Abraçadas na escada, Valentina e Antônia já se sentiam levemente mais calmas, ao menos não choravam mais. Mas ainda se sentiam próximas, sentiam o coração batendo forte.
- Fiquei tão triste ao saber que o Nicolau morreu – Valentina disse abraçada a Antônia, só a lembrança do animalzinho já a deixou com vontade de chorar novamente.
- Eu também – Antônia sussurrou apenas, estava abalada, por tudo, por ter voltado para casa, por ver Valentina. Pelo o que havia acabado de acontecer entre elas, pelo futuro incerto. Por tudo.
- Nem ele aguentou – Valentina constatou isso mais para si mesma.
- Não – Antônia concordou e vagarosamente as duas foram se soltando.
- Lamento muito por sua mãe – Antônia lembrou-se de repente, disse isso acariciando um de seus ombros. Forte e firme, como bem se lembrava. Percebeu que Valentina a olhava inteira, de cima abaixo, mesmo com ela sentada. Estava sendo admirada.
- Você está tão linda – Valentina disse sorrindo brevemente, disse porque realmente estava reparando no quão linda ela era, e por não querer falar de sua mãe naquele momento. Reparava no vestido que combinava com o tom da pele clara de Antônia, os cabelos castanhos indo até pouco abaixo dos ombros, levemente bagunçados, ainda mais pelo momento anterior delas. Os olhos expressivos, o sorriso lindo que ela deu ao receber o elogio. Antônia era irresistível, seria para Valentina sempre irresistível. Então olhou para si mesma, a calça jeans surrada e larga, a camisa vermelha, mas praticamente desbotada, gasta. Nos últimos dois anos foi a primeira vez em que se olhou e sentiu um certo receio por sua aparência.
- E eu estou horrível – Completou constrangida, abaixou a cabeça – Me desculpe.
Aquilo fez Antônia sorrir mais, boba, pensou. A mão que estava em seu ombro, subiu para seu cabelo longo, nunca tinha a visto com o cabelo tão comprido, nem mesmo quando voltou de Curitiba. Acariciou as mexas, até que Valentina voltasse a encará-la.
- Você está linda - Sincera, Antônia viu que Valentina deu um meio sorriso ainda constrangida, continuou meiga – Eu amei seu cabelo novo...
- Está com metade dos fios brancos e... – Valentina se interrompeu, ficando até vermelha, tamanho constrangimento, Antônia linda e toda vaidosa na sua frente e ela parecendo um cacareco velho.
- Eu adorei eles assim, brancos – Antônia era absolutamente sincera – Adorei as marcas no seu rosto – Deslizou os dedos dos cabelos para o rosto dela, alisava cada marca de expressão, Valentina deixou que ela falasse e a acariciasse – Te deixou mais charmosa – sorria ao dizer aquelas coisas, amava tanto a mulher a sua frente e era capaz de amar cada versão dela que poderia conhecer – E o bronzeado te fez muito bem.
Aquelas coisas fizeram Valentina rir, pela primeira vez nos últimos dois anos, riu com certeza de felicidade, era a capacidade que Antônia tinha que deixa-la diferente, tão rápido. Embora ainda estivesse um pouco constrangida, via tanta sinceridade no olhar exprimido de sua garota, que se acalmou um pouco.
Antônia também reparou que as costas dela estavam mais largas, os braços mais fortes, a camisa que ela vestia era quase grudada ao corpo, o que deixou as formas mais evidentes.
- Esteve morando em uma praia esse tempo todo?
Valentina balançou a cabeça afirmativamente, pegou a mão dela que estava em seu rosto e levou para seus lábios, beijou com delicadeza, várias vezes, Antônia só observava, beijou cada dedo, beijou a palma, aspirou o cheiro gostoso. Ficou segurando-lhe a mão pequena entre as suas e a encarou para completar:
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...