30º CAPÍTULO

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O barulho da cela se fechando, fez meu coração palpitar e começar a imaginar um futuro não tão distante. Tracy descobriria, nos mataria, denunciaria para a central de intercâmbio e seriamos deportadas. Eu não queria ser deportada, mas a única coisa que podia fazer naquele momento, era chorar.
Estávamos em uma cela enorme, com vários bancos presos na parede. Tomei distância dos meninos e sentei em um dos bancos. Apoiei os cotovelos nas pernas e afundei o rosto nas mãos. Não contive as lágrimas. Elas escorriam em meu rosto e eu só pensava na deportação. Não estávamos nem na metade do intercâmbio, não estava preparada psicologicamente, nem emocionalmente para ir para casa.
- Amiga... - senti a mão de Ju tocar minhas costas - Se acalma... - ela sentou ao meu lado e me abraçou - Nós vamos dar um jeito... Sempre damos!
A minha resposta foi uma fungada e um soluço. Ergui a cabeça e limpei os olhos.
- Acho que dessa vez não tem saída Ju, não se iluda! - não queria quebrar as expectativas dela, mas era a realidade, só se um anjo caísse do céu para nos salvar.
Ju e eu ficamos paradas lá, fitando o nada, enquanto Cameron batia com as mãos nas grades da cela, ele estava fazendo aqui a minutos. Todos estávamos nervosos, se ele não parasse, eu mesma, mataria ele.
- Continua assim, quem sabe você derruba a grade e nós fugimos... - Ju e sua ironia, inseparáveis.
- Julie, não começa, estamos em um quadrado, tentem se evitar! - Nash falou, antes de Cam conseguir processar uma resposta.
Ju ficou quieta, e dona levantou e correu até a grade.
- Continua! - ela falou para Cam sorrindo.
- Você não ouviu o que o Nash disse não? Me evita! - Cam se afastou dela.
- Não seu otário... - ela virou os olhos - Faça mais barulho, chame atenção dos policiais!
- Por que eu faria isso? Pra me ferrar só mais um pouco? - Cam zombou da ideia de Ju.
- Sério, as vezes tenho certeza de que você se alimenta de fezes de galinha, e que ela fica alojada no crânio, lugar onde deveria ter um cérebro! - vendo que Cam não iria responde-la e somente ignora-la, continuou falando, eu não estava entendendo onde Ju queria chegar - Vocês não assistem filmes? - se virou para mim e Nash, quando percebeu que ninguém havia entendido o que ela queria - Temos direito a uma ligação!
Quando Ju disse isso, uma luz de esperança se acendeu, mas logo se apagou.
- Nossos celulares estão com eles, pra quem vamos ligar? - falei mostrando minha decepção e me aproximando da grade.
- Não sei o número de ninguém... Precisaríamos de um dos celulares, do que adianta uma ligação, se não temos pra quem ligar... - Nash coçou a nuca e se aproximou de nós.
- Sério, minha idéia parecia perfeita, agora não parece nada... - Ju passou as mãos no rosto para esconder a decepção.
- Matt! - ouvi a voz de Cam, bem baixa - Matt! - ele reputou mais alto, agora animado - Você é demais Ju! - Cam abraçou Ju espontaneamente, e ela ficou em choque, não esperava isso.
Olhamos para Cam assustados, não havíamos entendido.
- Caramba gente! - ele se decepcionou com nossa ignorância em entender os fatos - Eu sei o número do Matt! Podemos ligar pra ele vir nos liberar...
- Mas de onde ele tiraria dinheiro para pagar nossa fiança? - Nash logo jogou água na chama de esperança de Cam.
- Hello, esqueceram que a Vicky é rica? - Ju fez uma cara que não consegui nem descrever.
- Ele só vai precisar ir ate em casa, entrar e pegar meu dinheiro... - expliquei.
- Como ele vai entrar? - Cam perguntou.
- A chave está escondida dentro de uma pedra, é só ele abrir a porta e entrar, não tem segredo... - e pela primeira vez em horas Ju falou com Cam, sem usar ironia nem nenhum tipo de grosseiria.
- Então, agora só falta convencer Matt de vir nos liberar... - Nash tentou se aproximar de mim, mas eu me afastei - Ou a mãe dele de deixá-lo sair...
- Ok, façam barulho para chamar atenção de algum policial! - Ju deu a ordem e começamos a gritar chamado alguém e bater nas grades.
Pela primeira vez, na noite, estávamos trabalhando juntos. Ainda tínhamos mil assuntos pendentes, mas precisamos sair da cadeia antes...
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Já fazia tempo que Cam havia saído da cela para ligar para Matt. Ficamos esperando ele, com notícias boas, de preferência.
Ouvi um barulho e me levantei rápido e fui em direção a grade, ver se era Cam vindo.
O policial chegou, abriu a cela e colocou Cam para dentro. Não dei tempo nem dele respira, estava muito ansiosa.
- Deu tudo certo? - perguntei - Ele entendeu? Vai vim nos liberar? Ele sabe onde está o dinheiro?
- Eu disse exatamente o que você disse... - o tom do Cam não era muito animado - Só nos basta esperar, ele disse que ia tentar sair de casa, mas sua mãe estava de tocaia, ela não quer deixá-lo sair até todos os roxos em seu corpo sumirem...
- Isso pode demorar anos, levando em conta a falta de melanina na pele que Matt tem... - Nash suspirou desapontado.
- Vai dar tudo certo pessoal - Ju era a única de nós que demonstrava esperança em sair dessa impunes - Ele vai vir...
