Epílogo - Final

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 Tal qual Valentina, Antônia também só tinha tirado a calça para deitar, a vestiu rapidamente. Precisava correr, Valentina já havia saído com o carro há alguns minutos. Precisava ser rápida para alcança-la.

Voou escadaria abaixo com a carta em seu bolso, deixou a porta da sala aberta ao passar por ela e correu até sua moto. Foi com ela que havia chegado ali na noite anterior. A ligou rapidamente, estava com lágrimas nos olhos, nervosa, muito nervosa. Precisava alcançar Valentina, precisava. Correu com a moto para fora da propriedade, acelerava cada vez mais, quase não enxergando nada a sua frente por conta das lágrimas que embaçavam sua visão. Não vestiu nem o capacete, enlouquecida que estava só se deu conta disso, ao sentir os cabelos ao vento. Mas foi, precisava ir.

E enquanto ia, relembrou as palavras escritas por Valentina.

"Eu não vou conseguir ser feliz aqui Antônia, não vou. Eu entendo tudo o que você me disse, mas eu não conseguirei viver com você e nem comigo mesma nessa cidade. Cântico não é mais minha casa, eu tenho uma nova casa e acredito que ela só seria um lar se você também estivesse nela. Mas isso é algo que você terá todo o tempo do mundo para decidir se quer ou não. Porque eu vou te esperar a vida toda, esperei quarenta e quatro anos para te conhecer de verdade, pra ser feliz realmente, para amar como os escritores gostam de descrever o amor. Como Neruda sempre o descreve... com certeza não terei mais quarenta e quatro anos de vida pela frente, então o que eu tiver que esperar para ser feliz novamente com você, não será nada. Será doloroso, ficar longe de você sempre é, acredite nisso, eu sofro cada minuto, cada segundo, cada milésimo. Cada célula, cada partícula, cada fio de cabelo meu sente a dor de estar longe de você, em todas as vezes que isso foi necessário. Era dolorido nas vezes que te deixei na porta de casa, seja depois do trabalho na loja, seja depois de fazermos qualquer coisa juntas, assim como foi doloroso te ver partir para Curitiba e foi terrivelmente doloroso te deixar para trás e ir embora há dois anos atrás e está sendo agora, mais do que nunca, é a dor maior. Talvez um dia eu saiba te explicar tudo o que sinto e talvez você entenda porque faço isso. Eu nunca vou saber se você vai vir ou não, caso você nunca venha, porque vou sempre, sempre, sempre, sempre, esperar por você, vou olhar o horizonte sempre na esperança de te ver chegar.

Sinto saudades da minha mãe, sinto saudades de Lavínia, sinto saudades do meu pai, sinto saudades de mim mesma e acima de tudo, sinto saudades de você. Sinto saudades do que fomos um dia, mesmo que brevemente, ou suficientemente, do que poderíamos ter sido... Talvez juntas e longe de Cântico nós consigamos resgatar o que já fomos, é o que nos resta agora.

Te amo, muito e para sempre"

Chorava cada segundo mais que entrava em alguma rua e acelerava sua moto, mas não via a caminhonete azul. Quando deu por si estava na ponte do rio Canção, acelerando, esqueceu completamente o trauma e tudo o que fez para evita-la. Mas não via a caminhonete azul, não mais. Quando terminou de atravessar a ponte, se deu conta que não a alcançaria. Parou a moto em prantos. Desceu dela e se ajoelhou no meio da estrada. Para onde ela iria? Como chegaria até ela? Como? Pegou novamente a carta, releu toda, ajoelhada no meio da estrada, só então se deu conta que quase no rodapé, havia uma observação.

"Vá até o píer da capela... "

Não tinha a menor ideia do que aquilo queria dizer, mas juntou seus cacos, secou um pouco das lágrimas e subiu na moto. Retornou novamente pela ponte, se sentindo estranhamente livre e leve ao atravessá-la. Era um maremoto de emoções naquele momento, mas aquela observação a fez sentir que estava próxima de ficar com Valentina, finalmente.

No píer da capela ela andou por tudo, procurando alguma coisa que ela não sabia o que era. No pequeno deck ela andou, segurou o corrimão, viu o rio Canção abaixo de si, realmente tinha inúmeras lembranças daquele lugar, mas nada daquilo significaria longe de Valentina. Onde quer que fosse, poderia fazer novas memórias. E queria, queria novas memórias que não fossem em cima de escombros de mágoas e dores.

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora