30. Termos.

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ARABELLA

—... Um longo tempo, ela tinha uns nove anos mais ou menos, era aquele tipo de criança que brincava e colocava apelidos nem tão "legais" nos outros. O irmão da sua madrasta sempre ia na casa do pai dela, ela não morava com o pai ainda, mas sempre ia visita-lo, dormia por lá. Há alguns dias ela inventou um apelido para o irmão da madrasta, Bulldog, era algo engraçado e coisa de criança, ela ria muito quando ele corria atrás dela fingindo estar zangado, só que um dia... Ele foi além, ele correu atrás dela e a derrubou no chão da cozinha, ela não entendeu muito bem quando ele... hugh, pôs a mão dentro da sua calcinha, e muito menos quando tirou aquela peça e colocou a boca lá, foi nojento. Ela se sentiu tão suja depois, com vergonha por ter deixado ele fazer aquilo, mas ela gritou pedindo socorro... Ela pediu, mas ninguém veio... Ela achou que não se importavam, mas só estava ela e o... Max na casa. Só que não ficou só naquela vez... — senti meu corpo ficar tenso e toda uma vergonha me atingir, limpei uma lágrima sem conseguir olhar para o Gabriel, eu sentia tanta, mas tanta vergonha. — Uma vez ele estava bêbado e...

— Shii... — Gabriel me rodeou em seus braços e os soluços não puderam ser escondidos, eu simplesmente chorei. Deixei as dores novamente se transformarem em lágrimas amargas.

— Uma vez ele machucou ela, com o... Dedo, lá... Foi o dia que ela mais chorou por causa daquilo, ela... — um soluço escapou, Gabriel me apertou mais no seu abraço.

— Não precisa falar mais nada, Curly... Shii — sua voz calma, seu tom doce me fez relaxar em seus braços. Fiquei algum tempo ali, sem falar nada além de derramar lágrimas. Eu lembrei de tudo, as cenas antes como um borrão estavam tão nítidas na minha cabeça.

— Desculpe — murmurei depois de um tempo, olhando nos olhos dele. Sua expressão demonstrava um tanto de confusão.

— Você não tem culpa de nada disso, agora eu entendo o porquê da sua preocupação conosco indo rápido demais... Eu que devo pedir desculpas, Curly.

— Eu nunca tinha falado assim pra ninguém, só pro delegado — murmurei colocando meu rosto no seu peito, soltando um longo suspiro, de repente uma paz se alojou em mim.

— Eu me sinto feliz em saber disso. — Seus dedos estavam brincando com meu cabelo — Mas eu gostaria muito de acabar com esse cara.

— Ele se matou — sussurrei, levantando a cabeça e tocando de leve sua bochecha. — Lembra quando a gente começou a falar e eu falei que estava com problemas de família? — perguntei, e ele assentiu com um movimento de cabeça. — Era isso, eu nunca tinha falado disso com ninguém além de mim mesma, era meu segredo obscuro e que eu mantinha porque não queria ver as pessoas que eu amo sofrendo, então guardei ele dentro de mim, nunca tinha denunciado o Max, até que ele sofreu um acidente e a minha ex-madrasta, Evangeline, falou tudo pro meu pai, porque achou que o irmão tivesse morrido. Doeu tanto ver eles sofrendo, sabe? Max se matou, segundo dizem, ele teve medo de ser preso e ser feito de mulher na prisão, essa sim, seria a maior justiça que poderia existir, ele sofrendo pior que me fez sofrer, mas vivo.

— Que vontade de ir no túmulo dele espancar seu corpo, mesmo sem vida. — Seus dedos acariciando meu couro cabeludo me fizeram relaxar em seus braços. — Curly, você deveria ter contado... Ter guardado isso te machucou todo dia durante todo esse tempo.

— Eu sei! Mas a Judy desconfiava, porém eu sempre me mantive calada, eu queria proteger eles.

— Quem precisava ser protegida era você, eles que deveriam te proteger.

— Eu não deixei...

— Então está na hora de deixar, olha pra mim. — O olhei, constrangida. — Eu gosto muito de você e não pensava em estar em um relacionamento agora, eu sou um cara quebrado que ainda não está inteiro para se entregar para outro alguém e eu tenho medo de ser machucado de novo, mas assim como você confiou em mim para falar isso eu confio em você para essa conversa, eu quero muito tentar com você, mas não quero que você faça o mesmo comigo que fez com a sua família, que deixe eu ficar cego e deixar você desprotegida. Foi tão errado e doloroso o que você fez, porque eu ainda vejo essa dor agora. — Senti a verdade em seus olhos, me senti feliz em saber que ele também confiava em mim.

Arabella ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora