Capítulo 68

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 Pela fresta aberta que dava visão para o salão do restaurante, viu Lavínia atravessar o local totalmente transtornada, várias pessoas pararam o jantar para vê-la. Armando vinha atrás tentando acalmá-la, mas era em vão. Antônia havia falado com a irmã há poucos minutos e já estava esperando por algo parecido, pela descrição que sua irmã deu de tudo o que aconteceu. Claro que ela ficaria nervosa, a maneira como Joana contou a cena, era para deixar qualquer um transtornado mesmo. Sabia que devia ter seguido seus instintos e ter conversado com ela em São Paulo ainda. Com jeito, com carinho, agora teria que lidar com aquilo. Imaginou que ela fosse procura-la, ou a Valentina, quando Joana contou que ela saiu com o carro.

Largou tudo o que estava fazendo e secou as mãos no avental preto, a viu entrar na cozinha com o rosto inchado, as lágrimas escorrendo, não havia constrangimento algum, ela deixava que as lágrimas lavassem seu rosto, só se dava ao trabalho de esfregar a manga da blusa no nariz, quando o sentia escorrer também. Armando entrou logo atrás dela e imediatamente foi se justificando para Antônia. Os dois pararam na frente dela, próximos a porta.

-Ela veio entrando Toninha, não consegui segurar e...

-Tudo bem Armando – Antônia respondeu calma, vendo Lavínia lançar a ela um olhar que era mágoa, mas também parecia raiva – Eu falo com ela – Falava baixo, não queria que ela se alterasse mais, se é que era possível.

-Tem certeza? – Perguntou Armando, estava verdadeiramente preocupado, mas viu Antônia fazer um gesto com a cabeça permitindo que ele saísse e voltasse ao seu posto, a essas alturas nem estava preocupada com o que os clientes poderiam estar pensando.

-Aqui não é o melhor lugar pra gente conversar, Lavínia, vamos pra minha ...

-Aqui é exatamente o lugar certo pra gente conversar – Lavínia a interrompeu nervosa, além de Antônia, a sua frente, a cozinha toda se estendia, como falava alto, algumas pessoas que ali trabalhavam, tentaram disfarçar, mas prestavam atenção naquela cena inusitada.

-Minha irmã Antônia, a minha irmã – Repetia com voz de lamento, aquilo agoniou Antônia que tentou se aproximar dela, mas quando estendeu suas mãos para tocá-la, ganhou um tapa no braço.

-Lavínia calma, vamos conversar direito...

-Eu não sei nem o que eu quero conversar – Gritava, Antônia começou a se sentir incomodada, viu Dulce se aproximar.

-Precisa de alguma coisa Toninha? – Perguntou preocupada, parada ao seu lado, observava o estado da irmã de Valentina, não estava entendendo absolutamente nada, sabia que Antônia namorava Valentina e ela nunca foi intrusa o suficiente para perguntar como tudo se deu, ouvia apenas algumas fofocas maldosas, mas nada que a interessava.

-Não Dulce – Antônia virou o rosto para ela e acariciou a mão que a colega pousou em seu ombro, como sinal de apoio – Quer dizer, provavelmente vou embora agora, você cuida de tudo aqui pra mim?

-Claro, vai tranquila – Respondeu mansa, Dulce era um anjo em sua vida. Se afastou em seguida e Antônia ouviu em suas costas ela dar ordens para que todos voltassem ao trabalho.

Pode então voltar a atenção para a desgovernada Lavínia, que de repente passou a andar de um lado para o outro em passos curtos.

-Minha irmã, minha irmã – Repetia mais para si mesma, Antônia não sabia ao certo o que fazer, só queria tirá-la dali.

-Lavínia, vamos sair daqui, por favor – Ainda falava de forma mansa, embora começasse a se irritar.

-Agora você quer sair comigo? – Ela parou de andar, ficou de frente para Antônia, ainda chorando – Porque das ultimas vezes, você só me evitou e agora eu já sei porquê. Eu te perguntei Antônia – Falava entre dentes – Te perguntei se você tava apaixonada por alguém e você disse que não. Eu sabia, eu sabia que sua indiferença tinha uma razão...

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora