difícil seria acordar a Ju.
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Träumen
Roman pour AdolescentsE se você estivesse vivendo um conto de fadas, a história perfeita que toda garota sonha. Encontrar o cara certo, que te faça feliz a cada segundo que esta ao seu lado. Com pais um tanto quanto liberais. Sua melhor amiga agora mora com você. Sua irm...