Valentina estava em choque com a revelação da irmã Lavínia. Apaixonada, apaixonada por Antônia, Deus como podia, apaixonada por Antônia, apaixonada por Antônia. Aquilo martelava sua cabeça enquanto dirigia para a fábrica. Não só Lavínia era apaixonada por Antônia, como a mesma lhe revelou do caso que tiveram... não, não, não, como era possível Antônia sequer mencionar isso. Estava nervosa e um pouco distraída, não percebeu que estava a toda velocidade na estrada que dava acesso da casa de sua mãe até a fábrica de café. Passava rápido beirando o cafezal de sua própria produção, a vista era bonita, embora subisse uma poeira vermelha do acostamento da estrada asfaltada. Asfaltada há poucos anos é bem verdade, mas com o crescimento da visita dos turistas para sua loja e bar que ficavam junto a fábrica e visitações a própria fábrica, Valentina teve que brigar com a prefeitura, até convence los a asfaltar toda a estrada que praticamente só dava acesso a propriedade de sua família e algumas pequenas cidades próximas.
Encostou a caminhota na frente do galpão aonde separavam, moiam e armazenavam o café, o escritório ficava em cima, iria se dirigir a loja e ao bar que ficavam no topo de um morro atrás do galpão de onde tinham toda a vista do cafezal e um segundo acesso da estrada, porém antes que começasse a caminhar até la, ouviu a risada, mais do que comum a seus ouvidos, de Antônia, olhou para trás e ela ria e conversava com alguns funcionários que trabalhavam entre a plantação e o galpão. Nenhum deles se preocupou quando viu Valentina, pois sabiam o quão tranquila a chefe era e tão pouco iria interpretar uma conversa amena e saudável entre funcionários como se estivessem matando tempo. Tentou desfazer um pouco da cara amarrada com que chegou ali e ia começar a caminhar até eles, quando ouviu Roberto lhe chamando. Apenas virou a cabeça para trás rapidamente, fez um gesto e gritou
– Depois Roberto – Voltou a cabeça para a frente e continuou a caminhada até Antônia e os outros funcionários que conversavam.
– Antônia preciso de você – Disse abruptamente, causando um certo estranhamento nos outros funcionários e na própria Antônia – Bom dia amigos, desculpe me a pressa, temos uma entrega urgente.
Os funcionários sorriram, devolveram o cumprimento e aos poucos dispersaram entre os pés de café ainda começando a crescer. Antônia a olhava um pouco curiosa e assustada, Valentina raramente usava aquela aspereza.
– Entrega urgente?- Perguntou Antônia erguendo a cabeça para encarar Valentina que era muito mais alta do que ela. Valentina apenas balançou a cabeça em afirmação
-Sim, vamos – Encarou Antônia, linda como sempre, impressionante como não podia chegar perto daquela garota que todo o seu corpo respondia, mesmo naquele momento que estava nervosa, em choque e surpresa, sentia todas aquelas sensações com as quais havia se habituado nos últimos meses. Os olhos castanhos a boca média, mais fina do que grossa, os cabelos levemente encaracolados quase chegando no meio das costas, o nariz delicado, o cheiro... o cheiro de Antônia era o que mais atiçava todos os seus sentidos, já se fazia um mês ou mais desde que... desde que estiveram juntas pela última vez, mas mesmo sendo evitada por ela, la estavam todas as sensações, todas as sensações que pouco a pouco foi sentido por Antônia ao longo daqueles meses.
Valentina se encaminhava até um carro da empresa, uma Fiorino onde geralmente levavam pequenas encomendas. Antônia olhou a logo do carro "José Almeida". Valentina entrou pela porta do motorista e Antônia pelo passageiro, achou um pouco estranho Valentina sequer olhar o conteúdo do carro, porém imaginou que algum funcionário havia lhe deixado pronto, ela parecia ter muita pressa e estava mal humorada, de cara fechada.
-Coloca o cinto – Valentina ordenou enquanto colocava o seu próprio, ligou o carro e saiu acelerando. Pensava mil coisas enquanto dirigia em alta velocidade, novamente não percebia o quão rápida estava. Pegou a estrada e seguiu, sabia aonde levaria Antônia, não podia ser em nenhum lugar onde ambas ficariam trancadas e a sós, pois não confiava em sua sanidade frente a garota, seus instintos não a deixavam racional quando se tratava de Antônia.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...