Vocês têm que conversar.

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Respirei fundo e limpei as lágrimas. Meu celular não parava de tocar e era ela, desliguei-o quando cansei de apertar "rejeitar chamada". Nunca senti tanta raiva daquela mina do time da Fúria que torceu meu pé, não posso ir embora dirigindo. Nem andando.

Mas mesmo assim, resolvi sair dali, ficar escondida não iria adiantar. Havia o risco de topar com ela, mas fazer o que? Tranquei a sala de música (vocês não sabiam que eu estava lá? Era óbvio, onde começamos, fiquei até surpresa dela não ter vindo aqui, já que está atrás de mim) decidida a não destrancar mais aquela porta. Desci, passei pelo jardim, já estava cheio de pessoas, o jogo já devia ter acabado. Saí do colégio e comecei a andar sem rumo, sem querer parar, deixando os pensamentos voarem enquanto caminhava. Eles não queriam sair de certa baixinha de olhos castanhos, mas eu já estou acostumada. Só que agora, pensar nela dói. Caminhada dolorosa essa. Meu tornozelo que o diga.

Parei em frente a uma lanchonete que eu conhecia, mas não frequentava muito. Era um pouco longe da escola. Eu tinha um pouco de dinheiro e meu pé incomodava, então entrei. Pedi um café forte mesmo. Ninguém afoga mágoa num café (nem pede café em lanchonete), mas eu não sou normal. Agradeci à garçonete quando ela trouxe e fiquei olhando a fumacinha saindo da xícara igual a uma retardada.

"Mas você não estava aí toda 'vou seguir em frente, pegar geral, foda-se o resto'?"

Sim, mas eu estou sozinha e enquanto eu estiver sozinha, eu vou sofrer, como agora. Não se importem comigo e a minha loucura. Bebi o primeiro gole da xícara e fiquei sentindo o café descer queimando tudo. Aquilo não iria fazer bem depois, mas foda-se.

Naqueles minutos incontáveis até o café chegar à metade, pensei tanto nela que até comecei a me condenar. Eu não fui dura demais com ela? Ela merecia aquilo mesmo? Eu poderia ter sido um pouco mais compreensiva, tê-la escutado e perdoado e... Não, peraí.

Corna sim (duas vezes), mas corna mansa jamais!

Deitei sobre meus braços e meus pensamentos começaram a gritar. Será que isso não é culpa de alguém? Não tem algo conspirando contra a minha felicidade? Porra, não é possível que eu só me foda. Tem alguém mexendo pra não dar certo.

Não, isso é loucura. Se não deu certo, não era pra dar, certo? Errado, a gente tenta de novo. Porém, pelo menos pra mim, agora é tarde.

Alguém me cutucou. Achei que fosse a garçonete, ela poderia ter pensado que eu tô bêbada e dormi, ou sei lá, mas eu não paguei ainda. Levantei a cabeça, vendo uma das pessoas que eu menos queria ver no momento. Meus olhos ardiam, por isso pisquei diversas vezes, também pra ter certeza de que era ela.

- Paula? – minha voz saiu muito derrotada, ela até fez uma cara meio estranha.

- Oi Marina. O que você faz debruçada numa mesa de lanchonete? – ela parecia preocupada, eu não tinha forças pra discutir, nem pra dar as costas e ir embora dali. – Aconteceu alguma coisa, você tá bêbada? – minha cara tava tão ruim?

- Não, eu só bebi esse café aí. – ela puxou uma cadeira da mesa para bem perto de mim e sentou. – O que você quer, é me deixar pior? – seu rosto foi tomado por uma expressão de confusão.

- Mari, é claro que não! Tudo bem, eu errei feio com você, e aprendi minha lição. Sei que nossa relação jamais voltará a ser o que era, nem a nossa amizade, mas eu não queria que você tivesse esse ódio de mim. E, bom, eu recebi uma ajudinha do destino, encontrando você aqui hoje. Só não esperava te ver tão triste, o que aconteceu?

- Você nem suspeita?

- Não ué.

- A Yasmin me traiu. – não sei por que eu contei aquilo a ela, ela também me traiu. Porque eu estou tão estranha?

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