42. Querer isso.

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ARABELLA

Fiquei tentando achar algum foco dentro do quarto, mas estava escuro demais para enxergar qualquer objeto que fosse. Gabriel estava possessivamente com a mão na minha cintura conosco deitados na melhor "conchinha" que conseguiríamos. Sua respiração batendo na minha nuca e aquilo me dava uma calmaria desmedida. Peguei meu celular sob a almofada, mesmo com o brilho no mínimo parecia que meus olhos iriam explodir. Estava ardendo. Tentei focar para ver apenas que hora era percebendo ser quase seis horas da manhã. Eu não sabia há quanto tempo eu havia acordado e ficado ali, daquele jeito apenas pensando. Coloquei o celular de volta e me remexi levemente, não querendo acordar o Gabe.

Eu tinha uma filosofia comigo de que, quando se pensa demais, se começa a pensar em coisas desnecessárias. Aquele casal de famosos que você shippa e começa a criar teorias de o porquê não estarem juntos ainda. Ou do porquê não terem dado certo. Se você gosta, pronto. Não precisa sempre tentar achar os porquês de tudo, não é? Então estive ali naquele breu que estava o quarto, apenas pensando. Passei parte da tarde e da noite sozinha hoje, Gabriel havia saído para um trabalho. Fazia tanto tempo que não tinha um tempo sozinha completamente que me senti deslocada, no casarão é as meninas falando a todo instante e bem, quando eu morava com o meu pai o que eu menos tinha era companhia 24h por dia. Eu gostava de ficar sozinha e ficar conversando comigo mesma, aquilo fazia me tornar mais autocrítica, expressar melhor. Apesar de que ensaiei tantas falas que nunca foram realmente ditas a alguém.

Só estava pensando em nada e tudo ao mesmo tempo. Gabriel afrouxou o braço ao meu redor, eu queria muito me levantar e descer, mas isso o acordaria e eu sabia que ele necessitava de um pouco a mais de sono hoje. Lembrei-me da última conversa maia cedo com o meu pai sobre como eu estava me saindo mais responsável do que ele esperava, não o entendi mal, fui altamente mimada por ele e minha bisa. Eles achavam piamente que eu seria aniquilada na vida real, esse era o maior medo da minha bisa na verdade "não saber me virar".

Soltei um longo suspiro, comecei a ver pela cortina que já estava começando a amanhecer, uma vontade alucinada de chorar me assolou. Eu comecei a pensar nela. Não era lá com frequência que pensava na minha mãe, na verdade quase nunca. Só em datas que me lembrassem de ou se alguém tocasse no assunto. Apesar de anos de sua morte e seu rosto ter virado um borrão em minha mente não diminuía a saudade, aquela saudade do que a gente nunca teve sabe? Levar ela no dia das mães da escola... Era uma dessas "saudades". Não é como se eu reclamasse, Jude foi a melhor bisa mãe que eu poderia ter, se eu conheço o amor é porque ela me mostrou como. Então senti as lágrimas molhando minha bochecha. Nos últimos dois dias desde o tal ensaio para a Lucy eu estava me sentindo tão sensível e instável. Tentei segurar as lágrimas até ouvir meu próprio soluço. Senti Gabe se remexendo atrás de mim e fiquei quieta. Não sabia por que estava chorando então não queria ninguém me vendo chorar. Eu odiava que alguém soubesse ou me visse naquela situação, me sentia tão fraca e exposta. O quarto já não estava o breu de antes, a luz amarela cobrindo grande parte daquele espaço, realmente estava amanhecendo.

— Arabella? — a voz completamente grogue de quem acabou de acordar do Hayes me fez rir levemente. Molhei os lábios tentando que minha voz não saísse chorosa. Acordar com alguém chorando do seu lado deveria ser um porre.

— Hum?! — foi o ruído que fiz.

Ele não respondeu apenas me puxou para mais perto roçando aquela barba por fazer na minha nuca descendo até o ombro. Suspirei sentindo-me bem. As lágrimas já não desciam e simplesmente me sentia quente não quente de querer transar loucamente, um quente de reconfortante. Gabriel é meu local seguro, afinal.

Agradeci aos céus por estar de costa para o Gabe, passei as mãos no rosto querendo que os vestígios de lágrimas desaparecessem rapidamente. Entretanto suas mãos me giraram, fazendo ficarmos frente a frente. Intensos olhos castanhos analisavam meus olhos e bochechas. Ah, ele havia percebido? Mas ainda não estava completamente claro o quarto.

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