Capítulo 30

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        Passou a manhã toda inquieta, nervosa. Havia acordado de madrugada no sofá, completamente molhada, excitada, sonhar com Antônia não era mais suficiente. E sabia que sentia uma atração inigualável por ela, que era misturada por sentimentos que Antônia despertava nela, embora a diferença de idade fosse muito grande, as achava tão parecidas, tinham sempre assuntos para tudo, combinavam os gostos musicais, filmes, até programas de televisão. Antônia era a companhia que mais gostava desde que se conheceram, era a pessoa que mais queria perto sempre, porque era bem humorada, entendia suas brincadeiras, tinham uma cabeça muito parecida e Valentina nunca foi do tipo que se sente atraída pelo oposto, ela sempre gostou de pessoas que fossem parecidas com ela, pelo menos em algumas pontualidades. Antônia era a companheira perfeita para tudo, não conseguia imaginar o que poderia querer mais de sua vida.

É verdade que ela sempre foi amorosa, lembrava-se de ter se encantando por ela também há nove anos atrás, mas era totalmente diferente, a mulher Antônia a encantava de um jeito único, jamais em tempo algum conseguiria prever isso. Chegou em Campo Grande achando que encontraria a adolescente espoleta que passou férias em Cântico, e deu de cara com uma mulher decidida e dona de si. Demorou para admitir toda a paixão que se acumulou por ela ao longo desses poucos meses, mas sabia com clareza que se apaixonou desde o primeiro encontro, desde que a viu em Campo Grande, quando conversaram na varanda. A ansiedade que ficou pela chegada dela quando Joana confirmou que ela iria mesmo morar em Cântico, o fato de simplesmente não conseguir ficar longe, fazia de tudo para encontrá-la para vê-la, queria estar perto o tempo todo. O que mais era aquilo que não uma forte paixão?

E era por isso que estava ali batendo na porta de sua casa, queria expor a ela tudo, queria ser clara, queria saber o que ela sentia. Ouvia os latidos de Nicolau, depois de uma manhã inquieta, logo no começo da tarde deixou Roberto em casa foi atrás dela.

Alguns minutos depois era Antônio quem abria a porta. Olhou Valentina de modo desconfiado.

-Oi dona Valentina, o que a senhora precisa?

Não iria corrigir o dona e nem o senhora deixou para la, estava ansiosa.

-Ou Antônio, tudo bem? Eu preciso falar com a Antônia.

Claro que precisa, nesse momento Nicolau correu até ela, eles se gostavam muito. Ela se abaixou e fez vários carinhos nele, até o cãozinho se acalmar e ela se levantar esperando uma resposta de Antônio.

-Ela não está, foi para Maringá com uns amigos, só volta a amanhã.

Aquilo desnorteou Valentina, chegou ali tão decidida, mas sem Antônia não podia fazer nada com sua decisão.

-Com que amigos ela foi? - Nem ela sabia o motivo de tal curiosidade.

Antônio pareceu levemente incomodado, mas respondeu:

-Armando, Leandra, Rose e ... Viviane – Pareceu també enfatizar essa última.

Mais essa agora, devia ter ficado sem saber. Será que Antônia no fim das contas gostou dela? Mesmo tendo acontecido tudo o que aconteceu? Até foram para Maringá, provavelmente com Antônia querendo se livrar dela. Mas como? Foi virando as costas para Antônio, ganhando a calçada rumo ao portão, até esqueceu de se despedir.

-Valentina – Ouviu o senhor a chamar, se virou desanimada para ele – Toma cuidado com a minha filha – Dizia isso em tom ameno – Ela é muito jovem.

Valentina não entendeu, ou fingiu que não, continuou sua caminhada derrotada para o carro, deu partida e foi embora. Não para casa, foi até o pier da capela, ficou escorada no corrimão, lembrando-se do dia da festa, quando Antônia estava solta, feliz, correspondendo completamente ao que ambas queriam. Queria sempre Antônia daquele jeito. Sua racionalidade dizia que ela tinha o total direito de ir e vir quando bem entendesse e com quem quisesse, que ela aparecer com uma namorada era mais do que natural, era inclusive esperado pois qualquer pessoa adoraria namorá-la. Mas o problema era sua emoção, que não aceitava nem imaginar Antônia com outra, que tinha ciúmes, que estava completamente apaixonada, desejosa. Agradeceu por segunda feira já ter uma viagem para São Paulo, voltaria na quarta e talvez voltasse mais leve.

Ficou por horas olhando o horizonte e sentindo saudades.

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Estava até em, distraída, feliz, rindo com os amigos, ficou super feliz quando já era bem noite e Leandra apareceu no bar em que estavam e todos decidiram ir para uma boate. O problema começou quando a casa noturna escolhida, era justamente a mesma casa de vários ambientes que esteve com Valentina pouco mais de um mês atrás, naquele que foi talvez o melhor encontro de sua vida. Todas as lembranças que ela passou o dia evitando vieram a tona.

Estava no bar bebiricando qualquer coisa enquanto todos estavam na pista, quando percebeu Rose se aproximar.

-Vem dançar com a gente – Chamou ela, se encostou no balcão do bar, tal qual Antônia estava e pediu uma cerveja.

-Daqui a pouco – respondeu sem vontade. Rose que não era boba capitou que alguma coisa havia acontecido.

-Você tava toda animadinha até pouco tempo atrás, o que foi? - Deu uma olhada na pista de dança e apontou perguntando – É por causa daquilo ali?

Antônia olhou para onde Rose apontava, viu Leandra e Viviane dançando juntas bem próximas. Percebeu que rolou uma certa tensão entre elas quando Leandra chegou e conversaram um pouco.

-Não, de jeito nenhum – Enfática

A cerveja long neck foi servida e Rose deu um gole, antes de perguntar novamente.

-Tem a ver com a poderosa chefona? - Já tinha certeza da resposta, antes mesmo de fazer a primeira pergunta, Antônia estava com a canudo dabebida na boca e antes de sequer pensar em responder, viu se aproximar um rosto conhecido. A mulher saiu de trás de Rose que tomou um susto com cena.

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora