Hoje não, Faro.

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Acordei, mais cedo que o normal com um pouco de dor no pé. E uma preguiça, sorte minha que era sábado. Espreguicei, estalando as costas (eu sou crocante heuheu) e olhei a mulher nua ao meu lado. Minha namorada, é claro, cuidado com tanta maldade na mente. Sorri com as lembranças do dia anterior, a gente não tem jeito mesmo. Mas nos completamos. Várias vezes, se posso dizer. O cobertor cobria apenas até o meio das suas costas, um pouco vermelhas de alguns arranhões. Minha namorada é, no mínimo, gostosa. Eu acho que gostosa é pouco.

Bom, já foi uma semana do jogo, já aprendi a deixar as muletas perto de mim e também já aprendi a andar direito com elas. Sentei, mas resolvi ir ao banheiro sem muletas mesmo. Não tem problema, eu estou bem. Debrucei-me na pia e olhei minha cara no espelho.

Estou ficando velha.

Peraí, que exagero.

Não velha de verdade, só que, tipo, aquela cara de criança não está mais aqui e eu acabo de perceber isso. Parece que eu fiz 14 um dia desses, mas agora eu tenho 18, moro sozinha, namoro e estou no último ano. Caramba. Eu cresci e estou diferente. Estou adulta.

Falando nisso, que merda eu vou fazer da vida? Eu pensava em cursar música, mas acho que não daria certo, esse é meu hobbie, não algo com que eu quero trabalhar pro resto da vida. Meus pais queriam que eu cursasse medicina, mas eu não quero porque sou irresponsável e não sou simpática na maioria das vezes, como vou lidar com gente, pior, gente doente, o tempo todo? Não conseguiria. E se alguém chegasse coberto de sangue, baleado, com alguma fratura exposta ou sei lá? Eu nunca sei o que fazer nessas situações, e com certeza não ficaria calma, e sim desesperada pela dor da pessoa, o que seria terrível. Ser médica não é pra mim.

Duas opções ainda me dividiam: publicidade e fotografia.

Bom, vamos viver o hoje né?

Decidi tomar um banho frio, lavei o cabelo, saí depois de mais ou menos uma hora enxugando os cabelos e fui empurrada por uma baixinha.

- Achei que não sairia nunca desse banheiro, tava apertada aqui. – Yasmin falou já de dentro do banheiro, dava pra ouvir o xixi dela. Eu ri. Logo, a "cachoeira" dela parou de jorrar lá.

- Foi mal amor. – vesti uma calcinha, um short, uma regata branca e peguei um pente. Sentei na cama e comecei a desembaraçar os cabelos úmidos ainda.

- Agora já foi. Mari, você já deu uma olhada no estado do meu pescoço? – ela me mostrou a marca. Sorri.

- Faz parte, já olhou as costas? – ela estalou as costelas. Yasmin também é crocante.

- Estão ardendo.

- Imagino.

- Como eu sofro.

- Ah tá, você me deixou cheia de arranhão aqui, e quem sofre é você?

- Aonde que eu te arranhei, Marina? Céus.

- Barriga, coxas, bunda etc. – meus cabelos estavam domados, ajeitei novamente com os dedos. Levantei a camisa e mostrei a minha barriga cheia de marcas vermelhas, que, confesso, não doíam. Encostei na cabeceira da cama, quase deitada. – Falando em barriga, eu tô engordando, olha isso. – tinha um pneu em formação na minha barriga, socorro.

- Que neura Mari, isso é normal. – abri a boca num "O".

- Tá me chamando de gorda Yasmin?

- Não, eu disse que é normal porque você está a uma semana fazendo absolutamente nada, de casa pra escola, da escola pra casa, do sofá pra cama, da cama pro sofá. E, pra ser sincera, eu continuo vendo uma barriga sarada e gostosa aí. – ela caminhou até a cama.

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