Träumen

34º CAPÍTULO

Demorei pelo menos vinte minutos para acordar Ju por completo. Ela não se animou de ir até a casa de Nash, não queria ver Cam, o que me fez colocar na cabeça dela que ele não estaria lá.
Fiquei com medo de chegar e ele estar lá, do jeito que Ju é, ela viraria as costas e iria embora. Se Cam começasse a falar coisas machistas, do tipo que me falou, Ju bateria nele.
Ela não era nenhum tipo de feminista louca, que tenta colocar a todo custo na cabeça das pessoas suas crenças, mas ela não suportava atitudes, como a de Cam, que só olhou para o seu umbigo, e não pensou em nenhum momento o quanto ela estaria sofrendo com aquilo.
- Você entende, não entende? - Ju me resgatou de meus pensamentos.
- Entendo amiga... Acredite em mim, Cam ainda vai cair na real e te pedir desculpas! - falei para Ju, enquanto estávamos atravessando a praça.
- Ele pode me implorar desculpas, nunca vou perdoa-lo! - Ju quis demonstrar brabeza, porém só vi tristeza.
---
- Achei que vocês não vinham... - Matt abriu a porta da casa de Nash.
Provavelmente ele nem foi para casa, com medo da reação de sua mãe.
Já eram quase cinco da tarde, antes de vir para cá, eu e Ju tomamos banho, arrumamos nosso quarto, que estava uma zona, ela secou o cabelo, e eu preferi deixar secar natural.
Agora o que nos restava era pensar o que fazer, em relação a Izzie. Ela era minha irmã, mas eu não conhecia aquela garota. Eu conhecia uma Izzie doce, alegre, amorosa, não essa Izzie, fechada, mal humorada, assustada.
- Culpa da Ju! - apontei para Ju - Ela dorme feito uma pedra...
- Todo mundo sabe que sou boa de cama... É só deitar e pronto, estou em coma! - Ju brincou.
- Fiquem a vontade... - Matt deu passagem para nós entrarmos.
Entrei e a casa estava em um silêncio absurdo. Não vi ninguém. O que me apavorou, primeiro pensei em Hayes, por mais que eu não quisesse falar com ele, ele morava ali, e eu não poderia evitá-lo para sempre, até porque somos colegas em algumas matérias. Depois pensei em seus pais, onde eles poderiam estar em um final de domingo? No mínimo viajando para qualquer país.
Então pensei em Nash, e logo pensei em Izzie. Onde estavam os dois? Eles estavam juntos em algum lugar?
Meu coração apertou...
Eu não tinha nada com Nash, a gente ficou algumas vezes, mas ele não me pediu em namoro, e nem me afirmou que estávamos em um relacionamento, mas eu também não terminei o que eu tinha com ele, seja lá o que for que a gente tenha. Não dei liberdade para Izzie passar na minha frente e ficar com ele.
Matt se jogou no sofá da sala, pegou o controle do Xbox e tirou o jogo do pausa.
- Onde está todo mundo? - perguntei, mas na verdade só queria saber onde estava Nash, e queria saber se ele estava só com a Izzie.
- Hayes está no quarto dele, Izzie está dormindo no quarto de Nash e Nash deve estar lá atrás... - Matt respondeu sem olhar para mim, estava vidrado no jogo.
- Quero jogar! - Ju se jogou ao lado de Matt e tentou pegar o controle da sua mão.
- Pega o outro controle! - Matt desviou de Ju e apontou para uma gaveta, provavelmente o controle estaria lá.
Ju pegou o controle e sentou ao lado de Matt novamente. Eles começaram a jogar e ignoraram totalmente minha presença.
- Bom, vou ver como Izzie está... - falei, mas falei pro nada, os dois nem ouviram.
Subi as escadas para o segundo andar, iria só chegar como Izzie estava e já desceria para ficar com Matt e Ju.
O corredor estava totalmente escuro, a única luz, era a que vinha por de baixo da porta do quarto de Hayes.
Peguei meu celular e acendi o flash, para iluminar o caminho, não quis ligar a luz, para Hayes não perceber que eu estava ali, não que ele fosse adivinhar que era eu, mas não queria que ele fosse conferir quem era. Enfim, não era momento de falar com ele.
