Réquiem. Capítulo 3

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DOIS ANOS APÓS O ACIDENTE.

Antônia entrou em casa no inicio da noite, sorriu assim que viu Rafaela sentada no sofá da sala a esperando.

- Nossa, você devia ter me avisado que ia passar no mercado, eu te ajudava com as sacolas – Rafaela se levantou rapidamente ao vê-la carregando algumas sacolas, nas duas mãos, era pouca coisa mais alta que Antônia, usava os cabelos cinzas e lisos em um corte curto. Morava no apartamento fazia pouco menos de um ano e viu quando Antônia mudou de emprego, saindo de um restaurante simples para um, pouco mais sofisticado. Ao menos no novo emprego, ela conseguia dar mais opinião, mudar pratos, usar a criatividade que aos poucos ela sentia voltar a ser mais aguçada. Não sabia muita coisa de Antônia, além daquilo que ela queria lhe contar. Foi criada em Campo Grande, passou um tempo fora e há dois anos voltou. Não sabia porquê, ou se havia um motivo especifico para o retorno. Antônia era muito reservada e não gostava nunca de falar sobre sua vida na tal cidade de Cântico, onde sua irmã mais velha vivia. Joana, Joana era ótima pessoa, a viu recentemente na última visita a Campo Grande, mas nem ela parecia confortável em relembrar qualquer momento de quando Antônia viveu em Cântico.

Rose, Leandra e Armando tão pouco. Todos sempre muito discretos e respeitando a individualidade de Antônia, ou seria apenas por que não havia nada a ser dito? Não, Rafaela não conseguia acreditar nisso, Antônia carregava no olhar alguma coisa, alguma tristeza, alguma lembrança. Acordava sobressaltada diversas noites e tinha uma insistente mania de querer ficar sozinha em seu quarto. Possuía em celular velho, o qual ela não largava de jeito nenhum. Será que havia alguma memória ali que ela não queria mostrar? Não sabia, não tinha certeza de nada e sempre que começava a se fazer essas perguntas, tentava ela mesma afogar as dúvidas de uma vida que, na verdade, não lhe dizia respeito.

Única certeza que tinha, é que desde que conheceu Antônia a achou linda, fisicamente e como pessoa. Era ótima companhia, adorava quando estavam apenas as duas no apartamento, assistindo TV na sala e conversando qualquer coisa. Não demorou para que Rafaela percebesse que seu sentimento por Antônia, ia muito além de apenas gostar de sua companhia. Estava apaixonada, completamente. Mas Antônia não a correspondia minimamente, não lhe dava qualquer esperança, nada, parecia sempre arredia quando Rafaela se abria a ela, até desconfortável. Colocou entre elas uma barreira intransponível. Até que um dia ela simplesmente se entregou, se abriu, deixou que Rafaela entrasse em sua vida. Assim, sem mais nem menos. Rafaela não questionou, só queria aquela garota-mulher, para si. Estava apaixonada demais para dar qualquer brecha que pudesse fazer Antônia voltar a colocar a barreira entre elas. Mesmo que a primeira vez que tenham ido para a cama juntas, Antônia tenha chorado copiosamente ao seu lado.

- Me desculpa amor – Dizia uma Rafaela preocupada, Antônia estava de lado na cama, nua. Haviam acabado de fazer amor e a principio, para Rafaela estava tudo bem, mas Antônia se virou de costas para ela e começou a chorar – Eu fiz alguma coisa que você não gostou? – Acariciava suas costas, apoiada nos cotovelos, totalmente preocupada. Ficou tão feliz com o momento de puro arroubo que mantiveram, alguns momentos antes, que até se sentiu egoísta.

Antônia tentou fazer com que as lágrimas parassem de escorrer, passou a mão pelos olhos, esfregou o nariz. Até se acalmar um pouco e conseguir responder.

- Nada não Rafa, eu só ... – suspirou – às vezes eu fico assim depois de ... de ... – Não sabia direito o que dizer, estranhamente, em qualquer outra situação diria alguma palavra chula, riria, faria algum gesto, mas ali estranhamente não sabia como se referir ao que havia acabado de acontecer. Por fim tentou ser delicada para não ofender Rafaela – Depois de fazer amor. Ás vezes eu fico assim, emocionada.

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora