ARABELLA
Essa ferida, meu bem,
Às vezes não sara nunca
Às vezes sara amanhã.
— Carlos Drummond.
Confusão. Essa com certeza é a palavra que me resume no momento, é o estado em que me encontro, confusa. Peguei meu celular sem intuito de nada apenas para ver se tinha alguma mensagem dele, de certa forma acho que Gabriel havia desistido de me mandar algo. Quero dizer, literalmente estou ignorando-o e não é como se ele fosse um tapado que não entendesse isso. Claro que me sentia mal com a situação, mas a confusão é tanta que o melhor é me afastar. Sei que Louis falou demais, talvez eu devesse me sentir mal por suspeitar de uma morta? Esse é o problema, é como se eu sentisse tantas coisas que não soubesse à final o que são essas "tantas coisas".
Estou sendo infantil ao simplesmente ignorar ele? Acho que é pela vergonha. Porque ele nunca tinha falado? Não é como se isso fosse um dos piores pecados, será que ele a matou? Jogou o corpo pros tubarões e nunca foi encontrado? Oh Deus, eu tenho que parar de ser tão absurda, sou bastante assim quando penso demais, criando teorias bizarras e desde domingo o que mais eu venho fazendo é exatamente isto, pensar.
Queria na realidade sentir algo, ter raiva, ira, querer me sentir muito mal ou fingir que nada aconteceu... Porém é como se nada me atingisse, é como se eu não estivesse sentindo nada e isso me deixa desnorteada, então me afastei. Lembro que conversei com uma amiga portuguesa, o inglês dela é muito bom, sobre isso – com certeza minha psicóloga particular – Tate falou sobre eu simplesmente ter sentido tanto que agora parece que se esgotou. Faz uns dois dias isso, hoje é quinta-feira, e a cada dia que passa parece que o que ela falou faz mais sentido. Mas o problema de ter sentido tanto, é que eu teria que voltar a sentimentos do passado para entender... E isso é algo que não quero mais.
Durante um longo tempo da minha vida eu gostava de ter autopiedade de mim, de ter pena, entretanto nunca queria alguém sentindo isso por mim. É como se você precisasse saber que você é um merda pra se sentir mais merda. Eu sou à pessoa mais estranha e indecifrável do mundo.
— Hey — girei o rosto rapidamente em direção à porta do meu quarto. Havia chegado da Universidade e nem tinha tomado banho, só me jogado na cama. Vi o cabelo curto da Lucy.
— Olá — murmurei colocando os braços cruzados em baixo da cabeça.
— Você está no mundo de quem? No seu particular? Eu estava te chamando há séculos — murmurou e eu apenas sorri amarelo.
— Estava pensando... O que foi? — Ela me olhou estranho mordendo o canto da boca. Aí tinha coisa.
— Ah, só queria saber se você vai sair hoje. — Falou tão baixo que duvidei do que me perguntou.
— Você realmente está me perguntando isso? Quero dizer, sou eu — duvidei.
— Ah, eu só tive curiosidade, afinal você saiu em pleno domingo à noite e faltou segunda na aula —mencionou. Cerrei os olhos a encarando.
— Não, pretendo tomar banho, em algum momento, e depois procurar algo pra fazer, talvez ler algo — declarei. Ela balançou a cabeça afirmativamente e saiu do quarto.
Certo, não sou a pessoa mais estranha do mundo. Lucy Forest é.
Girei meu corpo sobre a cama, sem animo nem pra retirar a roupa que passei o dia todo vestida, encarei novamente meu celular, mordendo o lábio fiquei analisando se deveria mandar uma mensagem pro Hayes. Falando o que? "Ei, então... Louis me falou que sua ex está morta, você a matou e escondeu o corpo? Isso faz o Louis cúmplice?" ou talvez um "Ei, desculpe ter deliberadamente te ignorado nos últimos... quatro dias, foi intencional, é que eu descobri sobre sua ex-morta e não estou sabendo muito lidar com isso, mas nos vemos por aí". Qual é? Ele é meu namorado, o cara que eu confiei depois de tantas coisas. Não poderia simplesmente ser tão idiota com ele. Mas estou no modo idiota, talvez o melhor seja deixar quieto e esperar. Porém o que? Começar a sentir pena de mim mesma? A me sentir patética por ter ficado tão insegura com relação a uma morta? Era como se eu insinuasse que namorasse um necrófilo, isso é nojento.
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Arabella ✓
RomanceQuando eu preciso me proteger da realidade, dou um mergulho profundo em meus devaneios. Eu poderia ser a música que ele quisesse, assim como ele seria minha melodia. Nós nos completamos de uma forma nova e totalmente inesperada. Não procurava por co...