16º CAPÍTULO

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Eu não conseguia entender o motivo de Hayes dizer aquilo, eu só queria sair correndo e chorar.
Eu estava no corredor da escola, que estava vazia, quem estaria lá de sábado?
Estava andando de um lado para o outro, tentando conter o choro, que estava na ponta dos olhos já. Ju estava tentando me segurar, para "conversar", mas eu não queria ouvir o que ela tinha pra fala, porque ia ser isso que ia acontecer, ela ia ficar falando e eu ia ficar ouvindo.
- Vicky, para de andar de um lado para o outro - eu ouvi, mas não queria parar - Ele estava nervoso, não leve a sério - ela não ia parar de falar - Você conhece o Hayes, ele nunca falaria aquilo sem motivos!
- Julie, cala a boca! - parei na frente dela - Para de defender ele, quero que ele e o motivo dele se fodam, não importa qual seja, ele não podia falar assim comigo!
- Ok, gata - Ju agora estava irritada - Só não vem descontar em mim!
- Me deixa sozinha, por favor? - baixo o tom e pedi com muito carinho - Não quero descontar em ninguém, só preciso de um tempo para mim...
- Tudo bem! - senti que Ju ficou triste, eu nunca falei assim com ela, ela sempre me ajudava em tudo, mas agora eu realmente precisava ficar só.
Ju saiu andando e eu fiquei parada ali. Sozinha.
Me encostei na parede e escorreguei até o chão. Não demorou segundos para as lágrimas começarem a escorrer em meu rosto. Eu não acredito que estou chorando por um babaca.
Na verdade, eu não estou chorando por ele, estou chorado por mim. Estou chorando por ter ouvido aquilo de uma pessoa que eu considerava tão especial. Estou chorando por ter sido tão julgada, por algo que não fiz. Estou chorando porque foi Hayes que disse...
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O treino havia acabado, e ainda tínhamos trabalho a fazer, então levantei daquele piso gelado e fui lavar o rosto.
Voltei para o vestiário e comecei a recolher o equipamento dos meninos para levar limpar.
- Se ajuda - Ju cochichou em meu ouvido - Sua cara nem está tão inchada...
Ignorei o que ela falou, não estava no clima para brincadeira.
Passei por Hayes, que estava conversando com Clark e Luc. Ajudei Luc a abrir o equipamento e peguei para colocar no carrinho quero estava empurrando com o equipamentos de outros jogadores, peguei o de Luc e passei reto por Hayes. Que veio atrás de mim, me parou e jogou o equipamento dentro do carrinho, me olhando nos olhos. Tentei ser o mais fria no olhar possível, mas acho difícil ter conseguido.
Depois de recolher tudo, os garotos foram para o chuveiro, e eu e Ju fomos dispensadas. Já que colocamos a regra de que os garotos tinham que colocar a toalha molhada no cesto próximo a saída do vestiários. E somente alguns deles não estavam seguindo, nos treinos eles colocavam lá, o problema era nos jogos, que eles deixavam tudo jogado, e nós duas temos que recolher toalhas até em cima dos armários. Como elas foram parar lá? Nunca irei saber.
Como viemos com Clark, ele se ofereceu para dar carona para casa. E eu não queria ir com ele, porque Hayes ia ir também, e eu não estava afim de olhar na cara dele. Mas não tinha outro modo para ir, ou era com ele ou era a pé.
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Eu e a Ju estávamos esperado no estacionamento, apoiadas no carro de Clark, enquanto os meninos estavam tomando banho.
Não demorou muito e pude ver os dois vindo em direção ao carro. Clark abriu e entramos. Não falei uma palavra e saímos da escola, acredito que Clark more por aquela área perto da praça, para ele se oferecer para dar carona, no mínimo ele mora lá do lado.
Havia passado uns cinco minutos que estávamos dentro do carro, e conseguimos pegar trânsito. Só porque tudo que eu queria era sair logo daquele carro. Hayes estava me irritando sem falar nada, o cheiro do perfume dele entrando em minhas narinas estava me matando, porque a horas atrás eu queria sentir aquele perfume e agora eu quero vomitar.
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Já estávamos presos no engarrafamento a meia hora e não estávamos nem na metade do caminho, o caminho de volta pra casa deveria demorar vinte minutos. Mais um segundo naquele silêncio absurdo e eu abriria a porta e sairia correndo.
- Já chega! - Ju quebrou aquele silêncio - Se vocês não vão conversa, vão me ouvir!
Continuamos calados. E Ju ficou indignada, ela esperava que um de nós retrucasse.
- Concordo com a Ju! - Clark se manifestou - Vocês dois estão me irritando já...
Eu não esperava que Clark se manifestasse, ele sabia o que havia acontecido?
- Hayes, você é um babaca! - ele falou olhando para Hayes enquanto ele olhava janela a fora.
- Vicky, você é uma idiota! - Ju falou olhando para mim enquanto eu também olhava janela a fora.
- Eu? - me indignei - Não fui eu que humilhei um amigo, falando coisas sem sentido algum.
- Não fui eu que fiquei com a irmã de uma amiga e depois fiquei me agarrando com outra! - Hayes estava falando com Clark, mas esperava me atingir. E conseguiu.
