33. Expectativa.

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ARABELLA

Encarei a tela do notebook sentindo meus olhos coçarem, fazia horas que encarava ele redigindo um trabalho da faculdade para a próxima semana, no calendário no canto direito do eletrônico avisam a data de sábado, quatro horas da tarde.

Senti meus olhos pesarem, mas não deixei me abater continuando a digitar as últimas partes que faltavam. Desde às nove da manhã estava naquela mesma posição, me levantando ocasionalmente para beber água ou colocar mais café na xícara, nem almocei ainda. Mas ao menos o álbum My World Collection do Justin havia me animado um pouco, eu sempre que ouvia One Time fazia os movimentos de um com o dedo igual a ele no clipe, quando ele cantava "one time" sucessivas vezes.

Suspirei, escrevendo o antepenúltimo parágrafo. Anatomia vem sendo minha matéria favorita, mas claro que a professora Sanchez tinha que passar aquele trabalho enorme, ela vinha sendo boazinha demais conosco. Percebi uma mensagem do George no meu celular, respondi rapidamente, era relacionado ao trabalho é o único texano que estuda medicina comigo.

Parei um segundo para realmente pensar no mundo a minha volta e ele me veio a mente. Eu sempre tinha colocado na cabeça que nunca eu conseguiria realmente ter algo com um rapaz, deixar ele passar pelas minhas defesas e atingir meu coração. Aquelas paixonites? Tive muitas, o professor de educação física, uns colegas novos de classe, um primo que não mantenho contato... Um amigo da minha amiga... Um novato na cidade... Um primo da minha prima. James, durante muito tempo achei que amava ele, mas muita coisa eu não sentia por ele. Éramos imaturos demais, tímidos demais. Nenhum deu o famoso primeiro passo, então acabou que não vieram os passos seguintes. Eu considerei ele meu primeiro amor por muito tempo, mas sabe? Eu não era carinhosa com ele, nunca realmente nos falamos ou aprofundamos o que tinha. Era apenas dois pré-adolescente tentando se encontrar e nunca conseguindo. Então ele seguiu em frente e começou a namorar, eu não tentei o mesmo. Achava que era porque gostava tanto dele que não conseguiria assim, tão facilmente, mesmo nunca sentindo a textura dos seus lábios nos meus ou ouvindo seu coração bater bem perto do meu ouvido. Mas na realidade, tudo não passava da minha insegurança infinita em não deixar ninguém se aproximar o bastante para ver a podridão que sou por dentro.

Então, no meio da podridão recentemente alguém começou a plantar flores, não rosas, nem gardênias ou girassóis. Flores, comuns... Talvez? E essa pessoa me fez ver que não é ruim deixar alguém perto o suficiente das coisas ruins que acontecem conosco. Então, as flores estavam desabrochando quando a tal pessoa percebeu que meu lado ruim não pode ser concertado e ela deixou de plantar. As belas flores antes mesmo de nascerem já estavam morrendo e tudo se tornou podridão novamente.

Eu cresci vendo relacionamentos desgastados tentando se revitalizar, mas um sempre se aproveitando da bondade do outro. Cresci achando que os homens só querem usar a mulher. Cresci achando que casamento é uma instituição falida, mesmo com meus bisavós à mais de 50 anos juntos. Cresci achando que ninguém iria me querer e que não me importava com isso. Cresci prezando nunca deixar minha felicidade na mão de outro alguém, um namorado. Cresci com o pensamento fixo que iria morrer virgem e com vários gatos, apesar de preferir cachorros. E não, não era por falta de oportunidade que ainda sou virgem. Mas eu também cresci, completamente contrário a maioria das minhas "crenças", que só deveria me entregar a alguém que realmente valesse à pena, isso com certeza não incluía casamento. Cresci achando que casamento era uma prisão, em que a fêmea tem que se submeter aos caprichos do macho.

Então, quando aquela pessoa começou a plantar as flores, percebi que talvez eu não tivesse o sonho de me casar como a maioria das meninas, mas casar não estaria excluído da minha vida por causa disso. Casamento não era uma prisão ou instituição falida. Namorar alguém, querer o bem de alguém, amar alguém não me torna mais frágil. Me torna mais forte.

Arabella ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora