Destino Insólito (Romance Lésbico)

Capítulo 57

  Joana estava exausta, deitada na própria cama, a única coisa que queria era ficar sozinha. Não completamente, pois estava com Nicolau e a companhia dele era a única que interessava. Vitória andava ainda mais nervosa do que de costume, desde que Roberto adentrou a casa dela, para contar, aos prantos que Valentina pediu o divórcio, a mulher era uma bomba em plena explosão. Joana ouviu a conversa, ou melhor, o desespero de Roberto e ficou sem saber o que fazer. Valentina provavelmente precisava de algum apoio, mas desde que ela flagrou sua irmã ela, ainda no natal, a relação de amizade entre elas simplesmente deixou de existir. Joana ficou magoada e estupefata demais, para apenas deixar passar e fingir esquecer que sua melhor amiga fez sua irmã mais nova de amante. E o pior, a única coisa que lhe vinha a cabeça é que Valentina poderia ir atrás de Antônia a qualquer momento. Percebeu que ela ficou dias sem nem sair de casa, completamente sozinha. E foi em um desses dias, quando Vitória finalmente conseguiu tirar um cochilo que Joana aproveitou para ir até a casa da ex amiga.

  O que encontrou, quase a fez desistir de fazer o que foi disposta a fazer, Valentina estava ainda mais magra, completamente abatida, pálida. Teve a impressão que ela não tomava banho há alguns dias. É verdade que desde que Antônia foi embora, ela andava se arrastando, de cabeça baixa, mas agora... era uma Valentina completamente entregue, como nunca viu antes. Mas precisava seguir em frente, precisava deixar seu recado e principalmente proteger sua irmã.

-Não quero entrar – Joana disse parada na porta da casa de Valentina, queria ser rápida, o brilho no fundo dos olhos que viu dela, como se fosse uma esperança, ou talvez uma alegria em ver a amiga procura-la, fez Joana titubear, mas continuou, assumindo um tom firme na voz, enquanto a mulher a sua frente segurava a porta – Só vim saber o que você pretende com essa separação – Percebeu que Valentina ia abrir a boca, não deixou que ela falasse – Eu não quero você atrás da Antônia – Mantinha a firmeza da voz e uma certa rudeza para que Valentina entendesse bem – Ela está bem em Curitiba, está seguindo a vida, está recuperada, não a deixe confusa...

-Eu não vou atrás dela, nem me passou isso pela cabeça – Valentina conseguiu interrompe-la, o fez com delicadeza, apesar de tudo, Joana era ainda muito querida para si, sentiu até um alivio quando a viu, foram apenas alguns segundos de alegria imaginando que contaria com o apoio de sua amiga, que retomariam a amizade, ficou até mais animada, e ai então ela começou a falar. O pior é que Valentina não tirava em nada a razão de Joana, ela tinha mesmo que proteger a irmã, o que Valentina fez, e só agora conseguia enxergar isso, foi baixo, foi vergonhoso, jamais deveria ter colocado Antônia, ou qualquer outra mulher, nessa situação. Porém ela própria já se condenava o bastante, não queria ter que lidar com Joana também, não nesse momento.

-Não me separei por isso – Continuou respirando fundo – Fiz por mim mesma, porque a situação era insustentável, não pensei em momento algum ir atrás da Antônia, a única coisa que quero dela é sua felicidade, que ela siga seu caminho – Tentou dar um meio sorriso, percebeu que Joana ficou sem defesas com as palavras dela, queria tanto a amiga de volta – Pode ficar tranquila, nem tenho contato algum com Antônia.

Aquilo desmontou Joana, achou que teria que brigar com a amiga, insistir que não deveria mais se aproximar de sua irmã, que para Antônia desejava outra coisa e não uma mulher mais velha, divorciada, cheia de problemas para resolver. Não precisou de nada disso. Só brigou mesmo com Antônia. Dias depois de ter ido conversar com Valentina, percebeu que de repente foi perdendo contato com a irmã, não trocavam nem mensagens mais, justo elas que se falavam praticamente todos os dias e as últimas mensagens que Joana enviou nem foram respondidas. Ficou sabendo pelo pai, que Antônia perguntava de Nicolau e até da moto que ficou em Cântico para ele, estranhou. Ligou para a irmã várias vezes sem sucesso. Um dia ao chegar em casa, tentou novamente falar com Antônia e nada de ela atender. Ligou para Valéria a menina que dividia quarto com Antônia, sim ela pediu o contato da garota logo que Antônia chegou em Curitiba. E só então a irmã retornou seus contatos.