Smile

Precisamos Conversar.

Não fiquei pra ver o que Laura falaria pra Ashley, o clima entre nós já estava esquisitinho e eu também não quis vacilar. Mas consegui vê-las se beijando muito, ok, numa pegação louca. Tenho certeza de que vão dar certo, são tão fofas juntas. O teste não demorou a começar. O que a professora/treinadora, que se apresentou como Lara, mandou fazer pra começar? Mandou todas prenderem os cabelos, é claro. Depois, embaixadinha, eu posso? Eu não sei fazer embaixadinha, não passo de três, começamos bem, pelo visto. Júlia só faltou fazer cambalhotas com a bola, botou no joelho, no peito, pescoço, joelho de novo, parecia até um daqueles bonequinhos do FIFA Street, ou o Neymar. Ela estava se achando o Neymar, todo mundo parou pra olhar. Admito, ela é melhor que eu. Infinitamente melhor, pelo menos em embaixadinhas, mas eu me esforço e jogo bonito. Ela tem um talento, faz parecer fácil. Laura e as outras meninas, a maioria que eu só conhecia de longe, faziam o básico com a bola e eu comecei a chutá-la contra a parede do ginásio, pra disfarçar, depois da décima tentativa.

Ela apitou e mandou se juntar em duplas. Júlia foi com Laura, acabei ficando com outra menina que eu descobri depois que se chamava Clara. Clara era muito simpática. Ficamos tocando ali a bola a mando da professora, depois ela juntou todo mundo, brincamos de altinha, sim, de altinha (todo mundo sabe o que é altinha né?). Ela falou que ajudava com domínio e reflexos, era só se entregar ao jogo, ela também brincou. O tempo foi passando ali, a gente foi se divertindo, rindo e se conhecendo melhor. Depois, ela nos separou por defesa e ataque, todas nós (Eu, Júlia e Laura) somos do ataque, Clara da defesa, depois eu descubro o nome do resto, mais ou menos umas dez meninas. No fundo, todas ali sabíamos que isso de defesa e ataque não importaria, a menos que você fosse a goleira. Todas teriam que defender e atacar, Futsal é assim.

Lara tirou as duas goleiras que estavam separadas do grupo e mandou-as formarem times. A baixinha (goleira baixinha? Pois é) esperta que ganhou o par ou ímpar escolhei logo a Ju pra ser do time dela. Ju se levantou, foi até a menina e bateu um high-five simpático com ela, sorrindo preguiçosamente. Clara acabou no time dela, eu e Laura no time oposto.

Cabeças vão rolar.

Claro que não, é só um amistoso. Cabeças rolarão no campeonato, tenho certeza.

O jogo correu bem, eu trocava passes com as meninas, principalmente com Laura, porque simplesmente ela estava ao meu lado o tempo todo, íamos ao ataque, perdíamos o gol e voltávamos correndo pra ajudar a defender. O time adversário fazia basicamente a mesma coisa. A professora apenas observava tudo atentamente. Em um lance, eu não quis marcar o ataque das adversárias e fiquei na linha do meio de quadra, uma bola foi rifada na minha direção, sem dominar, a bola passou. Notei que ela estava indo para o lado esquerdo e sorri, melhor pra mim. Apenas corri sozinha atrás dela até um pouco perto do gol enquanto as do time adversário vinham correndo do jeito que dava, botei força na perna esquerda (a boa, sou canhota) e chutei a bola visando o ângulo direito, onde a goleira não alcançaria. Um gol na teoria. Um golaço pra quem assistia e viu a bola passar despercebida pela goleira (o fato de ela ser baixinha também facilitou) , como um foguete. Sorri orgulhosa. Voltamos à formação inicial para recomeçar o jogo.

Uma morena que eu não sabia o nome e estava na defesa deu um passe lindo (e bem longo) pra Júlia, só que a nossa defesa estava bem armada. Não para o Neymar. Não para a Júlia. Ela driblou uma, meteu entre as pernas de outra e a goleira se jogou em cima da bola. Erro, ela tocou a bola por cima, encobrindo a goleira e fazendo um gol ainda mais bonito que o meu. Que bosta. Ju me deu língua, debochada. E novamente voltamos à formação inicial.

O time da Júlia fez mais dois gols e eu ainda levei uma caneta dela quando estava distraída. Puta merda. Uma garota do meu time, que eu creio que se chamava Ana, tomou a bola da Júlia (da Júlia!) e saiu correndo de lá da defesa até o gol, driblando com estilo quem visse pela frente (umas três garotas). Eu não acompanhei sua corrida e fiquei um pouco atrás, também não tinha esperança de que ela tocasse a bola. Só que a Laura acompanhou, e a defesa não a viu, o que resultou num belo passe da Ana, e gol dela, da Laura. Que saiu correndo e fazendo coraçãozinho para a arquibancada lateral, onde Ashley se encontrava sorrindo pra ela. O amor é lindo.