Prólogo - Aquele rapaz!

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ARABELLA

Dizem que sempre vêm os momentos difíceis antes dos bons chegarem. Seria como um presente, por você ter chegado até ali, mesmo ferido e machucado. Levo comigo muitas cicatrizes, não estou falando daquelas que todos veem que ficam marcadas na pele, as minhas foram mais profundas, são marcadas na alma. Foram decepções, brigas, confusões, confiar nas pessoas erradas... Amar quem não devia. Deixar de amar quem merecia.

Sorri para o sol se pondo na minha frente, olhei ao redor notando que estávamos todos na praia, meu primeiro ano novo longe de casa. O fim de 2014, início de 2015. Minha vida deu um belo salto no escuro durante 2014, tantas coisas aconteceram, tantas pessoas eu conheci e outras tantas deixaram de participar da minha vida. Olhei o sol se pondo no horizonte, Louis sentou-se do meu lado me fazendo sorrir ainda mais. Último dia do ano, o dia em que muitos fazem promessas que sabem que irão quebrar.

— Porque você sempre se isola? — inquiriu Louis sentando-se ao meu lado. Ele estava com uma camisa sem mangas que deixava bem à mostra suas tatuagens nos braços.

— Eu não me isolo, apenas não sou muito boa em "fazer novas amizades" — murmurei, apertando os meus joelhos sentada na areia.

— Comigo não foi tão difícil... — ele disse sorrindo também.

— Claro! — exclamei irônica. — Você sabe que no início eu morria de vergonha, porque definitivamente você é meu primeiro amigo homem. — falei e ele sorriu como se lembrasse de algo.

— Lembro de você praticamente fugindo de mim. Era muito engraçado — murmurou, encarando ao longe a Ana, uma garota linda, que simplesmente "me odeia" e que é ex-namorada do Lou.

— Porque vocês não tentam novamente? — Perguntei quebrando o silêncio, as ondas batendo na areia e se formando ao longe, eu estou realizando o meu sonho a pouco mais de cinco meses, morando nesse paraíso chamado Berkeley, cursando a faculdade dos meus sonhos.

— Arabella...— repreendeu. Apenas não os entendo.

— Amo meu nome inteiro — murmurei fazendo um biquinho na sua direção, o que fez ele sorrir. Mas logo o sorriso sumiu quando ele olhou na direção oposta a mim, segui seu olhar e notei as adagas que Ana lançava na nossa direção com o olhar, ciúmes. Eu imagino que seja.

— Os dois ficam enrolando — murmurei, me levantando em seguida. Bati as mãos de leve no short tirando a areia. Caminhando em direção ao mar, Califórnia sempre foi meu sonho de consumo, principalmente depois de fazer alguns amigos virtuais daqui. Desde então eu tinha colocado na cabeça "Vou estudar em uma faculdade lá" e não foi algo tão fácil assim, mas com uma determinação da porra consegui.

Deixei a água atingir levemente os meus pés, a grande sensação maravilhosa que tenho com o mar não tem muito a ver com entrar nele e sim com ouvi-lo.

— ROTH! — ouvi alguém gritar meu sobrenome, ao olhar para trás meus olhos encontram Natalie, sorri na sua direção acenando em seguida. Volto para a areia, caminhando na direção da minha amiga.

— O que você faz por aqui? — perguntei ao me aproximar da loira, alta e magra, que sonha ser modelo. E está cursando moda.

— Estou de férias, resolvi fazer uma visita. — Ela disse me puxando para um abraço, aumentando meu sorriso.

— É bom saber que ainda existe alguém que goste de mim — murmurei, fazendo-a fazer uma careta.

—Você não vive sem um bom drama, hum? — ela perguntou, e apenas dei de ombros.

— E o Dan? Veio também. — Murmurei, ela deu de ombros fazendo um barulho estranho com a boca.

— Nós terminamos... — Ela disse, eu apenas soltei um "oh". — Mas vamos falar de coisas boas! E você? Já arranjou algum namoradinho?! — ela perguntou, me puxando para um banco afastado da areia da praia.

— Hum, na verdade não, estou bem assim — murmurei corando. — E você? Como me encontrou aqui?

— A vizinha disse que todos tinham saído falando que iam a uma praia, presumi que fosse essa.

