8 Meses atrás....
Valentina não estava esperando pela enxurrada de emoções que teve ao ver o pai dentro daquele caixão, sendo velado em uma capela simples na quente cidade de Campo Grande no Mato Grosso do Sul. Foi ali o paradeiro dele nos últimos vinte anos, desde que abandonou a família, os negócios no café e, sem despedidas, foi embora com a empregada da casa, Joaquina. Só foram notar que o seu desaparecimento era uma fuga e que era junto de Joaquina, porque foi ela quem teve a decência de deixar um bilhete ao ex-marido, Antônio, e a filha mais velha, Joana, contando o feito que, por parte dela, era acrescido de levar a filha mais nova, na época com quatro anos, junto com os dois. A capela não estava muito cheia, percebeu algumas pessoas que deveriam ser amigos, vizinhos, colegas de trabalho, qualquer coisa, com cara de pesar e no canto da pequena saleta, Joana abraçava Antônia, filha de Joaquina. Era a pessoa que mais sofria ali dentro, chorava abraçada a irmã mais velha, secando as lágrimas em um lenço. Fazia mais ou menos nove anos que Valentina a tinha visto pela última vez e isso foi em Cântico, no Paraná, sua cidade natal. Era uma adolescente risonha, brincalhona, arteira, sagaz e muito bonita. Apesar da tristeza estampada no rosto, ainda era possível perceber que continuava muito bonita.
Valentina voltou a olhar o pai, talvez Antônia o conhecesse mais do que ela mesma, embora tenha passado
24 anos de sua vida na convivência do pai, os últimos quatro ela havia estado em São Paulo cursando administração, não viu a fuga do pai, não teve como tentar impedir, não esteve perto para saber se ao menos a sua primogênita teria sido avisada com antecedência. Como Antônia só passou a conviver com ele aos 4 anos, tiveram no final das contas o mesmo tempo com ele. Recebeu uma ligação de Enrica, sua irmã do meio, pedindo para que voltasse logo, pois o pai havia fugido, simples assim. Abandonou a faculdade, os amigos, tudo o que havia construído em São Paulo, é bem verdade que estava na reta final do curso, mas os planos para despedida da grande metrópole eram completamente diferentes daquilo.
Hoje não saberia mais explicar o que sentiu na época, ficou em choque por muito tempo, aquilo era tão surreal, seu pai tão pacato, tão ligado as filhas, principalmente a Valentina, a única que se interessava pelos negócios do café, desde menina, sempre ajudando no plantio, na colheita, no preparo dos grãos do café artesanal que fazia grande sucesso aos arredores de Cântico, em algumas capitais do país e até algumas cidades do Mercosul. Valentina adorava, dava ideias, participava, tanto por isso estava se formando em Administração pois sabia que assumiria os negócios em breve, pensava também em cursar Agronomia enquanto ajudava o pai, poderia fazer em Maringá mesmo, para ficar mais próxima, conseguiria ir e voltar todos os dias e... Isso tudo teve que ser deixado de lado, não teve tempo de concretizar mais nada, a fábrica e o plantio, precisavam de mãos administradoras, precisavam dela e Valentina esteve lá. Ficou tão ocupada tendo que colocar tudo em ordem, tendo que se inteirar de tudo sozinha e descobrir exatamente como o pai levava os negócios mais a fundo,
que demorou muito para se sentir realmente triste sem seu pai.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomansValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...