Abri a porta do quarto de Nash e vi Izzie deitada. Parecia estar em um sono profundo, resolvi não acorda-la para perguntar "você está bem?", vou esperá-la acordar e pergunto.
Tornei a fechar a porta e fui até as escadas, para descer para a sala. Desci dois degraus e parei. Comecei a pensar sozinha, se eu não falasse com o Hayes agora, quando falaria? Se eu não aproveitasse essa oportunidade para conversar com ele, quando teria uma próxima? E se não tivesse outra oportunidade? Nunca se sabe o dia de amanhã, então, com a coragem, que não sei de onde tirei, fui até seu quarto.
Parei na porta e comecei a pensar se era o certo a fazer, então eu exclui tudo de minha mente, se eu continuasse pensando não faria nada nunca, resolvi deixar o impulso falar por mim, e quando percebi já havia batido na porta.
Ouvi Hayes falar algo como "entra cara" ou outra coisa, então resolvi abrir a porta. Ele estava deitado na cama, mexendo no celular. Estava sem camisa e de samba-canção, o que fez eu me perder um pouco, admirando seu abdômen.
- Com licença... - parei na porta.
Quando Hayes me viu, deu um pulo.
- Vicky? - perguntou, para conferir se não era uma alucinação.
- Podemos conversar? - perguntei ainda parada na porta.
- Claro! - Hayes sentou na cama e abriu espaço para eu sentar também.
Fechei a porta atrás de mim e me aproximei da cama, pretendia ser o mais breve possível.
- Vou ser o mais breve possível... - sentei na cama e desviei o olhar - Por que?
- Por que o que? - Hayes ficou confuso.
- Por que fez aquilo? - senti que precisava ser um pouco mais especifica - Por que deixou aquilo acontecer comigo e com Ju?
- Eu não sei o que falar, para amenizar e para vocês não me acharem um completo idiota... - Hayes olhou para o chão, como se procurasse palavras certas para usar - Eu não sei o que falar... Sei que falar que quando coincidi com tudo aquilo eu não era amigo de vocês não vai ajudar... Eu não gostava de você Vicky, tipo, você era legal, mas não éramos amigos, aí fomos nos conhecendo e eu me apaixonei por você... Tentei voltar atrás, pedi para eles não fazerem aquilo, mas não mudou nada, não tinha volta, eles ameaçaram tirar meu posto, como capitão do time... Eu sei, só pensei em mim, mas o time é tudo para mim, o futebol é minha vida! Posso te pedir milhões de vezes desculpas, mesmo se você não aceitar, eu vou continuar tentando te reconquistar... A menina que gostava de mim, ainda está aí, ela está magoada, mas ela ainda existe... - ele acariciou meu rosto com uma das mãos.
- Não Hayes! - afastei sua mão de meu rosto - A "menina que gostava de você", na verdade só sentia um carinho muito grande, e o carinho se foi depois de saber que você usou a mim e a Ju, só para sua "faminha" na escola continuar... Você ficou implorando para a gente ir na festa, sabendo que aquilo ia acontecer, porque ficou preocupado que seus amigos achariam que foi culpa sua não termos ido!
- Não! Não foi isso... - Hayes tentou amenizar - Eu queria ver você Vicky!
- Para Hayes! - levantei da cama - Para de mentir... Não tenta diminuir o estrago, eu só quero ouvir de você, a sua versão, não quero ouvir desculpas esfarrapadas...
- Não é desculpa esfarrapada... - Hayes esfregou as mãos no rosto - Eu só queria...
- Queria o que? - aumentei o tom de voz, sem perceber.
- Você quer que eu fale o que? - ele gritou.
- A verdade! - respondi quase gritando.
- Me aproveitei de vocês, para todo mundo me adorar e eu sair como o fodão, não menti quando te disse que estava apaixonado por você, mas o time é mais importante do que uma garota! É isso que você queria ouvir? - Hayes levantou e parou na minha frente de braços abertos.
- Era! - desviei e fui em direção a porta.
Sai do quarto batendo a porta com força, fiquei até com medo de alguém ter escutado algo, ou de ter acordado a Izzie.
Parei de pensar nos outros, pensei em mim. No quanto doía ouvir aquilo de Hayes. Eu já sabia a verdade, mas ouvir dele doeu tanto. Mais do que eu esperava.