ARABELLA
Olhei para o céu em nuances de azul e branco, com o foco completamente nos meus pensamentos. A vida é realmente uma caixinha de surpresas, quando você menos espera aquilo que tanto almeja consegue, ou algo melhor do que imaginava. Aquela coisa de que Deus escreve certo por linhas tortas... maior verdade não há. E nem fico pensando nisso porque "aí que tudo, estou namorando", fico pensando em todos os aspectos da minha vida. Em todas as coisas que eu me acostumei a deixar passar e hoje a maioria não me faz nenhuma falta. Amizades que considerei reais, que achei que seriam para sempre... O coleguismo, no caso. Porque amizade verdadeira para mim é para sempre, independente de distância, amigos novos ou antigas, qualquer coisa.
Dois mil e quatorze foi um dos piores anos da minha vida e um dos que eu atingi meu nível mais elevado de drama, não aqueles chatos que dá vontade de bater na face da pessoa, mas aqueles tão críticos que a vontade que se tem é consolar o pequeno ser humano. Ri balançando a cabeça olhando o lado vendo o Gabriel concentrado dirigindo, sorri mais ainda vendo a expressão facial dele, de fofo esse cara não tem nada, mas tão sexy... Ugh, chega a ser irritante. Odeio-o. Brinquei em pensamentos me focando novamente no céu logo acima de nós.
Finalmente o recesso da Universidade havia chegado, então ficarei até dia vinte e cinco na casa do Gabriel. Ri levemente com isso, e em pensar que eu praticamente me impus para ficar com ele esse período. Temos que aproveitar por agora, porque quando começar o período de provas e escolhas de matérias eu ficarei tão atolada nos estudos que não terei tempo pra dormir. Relaxei no banco do carro, esperando chegarmos logo na sua casa.
— Ontem eu sonhei com você — falei como quem não quer nada, vendo as gotículas de chuvas molhando o vidro da janela. Passei os dedos como se fosse atingir a água, possivelmente fria.
— Sonhou? Me conte mais sobre isso. — Era perceptível que ele ria enquanto falava e acabei rindo antes de encará-lo, minhas bochechas corando em seguida.
— Bem, eu estava brincando com você, te irritando... Aí havia um momento que eu te infernizei tanto que me jogou na cama e transamos muito — falei ocultando pequenos detalhes. Ele não riu como eu esperava que acontecesse. Na verdade, os nós de seus dedos estavam ficando branco tamanha a força que apertavam o volante, encarei-o com o cenho franzido, mas o quê?
— Não é um bom momento pra isso, Arabella — sua voz soou tão... Crua. Existia algo ali que eu não soube decifrar e isso fez minha curiosidade ficar aguçada. O que estava acontecendo? Continuei o encarando sem entender nada. O clima estava pesado, havia uma tensão ali. Fiquei o olhando esperando que houvesse alguma resposta, porém tudo que recebi foi o carro sendo estacionado na garagem da casa dele. Finalmente chegamos, pelo menos.
****
Gabriel estava em algum lugar da casa, que não era seu quarto, já que era onde eu estava naquele momento. Me sentia enclausurada com a falta de compreensão do clima tenso que ficou no quarto. Era uma brincadeira, apesar de tudo, por que ele não riu como sempre fazia? Se algo estava incomodando ou se eu fosse esse "algo" eu queria saber, tinha o direito de ser informada. Me foquei em tirar as poucas roupas que eu havia trazido dentro daquela bolsa. Não sabia onde ou como por minhas coisas junto com as do Gabriel então sai do quarto a procura da caixa de pandora, quero dizer, do Gabe.
Eu estava ficando chateada com isso. Muito. E eu costumo ficar muito irritante quando vou ficando assim.
— Gabriel! — exclamei, soando um pouco mimada, não era como se eu não fosse, afinal. Fui criada pela minha bisavó, filha única e primeira neta. Gritei sucessivas vezes pelo nome dele, já começando a realmente me irritar. Que filho da mãe!
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Arabella ✓
RomanceQuando eu preciso me proteger da realidade, dou um mergulho profundo em meus devaneios. Eu poderia ser a música que ele quisesse, assim como ele seria minha melodia. Nós nos completamos de uma forma nova e totalmente inesperada. Não procurava por co...