— Sempre a vizinha. — Falei, e nós acabamos rindo.

— Sim, ela não gosta muito de vocês — Natalie disse me fazendo rir.

— Ela acha que a nossa casa é um antro de perversão e imoralidade, só porque moram oito meninas — disse bufando em seguida. Eu morava em uma casa cheia de estudantes, apesar da faculdade disponibilizar dormitórios, eu acabei encontrando essa casa, claro que no início meu pai não quis deixar de maneira alguma eu morar com um bando de gente estranha, mas a minha "mana" veio morar aqui. Juntas conseguimos convencê-lo que seria uma boa experiência universitária. Eu a considero a minha irmã de consideração, desde... Muito tempo atrás, nós sempre nos falávamos por meio de mensagens.

— Ela é meio neurótica — sentenciou.

— Mas e então? Como está sua vida de "modelo"? — perguntei. Ela suspirou.

— Nunca imaginei que fosse ser fácil, mas as coisas estão realmente uma loucura, pelo menos já estou trabalhando. O que é muito bom!

— Quando ficar uma "Gisele Bundchen" da vida, não se esqueça das amigas.

— Não se preocupe, irei comprar uma mansão para você nas ilhas maldivas — disse ela e acabamos rindo juntas.

— Você não presta, Lie. Mas e então? Vai ficar até quando? — perguntei, afinal hoje é o último dia do ano de 2014.

— Até dia 3. Vim apenas passar o Ano Novo com a família — ela murmurou, quando ouvimos uma buzina, com uma mulher ao volante. — É a minha carona. Depois nós marcamos um encontro, ok? — Ela perguntou já se levantando.

— Tudo bem — respondi pouco antes de nos despedimos e logo depois ela seguiu caminho até o carro, voltei o meu caminho até onde Louis estava sentado. Ele estava conversando com um rapaz, que estava de costas para mim. Louis acenou, como se estivesse me chamando, mas eu simplesmente congelei quando o rapaz se virou na minha direção. Ele.

Então como se virando uma chavinha, meus pés ganharam vida própria caminhando na direção deles.

— Queria te apresentar uma pessoa. Esse é o Gabriel. Um amigo meu — disse Louis e eu apenas acenei com a cabeça.

Não o conhecia, não pessoalmente. Ele não sabe que foi o motivo de muitos sorrisos meu e ao mesmo tempo de uma angústia que vez ou outra me afligia. Se apaixonando aos poucos, era assim que eu me sentia todas as vezes que eu entrava no seu tumblr. Ou ouvia sua voz fazendo algum cover. Rouca e sensual. Sendo tímida de natureza, nunca mandei nem um simples "oi". E aqui estou eu, olhando nos olhos dele, me vendo obrigada a dizer bem mais do que um "oi" para ele.

Fiquei ali me questionando mentalmente quantas vezes eu não pensei em como seria um encontro nosso? Em como ele me acharia linda e puff se apaixonaria? Em como seria seu tom de pele ao vivo ou como seria suas mãos... Coisas tão simples... Mas agora, eu sinto apenas um nervosismo normal que sempre senti ao ser apresentada a alguém. Sorri dando um sinal claro de "eu sou normal, está tudo bem" e ele sorriu de volta. E o sorriso que antes eu via apenas por fotos, estava ali, realmente na minha frente.

— Oi — Se pronuncia ele.

— Olá — respondi.

E assim acabou a conversa, meus planos criados na mente há algum tempo evaporaram, e eu... Bem, simplesmente deixei evaporar. Sou do tipo que planeja, ensaia, mas nem sempre leva a prática.

Como um anjo, Lou começou a falar sem parar, deixando menos embaraçoso todo aquele silêncio entre nós dois. Louis me conhece bem o suficiente e sabe do jeito que sou perto de "pessoas estranhas". Ele deve ter suposto isso. Em parte não é uma mentira, mas... O problema é que conheço mais do que bem Gabriel Hayes, o que o faz deixar de ser um estranho total. E se tornar um... conhecido.

Continuei ali, mas não incitei nenhuma conversa. Sorrindo e assentindo com a cabeça, fingindo que realmente prestava atenção em toda a conversa. Deixando passar a chance de fazer Gabriel Hayes perceber que sou a pessoa por quem ele deve se apaixonar, oh droga!

Arabella ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora