Perfeição.

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Um despertador, um novo dia, um sonho bom, uma preguiça enorme pra levantar. Uma pessoa chamada eu de manhã. Dez minutos de pura enrolação tentando voltar para o sonho. Sem sucesso, óbvio. Finalmente resolvi levantar e viver. A rotina escolar. Pelo menos é sexta.

Já faz uma semana daquele dia no parque. Hoje tem uma apresentação de um trabalho em grupo para Literatura. Eu fiz um esforço e gravei minhas falas. O grupo? Eu, Yasmin, Júlia, Babi, e o Marcelo, um garoto que ficou sobrando e veio pro nosso. Ele até que é legal e inteligente também. Mas eu acho que ficou um pouco empolgado demais cercado de lésbicas. Sem querer julgar, acho que ele é virgem. Mas isso não me interessa. Vamos ao trabalho.

A apresentação foi ok, recebemos uma boa pontuação, Ju se enrolou toda pra falar, mas nada demais. Depois, antes do intervalo, teve uma aula vaga, que ficamos jogando conversa fora. Fui para umas cadeiras no cantinho da sala mais distante da porta pra ter uma "conversa de melhor amiga" com Ju e notei o quanto sentia falta de ficar daquele jeito com ela. Será que valia mesmo a pena namorar? Olhei pra Yasmin, que ria de algo que uma das meninas por ali falou, e tive minha resposta. É claro que valia a pena, só pelo sorriso no rosto dela, já estava perfeito. Não suportaria vê-la sofrer. Júlia, é claro, percebeu que eu não prestava atenção no que ela dizia.

- É Mari, nós duas apaixonadas, que perfeito. – franzi o cenho pra ela.

- A palavra perfeito não é do seu vocabulário.

- A Babi é tão perfeita que perfeição virou minha palavra favorita.

- Elas são tão perfeitas pra gente não é?

- Mais que perfeitas. Nunca eu tive uma relação onde havia amor sem me sentir sufocada.

- Nem eu.

- Mas a Paula, você gostava dela.

- Nunca me apaixonei por ela, ela que queria compromisso e a chifruda inexperiente aqui foi na onda.

- Ela agiu como uma completa vadia. Ela já sabe da sua pequena?

- A Luíza falou que iria contar, já deve saber. Mas deixa aquela lá.

- Eu sei que você não gosta dela, mas age como se gostasse.

- Eu amo a Yasmin.

- Isso já tá escrito na sua testa. Mas você age como se sentisse algo pela Paula e sufocasse isso no fundo da sua alma, ou sei lá. – Quando a Júlia quer mostrar indiretamente que tinha certeza de algo, ela usa "ou sei lá" no final das frases. Só pra vocês, a única coisa que sinto pela Paula é um asco fora do comum. Ela pensa que eu sinto algum tipo de recalque, e pior, que ainda gosto dela.

- Ela ainda me liga. Só queria que me deixasse em paz. Semana passada mesmo ela ligou algumas vezes.

- Alguma dessas vezes você atendeu?

- Não.

- Considerou atender?

- Sim, mas rejeitei todas as chamadas.

- Mari, eu não acho que você goste dela, eu tenho quase certeza que não, mas eu sei de uma coisa: tá vendo aquela baixinha sorridente ali? Mais da metade dos sorrisos dela são seus, ela te ama com todo o coração, você é a primeira namorada dela. É só um conselho de amiga. Não dá ouvidos à Paula, e se dedique à Yasmin, porque ela sempre vai estar lá pra você, tenho certeza.

- Vou ser sincera Ju, a Paula foi uma pessoa muito boa pra mim antes de namorarmos, e péssima desde então. Ela me magoou muito, mas doeu mais porque eu perdi uma amiga, não só uma namorada. E a Yasmin, eu a quis o minuto que botei o olho nela. Quando ela me beijou sóbria pela primeira vez, foi diferente de qualquer coisa. Quando a gente faz amor temos conexão, não é só tesão ali, é carinho, amor e dedicação também. – Nesse momento Yasmin me olhou e sorriu. Uma sensação boa tomou conta de mim e suspirei daquele jeito bobo apaixonado. – E quando ela sorri, eu me sinto completa, sou capaz de tudo pra que esse sorriso nunca suma do seu rosto. A gente se diverte muito juntas, e antes de tudo, somos amigas e confidentes uma da outra. Não quero que acabe nunca, mas se um dia acabar sei que nunca mais vou achar ninguém igual.

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