Epílogo.

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Quase não conseguia acreditar que finalmente era sexta-feira.

Estava sentada na minha cadeira, na minha pequena sala, revendo os últimos papéis e uns designs para ir pra casa depois, pra finalmente descansar. Abri o notebook, mandando um e-mail para uma revista de curiosidades com o modelo base da sua propaganda. Clico em enviar e meu telefone toca.

Sim, eu deveria desligar o celular no trabalho, mas às vezes é algo importante e... Ok, admito, eu não consigo desligar. Mas não é uma norma fiscalizada, então não vai acontecer nada, eu espero.

"Júlia" piscava no visor. Ri da foto dela porque eu, de sacanagem, coloquei a mais ridícula. Sim, eu sou um amor. Achei estranho ela me ligar, já que ela não está nem no Brasil, mas atendi, colocando no viva voz.

- Fala puta, tava dando pras Argentinas aí? – não, isso não mudou. Nem vai mudar.

- Vadia nº1 da minha vida, gostosa, onde você tá?

- No trabalho, Ju, por quê? – eu trabalho numa das maiores agências publicitárias do país, que coincidentemente pertence ao pai da Laura, Lúcio Alcântara, fodão da propaganda, que é meu chefe. Comecei aqui no último semestre da faculdade, e como estagiária, mas pediram pra que eu ficasse e fui promovida a secretária, depois a presidente júnior, que é o cargo onde ainda me encontro. Disse ainda porque luto, batalho e pretendo ser presidente sênior. Por uma questão de ambição, mesmo que meu salário atual seja ótimo.

- Porra, ainda? Cheguei aqui agora vei, tô em casa. – com "casa" ela quis dizer o apartamento enorme que ela divide com a Luana. Pois é, elas ainda estão juntas. Depois que foram convocadas pra seleção brasileira pela primeira vez, e ficaram famosas a nível mundial, resolveram deixar um apartamento aqui, pra ficarem durante as férias. Estavam, até ontem, na Argentina, jogando a Copa América de futebol feminino com a seleção. A sexualidade delas não é novidade, mas o relacionamento não é exposto na mídia, Júlia não quis. Mas obviamente todo mundo desconfia, e elas adoram as fãs que ganharam depois desses rumores.

Meu relacionamento com a Yasmin é aberto pra mídia. E eu estou satisfeita com isso, besteira da Júlia de querer esconder.

- Você também nem pra avisar que tava vindo, né?

- Eu falei que voltava essa semana, e voltava campeã. Acompanhou?

- Menos a final.

- Logo o que interessa, mas nem faz diferença, não fiz gol mesmo.

- Ju, falaí o que você quer logo, tô ocupada.

- Ok. São 19h10min, 20h eu passo aí, sem atrasos. E sem carro, vamos pro bar.

- Mas Ju...

- Por favor palmita, pra relembrar os velhos tempos, achei que você tivesse com saudades de mim também.

- Sim, eu estou, e não me faça parecer velha com esse negócio de "velhos tempos", só se passaram oito anos, eu só tenho 26. – esses anos passados me trouxeram muita coisa.

- Oito anos é muito tempo, oras.

- Depende.

- Você vai comigo né? É uma ordem, e eu preciso conversar com você.

- Cara, eu tô muito cansada e...

- Não quero nem saber, tchau. – ela desligou.

Porra.

Empilho os papéis para levar pra sala do Lúcio, onde ficavam os arquivos. Só pra tudo que chegasse na agência passasse por ele. Alguém bate na porta e eu libero a entrada, vendo minha nova secretária estagiária entrar acanhada. Minha antiga secretária tinha se aposentado, me deixando no dever de contratar uma nova.

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