Joana apenas observava a irmã colocar suas roupas, cuidadosamente, dentro de uma mala, a mesma que veio com ela de Campo Grande. Sentada em sua cama, não estava nada feliz em ver Antônia, novamente, tendo que mudar de vida, por circunstancias maiores do que sua própria vontade. Joana, particularmente não achava que aquilo era de fato necessário, mas só Antônia sabia o que era melhor pra si própria, o que seria suficiente para deixar aquela história toda para trás. Subjugou a principio o que Antônia sentia por sua amiga, mas cada vez mais tinha certeza que sua irmã estava mesmo apaixonada, amando até, uma história que nunca a levaria a lugar algum. Joana só lamentava, ver sua irmã mais nova, a qual ela sempre quis proteger, tão desprotegida e longe de si, só a deixava mais triste e sem certezas de nada.
Uma das coisas que Antônia mais lamentava ao deixar Cântico, era não poder levar Nicolau, seu companheiro que ultimamente secava tantas de suas lágrimas, o amigo que mesmo silencioso dava todo o conforto que ela precisava em lambidas sutis, em carinhos com o focinho, como se dissesse "Vai ficar tudo bem". E ficar tudo bem era tudo o que ela tentaria em Curitiba. Se conseguiria esquecer o que viveu ali nos últimos meses não saberia, mas ao menos ficaria longe. Tentava ignorar as pontadas no coração cada vez que pensava nisso, em ficar longe, cada roupa que entrava dentro da mala, era uma certeza de que não mais veria o pai, a irmã, Nicolau, os amigos e Valentina com a frequência que via morando em Cântico. Sorriu tristemente ao lembrar que menos de um ano atrás ela arrumava as malas para ir embora e estava também melancólica. Ansiosa. Não tinha ideia de como seria conviver com o pai, como seria ter a família de seu padrasto tão próxima, uma nova cidade, novas pessoas, novos amigos. E agora sentia que estava há anos com tudo isso, se adaptou a tudo tão rapidamente, ela jamais poderia imaginar que meses depois estaria novamente melancólica por ter que deixar uma vida para trás, repetindo os mesmos temores de antes, agora por motivos diferentes.
-Tem certeza que essa pensão que você vai ficar é de confiança? - Joana lhe tirou dos pensamentos, dobrava uma calça de modo a fazer caber na mala apoiada em cima da cama, a mesma que Joana estava sentada observando a irmã. Não levaria tudo, queria levar uma mala apenas, moraria em um quarto de pensão onde nem caberia tanta coisa e tinha a intenção, claro, de voltar a Cântico para visitas esporádicas.
-Foi na própria agência que me indicaram, muitas meninas agenciadas moram la. Se não for bom, eu vou para outro lugar – Acomodou a calça da mala, teve que apertar para fazer caber no canto que escolheu para acomoda-la. Ligou para a tal Stephane que ficou bastante empolgada, já havia agendado uma entrevista para os próximos dias, bem como reservou um quarto na pensão que, também, Stephane indicou. Não estava ansiosa pela empolgação de talvez virar uma modelo fotográfica, mas por experimentar algo que nunca imaginou na vida. Queria contar a Lavínia, mas ela havia ido embora de forma tão rápida, sem se despedir, que preferia esperar um pouco mais. Era tudo ainda tão confuso, queria conversar melhor com Valentina sobre como foi toda a história com sua irmã, mas a mesma nem a procurava mais, foi embora da loja sem se despedir dela e não a via desde a conversa, briga, que tiveram no píer da capela.
Tão absorta estava com sua viagem e acertando os últimos detalhes que quando Rose contou que Jadson havia ido embora no dia anterior, ela nem sequer lembrava-se mais do problema que tinha para resolver com ele, foi um alivio saber que ele se foi sem cumprir as ameaças que fez, mas nem ela e nem Rose imaginavam o que havia acontecido, Rose apenas contou que sem mais nem menos, ele juntou as poucas coisas que tinha e foi embora.
E pensando nisso ouviu batidas na porta da frente de sua casa, viu Joana levantar da sua cama.
-Eu atendo deve ser Atílio, ele disse que queria se despedir de você.
Viu a irmã sair de seu quarto pensando que até Atílio se despediria dela, mas de Valentina ainda não tinha nem sinal. Não era o que ela deveria querer, Valentina longe era o melhor que poderia acontecer para ela, mas quem manda nos sentimentos? Queria os olhos verdes sobre si novamente, queria se envolver nos braços dela uma última vez. O que tudo aquilo significou para Valentina afinal de contas? Não deveria, sabia que não deveria querer vê-la, que Valentina provavelmente estava confusa e magoada com toda a história de Lavínia, mas a indiferença dela até quando saiu da loja, causava uma dor quase física.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomansaValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...