17. Minha menina.

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ARABELLA

Costumamos ver os gostos dos outros como sendo mau gosto, digo, no sentindo de se a pessoa não gosta do mesmo que eu, não tem bom gosto. Eu tenho um pouco disso comigo, tem alguns artistas que eu ainda ouço uma música ou duas, mas simplesmente não consigo gostar deles em si. Suspirei encarando as ruas passando, olhei para o vagão que eu estava no trem, ri levemente ao ver um bebê com as bochechas extremamente vermelhas rindo com sua irmã mais velha, supus.

Voltei a ver as imagens passando pela janela do trem.

Peguei o celular desbloqueando a tela, Gabriel e eu estamos um tanto quanto distantes ultimamente e não entendi muito bem o por quê, sei que a internet de certa forma une as pessoas, e que eu já não o via desde o aniversário de vinte e quatro aninhos do Lou, porém nem mensagens trocamos direito mais. Fiquei confusa.

Eu ainda não entendi muito bem o Gabriel, ao menos não esse Gabriel ao vivo e a cores e que me deixa muito enlouquecida. Encarei o contato dele no celular lendo a última mensagem minha para ele. Então enviei outra.

"Sumiu..."

Algo simples já que eu realmente não estava com a cabeça boa para pensar muito, quando enfim o trem parou e eu desci senti o clima ainda quente de Berkeley, o bom é que já estamos no final do mês de setembro, daqui a pouco chega outubro e meu aniversário não irá tardar para chegar, dezoito de dezembro.

"Uh, desculpe. Eu estou organizando as coisas do meu trabalho, babe."

Para quem mandou uma palavra e recebeu onze de resposta eu estava indo bem.

"Está trabalhando muito?"

Enviei a mensagem guardando o celular no bolso da mochila, encarei o relógio dourado no pulso notando que novamente iria chegar além do horário normal no casarão, nas últimas semanas eu venho saindo da universidade e indo resolver algo antes de ir para casa. A mana está extremamente protetora, depois que descobriu sobre o caso "Arabella e seu trauma".

Segurei firmemente nas alças da mochila enquanto caminhava pelas ruas até o casarão, acabei mudando a minha rotina completamente nos últimos dias, ao invés de ficar pagando caro em táxi em uma cidade universitária, resolvi pegar o bom e velho trem até perto do casarão e caminhar, afinal fazer um exercício é sempre bom.

Segunda-feira é um dia tão nostálgico e preguiçoso, não sei por que temos que fazer coisas hoje, deveria fazer parte do final de semana.

Ao abrir o portão do casarão noto uma movimentação na enorme casa pintada de amarelo envelhecido, apesar de tudo o "casarão"como eu designei chamar a casa estudantil que moro, é muito bonito, teve uma época que pensei em fazer arquitetura, gosto de ver as casas e seus designs e pensar em como mudar e tudo mais. Porém logo percebi que meu sonho e vocação é medicina, sabe quando você fica vendo vídeos de pessoas fazendo seu trabalho — na sua maioria de enfermeiros, médicos, pessoas da área da saúde — e senti orgulho como eles, mesmo sem ainda não exercer a profissão? É algo que não sei como começou, mas pretendo seguir em frente.

O casarão tem um pouco de colonial, mas é tão lindo... E a sua "torre" do lado esquerdo dá uma ideia de castelo moderno, uma vez eu conversei disso com a mana, pensei rindo.

Até que não é ruim morar no "último andar" só existe o meu quarto e um banheiro, mesmo pequeno, fica sendo só meu. Enquanto as outras meninas moram todas no segundo andar, antes eu costumava falar que o casarão tem quatro andares, por causa de uma mania com números que superei, mas na verdade ele tem três.

Assim que entrei na propriedade vi o Louis — como sempre — sentado no sofá perto da janela na sala, a mana estava próximo e parecia a vontade com a Anastacia por perto, eles pareciam discutir algo. Ultimamente tenho notando a Lucy muito próxima da Ana.

Arabella ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora