53º CAPÍTULO

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Acordei com o avião pousando. Passamos por todas as burocracias para pegar bagagens e tudo mais. Resumindo tudo que aconteceu, não podemos mais fazer intercâmbio. Mas tudo bem, iremos para la sem ser com intercâmbio.
Eu estava cansada, com sono e queria minha mãe. Dentro do taxi indo para casa, só pensava em chegar até minha cama.
- Amiga, vai rolar uma festa mais tarde, está afim de ir? - Ju perguntou.
- Qual o seu problema? - retruquei - Acabamos de chegar, passamos pelo pior dia de nossa vida e você quer ir para uma festa?
- Óbvio! - ela arregalou os olhos - Precisamos esquecer tudo isso, e todo mundo está nos esperando...
- Todo mundo quem, Julie? - perguntei.
- Pessoal da escola, eu falei que estávamos voltando, então estão dando uma festa para nos receber! - ela parecia animada, o que eu não entendia.
Vi a minha casa se aproximando, era minha deixa de me livrar dessa. Eu só queria ficar em casa e conversar com minha mãe.
- Deixa pra próxima, vai você e se divirta por mim! - abracei Ju.
- Espera aí... - Ju gritou quando bati a porta do carro.
Peguei minhas malas, do porta malas e entrei em casa em disparada.
Queria chegar, abraçar minha mãe, conversar, chorar, rir, ou só ficar perto dela. Eu só precisava dela.
- Olá! - gritei - Alguém em casa?
Minha voz ecoou pelos corredores. A casa estava vazia, fria e escura. Ninguém estava lá.
A única luz acesa, vinha da escrivaninha do telefone. Nela, estava uma folha de um bloquinho, rabiscada algumas palavras.

"Filha, tivemos que viajar com urgência, voltaremos daqui quatro dias, te amo!"

Eu quis chorar. Chorar por minha mãe não estar ali comigo. Mas não chorei.
Liguei para Ju e disse que em meia hora estaria na casa dela, para irmos para a festa.
Acredito que esse foi meu modo de me revoltar, por minha mãe não estar ali quando eu precisava.
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Depois de tomar um banho, para tirar todo aquele peso de cima de mim. Me arrumei, o máximo que consegui e parti para a casa de Ju. Chamei um taxi e lhe passei as coordenadas.
Um pouco mais adiante da minha casa, passei por um cruzamento, e no mesmo instante comecei a me sentir mal. Não ficava nem a dois minutos da minha casa.
Passei mal, de uma forma que eu não conhecia. Minha cabeça latejou, e fiquei tonta. Algumas cenas e imagens passaram em minha mente, mas foram coisas que nunca existiram. Que nunca aconteceram.
Me desliguei do mundo por alguns segundos. Pelo menos foi o que achei. Quando percebi já estava na porta da casa de Ju.
E em segundos estávamos na festa. Que estava lotada de gente falsa. Que nunca falou comigo por ser meu amigo, que só tinha interesse em meu dinheiro. Não liguei, pois Ju estava se divertindo.
Mas eu continuava mal. Estava com dor de cabeça. Com náusea. Tontura. Simplesmente esse não era meu dia.
As horas foram passando, e nada do mal estar passar. Eu já não sabia o que fazer para a dor de cabeça passar. Até massagem na cabeça eu já havia feito.
A dor não era uma dor comum, era mais forte, mais dolorida, mais sofrida. Acredito que é referente as horas intermináveis de choro que passei.
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~ EMMA ~

Acordei mais um dia, torta naquele sofá. Sonho todos os dias com todo esse pesadelo acabar.
Ouvi duas batidas na porta do quarto e levantei em um pulo. David entrou no quarto acompanhado do médico, responsável por minha filha.
- Senhor e senhora Majore... - o médico chamou nossa atenção - Bom dia...
Coincidi com a cabeça, pois estava sem animo para falar qualquer coisa. Sabia o que se tratava, ele veio falar dos últimos exames de minha filha.
- Acho que já sabem do que vim falar... - o médico baixou o olhar, parecia triste - Estou com o resultado dos exames! - me entregou a pasta em suas mãos - Eu não sei como falar esse tipo de coisa, mas preciso ser direto... Sua filha, infelizmente, teve falecimento múltiplo de órgãos!
- Como assim? - entrei em prantos.
Comecei a folhar aquela pasta, tentando achar a parte que falava que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de mal gosto. Mas não achei. Somente achei escrito em letra maiúscula

"FALÊNCIA MÚLTIPLA DE ÓRGÃOS"

O que me fez estremecer, e cair em choro.
- Sua filha só está viva por causa dos aparelhos - o médico suspirou - Se desligarmos, ela morre.
- Não! - quase gritei - Não podemos desligar os aparelhos, minha filha está viva!
- Não está, minha senhora! - o médico tentou explicar - O corpo da sua filha está ali, vivendo a custa dos aparelhos. Sua alma nem deve estar mais no corpo, pode ter desencarnado a horas.
- Não! - gritei em meio ao choro.
David, por incrível que pareça, estava chorando também. Me puxou para seus braços e me abraçou muito forte, para tentar me acalmar.
A dor em meu peito estava me matando. Minha filha, não pode estar morta.
- Bom, vou lhes dar algumas horas para pensar... - o médico suspirou novamente - Mas tenho que falar, que o uso dos aparelhos é caro, provavelmente sairá muito caro para vocês... Eu sei que vocês não tem condições, então pensem bem... Estou falando como amigo, não quero ofende-los, estamos juntos a um ano, eu só quero que pensem bem! Se ela ainda estiver aí, está sofrendo, vocês precisam deixá-la partir!
Não consegui responder, só chorava, em desespero.
- Obrigada Larry, você é um grande amigo! - David respondeu - Só nos deixe aceitar a ideia.

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