Olhamos um para o outro. Ju realmente era a única que acreditava naquilo, enquanto nós três já estávamos pensando na desculpa que daríamos aos nossos responsáveis.
- Como vou explicar para meu pai que fui preso de novo, em menos de um mês? - Nash jogou a pergunta no ar.
Acredito que ele quis nos aproximar, mas ninguém estava disposto a aquilo.
O silêncio reinou, o único som na cela, era de um relógio de parede, velho, preso acima da cabeça de Nash e Cam. Eu fiquei fitando o relógio por horas.
Quando percebi já havia passado duas horas, que ligamos para Matt. Nesse momento, percebi que ele não iria vir, que estávamos perdidos.
Eu estava com aquela droga daquele uniforme ridículo, e minhas coisas haviam ficado no carro de Clark.
Eu pensei que meu dia não poderia piorar, que nada mais podia acontecer pro meu dia ficar mais merda.
- Levantem... - levei um susto quando um policial apareceu na grade do além - Se aproximem da grade! - ele ordenou.
Nos olhamos, sem entender o que estava acontecendo. Fui a primeira a levantar, nada mais me surpreenderia, não tinha o que temer.
- Pagaram a fiança de vocês... - o policial abriu a porta e fez um gesto com as mãos para abrir caminho para passarmos - Vocês estão livres! - fiquei até emocionada quando ele disse isso - Procurem não se meter mais em encrenca...
Eu queria sair saltitante daquela cela, mas me contive.
Passamos para a frente da delegacia e vi Matt parado apoiado no balcão da recepção.
Seu rosto ainda estava muito marcado. Olhar para ele me fez lembrar do dia em que tudo aconteceu. O dia parecia que ia ser perfeito, mas acabou em tragédia. Eu não via Matt desde aquele dia. Quando bati meus olhos nele, não me controlei, corri até e ele e pulei em seus braços para abraçá-lo. Não sei se aquela emoção era saudade, do garoto mais besta que eu já havia conhecido na vida, ou se era emoção por ter pago nossa fiança, ou se no final era um mistura de tudo. Eu estava feliz em ver Matt, feliz em ver que ele estava se recuperado.
Quando pulei em seus braços para um abraço, ele gemeu um pouco de dor.
- Me desculpa, me desculpa! - me afastei, com medo de te-lo machucado.
- Relaxa, ainda dói um pouco, mas vou ficar bem! - ele me puxou para abraçar de novo - Alguém já te disse que você tem ossos pesados? - Matt riu e me apertou com força.
Nesse momento meu coração se desfez em mil pedaços. Matt me fez lembrar que Nash estava merecendo um chute no saco, mas antes ele teria que me explicar tudo a história que Hayes havia contado, inventado, sei lá.
Soltei Matt, para dar lugar para os outros poderem abraçá-los também. Cam foi o ultimo a cumprimenta-lo, mal tocou em Matt, parecia estar com medo de machuca-lo.
- Vamos cara... - Matt fez cara de safado - Você faz melhor que isso! - disse quando Cam o abraçou de leve e deu três tampinhas em suas costas.
Cam ficou parado e o observou. Matt sorriu e chamou Cam com as mãos.
- Vai cara, corre pro abraço! - Matt brincou.
Cam riu e o abraçou com força, e pela primeira vez vi escorrer uma lágrima em seu rosto.
Aquela cena até me emocionou, pensei em passar a borracha em tudo e dar um abraço em grupo. Mas estava tudo bom demais para ser verdade. Não que eu esteja acostumada a me ferrar nas coisas, mas ultimamente estava sendo assim, tudo de bom que acontecia, acontecia uma coisa cem vezes pior.
Começamos a andar em direção a saída, com se fossemos dormir e acordar amanhã, como se nada tivesse acontecido, mas como eu havia dito, estava bom demais para ser verdade.
- Vicky, você estava esperado alguém hoje? - Matt perguntou confuso.
- Não, por quê? - fiquei com medo, por causa da pergunta.
- Ah, é que quando eu fui sair da sua casa, bem na hora que eu abri a porta para ir embora, tinha uma garota muito gata parada na porta, perguntei o que ela queria, e ela falou que estava te procurando... - ele me olhou com cara de culpado.
- Como assim? - fiquei pasma, quem poderia ser.
- Eu contei o que tinha acontecido, porque ele era gata demais pra ser psicopata, e ela pediu para vir junto, e eu a trouxe... - Matt coçou a nuca em sinal de "culpa".
- Matt, eu não tenho amigas aqui, quem poderia ser? - Matt trouxe uma pessoa para me ver, mas eu não fazia ideia de quem seria.
- Você vai ver, ela está esperando lá fora! - Matt apontou para a porta de saída.
Olhei para Ju, e sai andando na frente deles. Quando abri a porta, vi uma garota que aparentava ser uma pouco mais alta que eu, apoiada em um carro. Ela tinha cabelos pretos que iam até a bunda, seu corpo era muito parecido com o meu. A única diferença era que sua cintura era minúscula, por mais que seu casaco tentasse esconder seu corpo, era visível. Eu travei quando percebi de quem se tratava, não conseguia acreditar em quem estava em minha frente. Ju parou ao meu lado e sua reação foi melhor que a minha.
- Puta merda... - Ju colocou a mão na boca - Não pode ser... -  ela limpou os olhos para ver se era verdade o que estava vendo enquanto eu estava travada.
- Quem é ela? - Nash foi o primeiro a perguntar.
- Minha irmã! - consegui responder.

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