27. Viagem.

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ARABELLA

Fiquei observando o sol forte ao longe, pelas grandes portas de vidro do Aeroporto Intercontinental George Bush, em Houston, Texas. A viagem até aqui foi tranquila, mas quando próximos ficávamos de Wicksville mais tensa eu ficava. Já estávamos praticamente no final do dia vinte e três de dezembro, ainda não me acostumei com o Gabriel vez ou outra me chamando de "senhorita dezenove". É estranho, ele é estranho, somos estranhos, por isso estamos juntos, talvez? Talvez.

Olhei para o lado vendo a Lucy perto do Louis, um conversando em sussurros com o outro, suspirei pegando meu celular e ligando para o Aaron. Já estávamos atrasados praticamente, seriam umas seis horas de carro de Houston até Wicksville, fora que depois iremos para Devers, uma vila de apenas uma rua principal onde fica o rancho da Judy. Não falo muito em Devers, mas eu adorava ir lá quando era criança, fica a mais ou menos uma hora de Wicksville.

— Pensei que nunca fosse atender, Aaron — murmurei, sentindo um par de olhos castanhos sobre mim.

— Eu estava terminando de pôr as minhas malas no carro, já estão prontos aí? — Sua voz saiu com alguns barulhos, parecia que alguém estava falando com ele.

— Priminho, estamos te esperando a umas duas horas, vem logo que quero chegar durante o dia ainda em Wicksville — sentenciei.

— Ué, não vamos direto para Devers? — Sorri com sua pergunta.

— Não, você vai deixar a gente na casa do meu pai.

— Ok, tô chegando.

A ligação foi encerrada, me aproximei mais do Gabriel que me olhava especulativo. Se eu não estavava nervosa, agora eu realmente estou, só espero ninguém falar merda perto deles, até aonde eu sei apenas a Lucy sabe do meu passado borrado.


****

Já no carro, seguindo as seis horas de viagem até Wicksville, me sentei no banco da frente ao lado do motorista, Aaron. Gabriel não parece ter gostado muito do meu primo, só não entendi o porquê ainda. Conosco ia uma outra prima minha, Clair, ela estava próxima demais do Gabe... Demais. Suspirei, parando de ficar olhando para trás e me focando apenas na paisagem passando pela janela do automóvel. Hoje eu tô me sentindo estranha, como se desistir fosse algo mais plausível, porém desistir de quê e por quê? Essa era resposta que eu não possuía, não conseguia me entender, realmente não.

Virei o rosto analisando o perfil de Aaron, ele é irmão da Alicia, e eu sempre o considerei um irmão, nós três fomos criados juntos, se eu tivesse uma mulher amiga além da vó Judy, seria Ally. Aaron é um típico rapaz de vinte e cinco anos, bastante alto, branquelo – tendo um ponto em comum comigo, já que na nossa familia a maioria tem a pele mais amarronzada – cabelos lisos e olhos castanhos. Em uma bochecha tem pequenas marcas de espinhas, ugh. O inferno dos adolescentes, além da escola.
Uma vontade de ouvir música e pensar mais sem realmente chegar a lugar nenhum me atingiu. Peguei meu celular pondo os fones de ouvido, tocava Life is worth living, deixei me acalmar pela notas musicais, com a atenção novamente nas paisagens passando pela janela.

Às vezes, eu realmente não me entendo, sou bem aquele tipo de pessoa que quer todos felizes, sorrindo e odeia ficar mal e fazer, possivelmente, alguém ficar mal junto, alguém que realmente se importa com você e vice-versa. Mas também sou aquele tipo de pessoa que quando está mal quer que os amigos notem e tentem me pôr pra cima, sorrir mesmo sem querer, porque eu sou exatamente assim. Mas esperar dos outros o que você faz é suicídio mental, digo por experiência própria.

Arabella ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora