- O fato de eu estar namorando um administrador, nos últimos meses, também tem me ajudado – Enrica contou rindo, ela e Valentina estavam sentadas frente a frente, na mesa da sala de jantar, enquanto tomavam café, a noite começava a despontar. Valentina sorriu pouco. Fazia já algumas horas que Enrica havia chegado na casa de sua mãe, a emoção do reencontro demorou a passar, até que elas conseguissem manter alguma conversa. Valentina deixava que ela falasse e novamente achava estranho que todo mundo parecia querer deixa-la a par dos negócios do Café Almeida. Foi João Pedro quem a avisou do retorno, Enrica contava tudo, como foram os primeiros dias, as primeiras decisões, repetiu inúmeras vezes o quanto Roberto a ajudou. E, finalmente, agora parecia entender alguma coisa, graças ao último namorado. Um administrador de empresas da região.
Percebeu que estava entediando a irmã, ela falava e sorria pouco, apenas escutava Enrica se atropelar nas palavras, estava nitidamente empolgada, feliz, aliviada com a volta da irmã mais velha. Mesmo que ela estivesse tão diferente de quando havia saído dali. Era uma mulher totalmente diferente, e Enrica entendia o porquê. Tinha tanta coisa para dizer a ela, não sabia se aquele era o momento, mas não queria que Valentina sentisse que não era bem vinda ali, porque era. Se fosse necessário nunca mais tocar no nome da Lavínia, Enrica o faria. Sofria muito pela irmã mais nova, queria tanto entender tudo o que aconteceu em seu íntimo para que tomasse uma decisão tão drástica, tão impulsiva, mas era tarde, Lavínia não estava ali, só restavam lembranças, memórias, o seu trabalho registrado. Enrica queria preservar o que ainda tinha, e Valentina estava de volta, não poderia perde-la novamente de jeito nenhum.
- Me desculpa Enrica – Valentina pediu sincera – Me desculpa por tudo, eu só ... não conseguiria ficar aqui – baixou os olhos, se sentia tão culpada por tudo e por todos. Enrica ainda tinha aquele jeito empolgado e feliz dela, mas ela também sofria, não era fácil ter que cuidar de tudo. Valentina se sentia cada vez mais egoísta.
Enrica se levantou da cadeira e rapidamente deu a volta na mesa para sentar ao lado de Valentina. Com as duas mãos segurou um de seus braços. Valentina continuava com os olhos baixados.
- Não precisa se desculpar por nada – Ela dizia meiga, em um fio de voz, novas lágrimas tomavam conta de seus olhos, com uma das mãos, ela acariciou o rosto cansado de sua irmã, se a própria Enrica se sentia esgotada com tudo, imagina Valentina que demonstrava o cansaço nos olhos, nas expressões, na voz arrastada, baixa – Quem precisa se desculpar é o João, que não me contou que sabia onde você estava, só agora – Tentou descontrair o clima com aquela fala, fez com que Valentina a olhasse – Eu estou tão feliz de te ver de novo – Lágrimas escorriam de seus olhos, era tão raro vê-la chorando – Eu amo você minha irmã, nunca duvide disso.
Valentina virou o corpo na cadeira e as duas se abraçaram, era tão doloroso ver Enrica chorando por causa dela. Se abraçaram forte, tanto quanto na hora que Enrica chegou. Valentina sentiu um pouquinho de paz naquele abraço. Um pouquinho de alivio. Assim como quando se separou de Roberto e só Enrica foi capaz de ser compreensiva, entendeu até quando ela explicou sobre Antônia. Agora sentia que só ela a compreendia novamente, além das duas mulheres que deixou em Solitude.
- João só fez o que eu mandei, eu pedi pra ele não contar a ninguém – Valentina explicou, ainda estavam abraçadas, Enrica já estava mais calma do choro.
A irmã queria dizer que entendia aquilo, mas que ao menos poderia saber que ela estava viva e que João sabia disso, saber apenas isso já a aliviaria um pouco. Mas não era momento de cobrar, Valentina já devia fazer aquilo consigo mesma o tempo todo.
- É tão... – Valentina começou, ainda não conseguia verter lágrimas, embora estivesse com a voz tremula, ainda abraçava Enrica, na verdade, quase não queria soltá-la mais – É tão estranho vê-la assim.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...