Capítulo 59

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   O mundo girou diversas vezes e rapidamente quando se levantou da cama. O sol que entrava pela janela ajudava a aumentar a dor de cabeça, era um clarão tão forte e tão quente que pensou estar dentro de um forno. Não sabia nem como conseguiu chegar até em casa, mas deu graças, ao olhar ao redor e constatar que estava mesmo em sua casa nova, com Joana ao seu lado. A noite passada foi intensa, lembrava-se apenas de alguns flashs. Joana jogando sinuca, depois dançando em cima da mesa e ela conversando com uma mulher muito simpática e que se dizia caminhonera.

Desceu as escadas que levavam até sua sala e de lá foi para a garagem, seu carro estava ali. Algum anjo as deixou em casa, só podia, não se lembrava minimamente de como chegou, mas estava aliviada por ter chegado bem, pelo menos até o momento sua integridade física parecia intacta. De volta na sala, acabou rindo sozinha, há anos não tomava um porre tão forte, não estava mais acostumada aquela vida de bebedeiras, quando adolescente até gostava de beber um pouco e o fazia sem passar mal, mas agora estava velha demais para dar conta de tanta intensidade. Sentiu um cheiro forte de café vindo de sua cozinha, se encaminhou até la.

-Preciso – disse Joana com a pior das expressões, enquanto passava o café em sua cafeteira, uma das poucas coisas que havia conseguido arrumar em sua cozinha.

-Como chegamos aqui? – Valentina sentou-se em cima do balcão onde Joana passava o café, sua cabeça explodia.

-Não tenho ideia – pegou a jarra com o café passado e serviu em dois copos normais, os mesmos que elas haviam tomado o suco no dia anterior, é, ainda não tinha xícaras.

-Que loucura Jo, parecíamos duas loucas ontem.

Joana permanecia em pé a sua frente após lhe esticar um dos copos com café.

-Não vamos falar sobre isso – Pediu suplicante – Não lembro muita coisa de ontem e o que lembro não me agrada.

Valentina riu antes de se servir de café, apesar de tudo, sentiu que aquela noite foi um divisor de águas em sua vida e o melhor de tudo é que havia sido ao lado de sua grande amiga. Aquilo sim parecia certo.

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Quase um mês havia se passado desde a ida ao Motorock. Valentina resumia sua vida na rotina, trabalhava, ia para casa, nadava muitas vezes, conversava com Denise, visitava Joana, a mãe (brigavam algumas vezes é claro). E era isso, assinou o divórcio e o acordo mantinha a casa em que viveram para Roberto, foi a única coisa que ele aceitou, porém as despesas do filho ficaram todas por conta dela, ainda mais agora com João fazendo cursinho e prestes a completar dezoito anos. Roberto começou a trabalhar em um pequeno escritório de contábeis em Cântico mesmo, ganhava o suficiente para manter a casa e as necessidades básicas do filho apenas.

Aliás, faziam poucos dias que João Pedro finalmente passou a frequentar sua casa, deixou de insistir em manter contato direto com o filho e isso pareceu ter impactado nele de alguma forma, foi ele quem a procurou, chorou, a abraçou, pediu para retomarem a relação e isso foi o que deixou Valentina mais feliz desde que se separou de Roberto. Porém ainda não sabia como abordar a questão que a fez separar-se de seu pai, não sabia como contar a João Pedro sobre Antônia e tudo o que aconteceu com ela nos meses que antecederam o divórcio, chegava a pensar que talvez nem fosse necessário contar nada, nem sabia ao certo quando veria Antônia novamente e tinha plena certeza que nunca retomariam qualquer tipo de relação, então deixar aquilo escondido talvez fosse o mais correto. Roberto não contaria, não o tinha feito até então. Aliás os dois não trocaram uma palavra sequer sobre o divórcio, tudo era resolvido com o advogado dele. Valentina achava aquilo desnecessário, mas compreendia a mágoa do ex e respeitava.

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora