38. Músicas.

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ARABELLA

Eu venho percebendo gostos estranhos meus, por exemplo, eu gosto de palavras que acho lindas, apesar do significado não ser tanto assim. Entediante é uma delas. Acho-a sofisticada, uma palavra que faz eu pensar na beleza. E entediante é a situação que estou nesse momento, com a Lucy sentada ao meu lado na sala de espera de um consultório médico. Um ginecologista, uma, na verdade. Minha vergonha não me faz conseguir sair abrindo as pernas e deixar ser analisada por um homem desconhecido, pançudo e... Não, apenas não.

— Arabella Roth. — Ouço meu nome ser pronunciado pela atendente, Lucy fica para trás quando entro na sala ar condicionada e completamente branca em leves tons de verde. Assim como todo o local, até lá fora. Gosto de hospital, gosto do cheiro. Só não gosto de doenças, óbvio. Mas gosto como me sinto em casa em locais como este.
Uma mulher na faixa dos quarenta anos, digo isso pela pele do pescoço, meu pai me ensinou a identificar por aí. Mas o rosto dela, puta merda! É porcelana pura, ela é tão branca que perto dela me torno uma mulata. Mulatas tem muita bunda, ao menos as mulheres brasileiras, gostaria de ser uma.

— Bom dia, Senhorita Roth — Sua voz faz um "puta merda" brincar novamente nos meus pensamentos. Essa mulher parece uma vampira, velha e perfeita, apesar de não achar quarenta anos velha.

— Bom dia, Doutora Rock — sussurrei me sentindo constrangida.

— Muito bem, você quer começar a tomar algum método contraceptivo, é isto? — Eu informei isso quando a atendente pediu o motivo da consulta, até porque não sou paciente da Dra.

— Na verdade, sim. Porém sei que tem alguns que causam espinhas e isso me deixa receosa.

— Isso irá depender de você, não é como possa afirmar que o remédio causa ou não, isso depende de cada corpo, alguns engordam. E alguns desses que causam isso, em outras, não causam nada. — Sua voz, a forma deliciosa de ouvi-la. Porra! Eu realmente aprecio médicos, muito. Quero ser ela quando crescer, aonde aperto?
— É que tive sérios problemas com espinhas desde quando menstruei pela primeira vez, aos onze, e realmente não queria voltar àquela fase. E também tenho preferências por injetável, mensal — confidenciei. Médicos que fazem você se sentir a vontade o suficiente para falar sem receios, ótimos médicos. Ponto para a doutora.

— Bem, eu entendo. Injetáveis são realmente mais indicados para pessoas que esquecem com que frequência de tomar as pílulas contraceptivas. Temos o mensal e trimestral, inicialmente iremos ver com qual você se adéqua melhor, pela questão da quantidade de hormônios, mas já que temos uma preferência por mensal, tudo bem. Mas só quero que tenha noção de alguns efeitos colaterais comuns do uso de anticoncepcionais injetáveis são as irregularidades menstruais e ganho de peso, além de enxaqueca, dor nas mamas e redução de libido. Só lembrando que isso depende de casa corpo, não significa que irá acontecer contigo. Algumas outras tem mudanças de humor, espinhas e afins. — Eu ouvia tudo atentamente. Já havia decidido que queria isto, mesmo. Se eu fosse tomar pílulas engravidaria na primeira semana, pode apostar. Sou péssima com horas para tomar remédio, às vezes me lembro deles dois dias depois da última vez ingerido, péssimo.

— E como será a rotina de uso? — perguntei.

— A injeção será intramuscular, aplicada no músculo, de preferência nos glúteos. Na primeira aplicação será entre o primeiro e quinto dia do ciclo menstrual e a partir das outras aplicações devem ser feitas em todos os trintas dias... — Ela continuou explicando e eu eventualmente fazendo perguntas. Deixamos uma consulta marcada para na próxima semana, quando iniciaria meu ciclo. Eu que nunca fui de ficar fazendo as contas estava naquele momento fazendo-as mentalmente. Ugh.

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