- Já parou para pensar, que você poderia só estar dando um abraço na outra garota? - falei com Hayes, já estava me irritando o jeito que ele falava sobre o que aconteceu.
- Já parou para pensar, que eu poderia não estar só dando um abraço? Que aos olhos dos outros não parecia só um abraço? - ele estava usando argumentos ridículos, isso só me magoava mais.
- Se eu pensasse que era algo além do abraço, eu iria perguntar ao meu amigo, não humilha-lo sem motivos! - nesse momento ele calou-se, e virou para a janela novamente.
- Clark, obrigada pela carona, mas vou seguir a pé daqui! - ele abriu a porta e saiu.
Eu não iria aceitar isso, ele não iria fugir da discussão. Eu não iria deixar. Abri a porta e fui atrás dele.
- Você não pode fugir assim! - gritei enquanto o seguia e ele parou, parei logo em seguida, ficando a mais ou menos um metro dele.
- Eu não estou fugindo! - falou ainda de costas para mim.
- Não está? - perguntei - Está fazendo o que então?
- Na real, me deixa sozinho! - ele se virou para mim.
- Não, não vou deixar... - me aproximei dele ficando a meio metro de distância só - Nós vamos conversar. Cansei de aceitar tudo!
- Eu não tenho nada para falar pra você! - ele me olhou com desgosto nos olhos.
- Então você vai ouvir! - gritei.
Ele ficou me olhando, como se aceitasse ouvir, então eu desabafei.
- Eu, realmente, estou tentando entender até agora o porque você fez aquilo! Não tem como alguém pensar que eu estava agarrando o Jack, ele me abraçou para agradecer por ter ajudado ele com o machucado. - ele continuava me olhando sem falar nada - E outra, eu fiquei sim com seu irmão, mas eu não fiz nada com ele. E não devo satisfação, se eu quiser transar com ele, eu vou transar, até porque sexo não é crime, e isso não me faz uma vagabunda. Você transava com a May, ela era vagabunda por causa disso? Não! Ela não era. Eu quero entender o porque de você falar tudo aquilo. E mesmo depois de ouvir tudo isso que eu estou falando, não fale nada, não admite que estava errado, que você foi um babaca, que foi um otário, que é um otário - meu tom de voz começou a aumentar e eu já estava gritando - Eu não vou aceitar isso! Se defende, fala alguma coisa - eu bati com os punhos no peito dele e ele mesmo assim não falava nada - Hayes, fala! - eu estava gritando e empurrando ele - Me explica! - as lágrimas começaram a aparecer - Eu mereço uma explicação! - eu soquei o peito dele pela ultima vez e não me afastei, apoiei a testa em seu peito e chorei.
- Amiga - Ju segurou meu braço - Já chega! Todo mundo esta olhando!
Eu sai de perto do Hayes e olhei em volta, as pessoas que estavam nos carros, estavam olhando, provavelmente querendo saber o fim da novela. Eu estava com os olhos inchados, tentando segurar as lágrimas. Hayes estava parado, me olhando. Eu vi, em seus olhos, que ele queria me abraçar e pedir desculpas, mas o seu orgulho era muito maior do que a vontade.
Me virei e sai andando com Ju, de volta ao carro, que ainda estava parado no trânsito.
Sentei no banco de trás e Ju na frente com Clark. Eu não queria falar sobre o que aconteceu, então fiquei quieta olhando pela janela. Eles não perguntaram nada e foi bom, porque eu não iria conseguir controlar as lágrimas se eles falassem o nome dele.
Não demorou dez minutos e o trânsito se desfez. Havia acontecido um acidente entre uma moto e um ônibus, e todo esse tempo foi para conseguir retirar o cara da moto, que estava preso embaixo das ferragens do ônibus. Pelo menos foi isso que pude ouvir no rádio, que Clark ligou para quebrar o silêncio.
Passaram mais dez minutos e estávamos na porta de casa. Clark nos largou lá, agradecemos e ele seguiu.
Eram quatro e meia da tarde. Entramos em casa e fui direto para o banho, quis evitar Ju. Sabia que se desse uma brecha ela iria querer conversar.
Entrei no banho e fiquei pelo menos uma meia hora deixando a água escorrer pelo meu corpo. Lavei meu cabelo, o corpo e desliguei o chuveiro. Me enrolei na toalha e parei em frente ao espelho da pia. Fiquei me olhando e pensando, como eu era idiota, por que estava me preocupando tanto com o que Hayes estava pensando? Por que estava doendo tanto, ter sido julgada por ele? Por que eu estava tão triste?
Meus pensamentos foram cortados, pelas batidas na porta do banheiro.
- Amiga... - era Ju - Você tem visita... Está te esperando na sala.
Visita? Pensei. Quem será que é? Eu não estava esperando ninguém. E também não queria receber ninguém, só queria deitar na minha cama.
Abri a porta do banheiro e Ju já não estava mais lá. Me vesti, penteei o cabelo, passei um creme para facilitar a modelagem de meu cachos e desci. Eu demorei porque queria que a pessoa desistisse e fosse embora, mas Ju não estava no quarto, então provavelmente a visita ainda estava lá.
Desci as escadas devagar, para prolongar o silêncio.
Quando cheguei na sala, não acreditei no que estava vendo. Acho que o sono ou as lágrimas em meus olhos, estavam me fazendo enxergar errado. Não podia ser!

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